48. Mestre Huolonk

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Kurdis segurou a garganta. A mão invisível o enforcava elevando-o acima do solo. Li'nan apontava a mão alva e envelhecida na direção do pescoço de Kurdis.

— Você mentiu para mim, Daman!

A voz de Kurdis mal conseguiu sair — Eu menti, mas mudei de ideia...

— Simplesmente não vou confiar num nortenho mentiroso! — Li'nan abaixou a mão e Kurdis caiu no chão. Sua respiração voltou, ofegante. Ele se prostrou diante da feiticeira.

— Eu juro, shin Li'nan... Irei juramentar meu sangue a Goltram!

Jen Huolonk entrou no salão, irritado. — O que pensa estar fazendo, Li'nan? É proibido forçar um discípulo a tomar partido no juramento de sangue!

— Eu não estou o forçando a nada! Ele mentiu para mim. Disse que se entregaria a Goltram...

— O que acabei de ver não me parece nada disso. Vi você torturando um discípulo para ele tomar partido! Isso é inadmissível!

— Eu não fiz nada disso, Jen Huolonk! Ele é blasfemo! Indigno! Precisa ser destruído no Poço de Skat'challur.

— O conselho já decidiu a este respeito. O discípulo irá juramentar seu sangue ao Deus de sua fé e Os Cinco Que São Um irão proferir o julgamento.

Li'nan se ajoelhou ao lado de Kurdis e apertou suas bochechas entre os dedos.

— Você não é digno de Goltram, nortenho mentiroso! Mas não duvido que Sass'zassno'tor possa acolhê-lo apenas para zombar de nossa ordem.

— Já basta! — Jen Huolonk bateu seu tamanco no chão espalhando uma onda de vento no recinto.

Li'nan deixou o local, irritada, estalando a plataforma do sapato alto no assoalho de pedra.

O feiticeiro careca ofereceu a mão gorda para ajudar Kurdis a ficar de pé.

— Lembre-se, Daman. É uma grande honra tornar-se um de nós. A fusão com Carc'limar não é a morte de sua mente. Ela irá fazer parte do nosso coletivo para servir Os Cinco Que São Um.

— Mestre Huolonk... — entre todos os Wux'shein, era por Jen Huolonk que Kurdis sentia maior simpatia. — Se é proibido que um juramentado torture um discípulo, por que Carc'limar pode me torturar para que eu aceite Fre'garzam?

— Carc'limar não pode torturá-lo estando no mais-além.

— Não fisicamente... Mas ele me atormenta, me persegue. Lê todos meus pensamentos, não me deixa em paz. Isso também não configura tortura?

— Entendo, mas ele realmente está lhe obrigando, de algum modo, a escolher Fre'garzam?

— Na verdade, não. Apenas me obriga a prestar o juramento. Estou com muita raiva dele. Por isso que estou pensando em Goltram. Eu sei que ele não gosta de Goltram. Ao menos assim, poderei irritá-lo!

— O juramento é seu, Daman e não de Carc'limar. Ele apenas o trouxe aqui como um candidato.

— Mas agora sou obrigado a prestar o juramento...

— Lembre-se que ninguém o obrigou a tornar-se um discípulo. Eu mesmo expliquei as nossas regras antes que passasse pela iniciação, não se recorda? Eu vi o brilho em seus olhos. Vi sua fome pelo nosso conhecimento. Por acaso não estava claro que se tornar um discípulo era um caminho sem volta?

— Tem razão, mestre. Eu quis trilhar o caminho dos Wux'shein. Mas agora que o juramento de sangue se aproxima, tenho dúvidas.

— Só existem dois caminhos: tornar-se um de nós, ou o Poço de Skat'challur.

O Bruxo e a Foice SombriaWhere stories live. Discover now