35. Fogo amigo

2 0 0
                                    

Meses se passaram e Kurdis se viu obrigado a eliminar dois outros navios dos Varuingos. Àquela altura, havia muita tensão em Dera e uma guerra já estava para acontecer entre as casas comerciais.

— Vamos queimar mais um navio dos Varuingos? — Kurdis indagou a Jargen. Já estavam em alto mar, sendo conduzidos pela dragonesa.

— Não, hoje vamos abater um dos nossos.

— Como assim? Isso não faz sentido!

— Eu quero afastar as suspeitas dos navios desaparecidos... Nada melhor do que abater um dos nossos!

— Você é louco? Vai matar seus próprios homens?

— Não vou matá-los, apenas queimar meu navio. Os meus homens terão sorte e acredito que a maioria vai conseguir escapar sem maiores ferimentos. Além disso, se uma guerra aberta começar, vão morreriam muitos mais do que a tripulação de um navio.

— Eles sabem que nós vamos atacá-los?

— Claro que não! Meus homens não sabem que o que estamos fazendo. É por isso que sempre agimos com discrição. Você vai incendiar e Chirram vai nos levar para longe. Com sorte, eles lançaram os esquifes no mar e sobreviverão.

— Mesmo assim... Um navio custa uma fortuna.

— Eu já ganhei duas fortunas nesses últimos meses, meu amigo. Desde que os Varuingos ficaram desfalcados, a casa Tannis tem conseguido novos ótimos contratos. Nós vamos dar uma folga para o Varuingos e, em breve, atingir nossos outros concorrentes.

— Chirram me disse que sua ambição será a sua ruína.

— Ah, ela lhe disse isso? Que divertido!

— Você acha graça nisso?

— Claro! Há anos ela me diz coisas assim, Daman. Nenhuma de suas previsões jamais aconteceu! Acho que os dragões são assim, adoram contar histórias para nos amedrontar. Acham que somos crianças. Mas estão enganados. A humanidade já superou sua infância há muito tempo. Nossos ancestrais mataram o Deus Dragão. Eles acabaram seu antigo império. Parece que os dragões não conseguiram aceitar sua derrota, até os dias de hoje. Por isso contam essas histórias...

— Ela pode estar ouvindo.

— Não está. Não fala nossa língua.

— Poderia ler seus pensamentos...

— Eu fiz várias cirurgias em Topemari, Daman. Além das minhas guelras, minha mente tem proteção contra telepatia. Como acha que consegui minha posição de chefe da casa Tannis, Daman? Seu tolo...

Eu vou matar esse desgraçado!

Kurdis apertou o cajado olhando para Jargen destilando ódio.

— Você sabe... Se eu não voltar para casa, sua amiga Djista irá sofrer e depois morrer. Melhor guardar essa raiva sua para queimar meu navio mais depressa.

— Um dia desses, Jargen, você vai morrer engasgado com uma espinha de peixe.

— Ah, eu espero poder morrer assim, como meu pai. Quem te contou essa história? Foi o Gustapo? Kravel?

— Kravel.

— É claro... Não tem importância. Vocês dois são próximos, não é mesmo?

— Ele é uma boa pessoa, não sei como aguenta trabalhar para você.

— Meu caro Daman... A grande questão é que todo mundo tem que trabalhar para alguém: os Prampu, Varuingos, Stomeve, Tannis ou pior, para o próprio rei Drenkinou. Entre os poderosos de Dera, não há flor que se cheire, Daman. Quando eliminarmos os Varuingos, Dera será um lugar melhor para se viver.

O Bruxo e a Foice SombriaWhere stories live. Discover now