My beloved

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Mas o acaso não existe. Quando alguém encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal proporciona, mas a própria pessoa, seu próprio desejo e sua própria necessidade a conduzem a isso.

Hermann Hesse

Seis de novembro de 1888, terça-feira, (...) Inglaterra.

Respiro com força, minha cabeça dói... Abro os olhos, um corte grande rasga meu braço. O que...? Viro meu rosto para cima e tento mexer as mãos, elas estão presas... Presas por algemas negras. Minha visão está borrada. Solto um gemido de dor e escuto passos.

- Por quê...? – Procuro pela voz, um vulto se forma aos meus pés. – Podia ter sido diferente, você podia ter feito de outro jeito... – Minha visão se acostuma, e percebo que o que estava a dificultando é a fumaça densa que se levanta.

- O que...? – Murmuro.

- Você podia ter escolhido meu lado... – A pessoa aos meus pés ri, de um jeito estranho. – Você podia ter vencido, mas se rebaixou ao lixo que se tornou você não era assim... – As palavras demoram a entrar em minha mente.

Ele segura uma espada, a fumaça ao nosso redor muda de tom, o vermelho do fogo fica visível, apoio-me nos cotovelos, isso não é real... É uma memória, provavelmente de quando Jaguadarte foi morto, tsc. Não devia ter dormido.

- Você não era assim... – Encaro-o e meu coração falha. – Cain.

Jared ergue a espada acima da cabeça. A única coisa que consigo fazer e sentir minhas lágrimas escorrendo quando a lâmina encontra meu coração e o trespassa.

XXX

Puxo o ar com força e arqueio minhas costas. Estou na minha cama... Foi um sonho... Deito-me de lado e me enrosco, as lágrimas molhando meu rosto... Maldito Jaguadarte. Deve estar irritado porque eu não lhe perguntei nada e optei por pedir ajuda a Nonsense. Tsc... Pelo menos não acordei atacando ninguém.

Fecho os olhos e respiro fundo para me acalmar. Lilith descobriu o que eu já sabia, aquela idiota, Carroll trabalhou na Christ Church, mas que Alice vivia lá foi novidade... Ela não quis me contar detalhes, mas mesmo assim, tenho quase que total certeza de que ela foi pedir ajuda ao Chess. Suspiro. Se ela se rebaixou a esse nível agora está na minha vez, preciso me encontrar com a loba e fazer com que ela me dê algumas informações.

XXX

- Yue... – Bato na porta e respiro fundo. – Loba...

A porta se abre, Yue sorri os olhos dourados me medem de cima a baixo, fecho a cara.

- O que o traz aqui...? Sono, tédio, falta de vontade de ouvir as lamúrias de sua noiva ou algo mais...?

- Algo mais. – Entro no quarto sem seu convite. – Quero conversar com a senhorita Loba, algo que espero que a senhorita saiba para me contar.

- Sei de muitas coisas. – Ela dá de ombros e ri.

Seu quarto é vazio, a cama é o único móvel grande e confortável, uma cômoda está com as gavetas trancadas e o roupeiro aberto, poucas roupas estão penduradas, é como um animal tem apenas o necessário, sento-me na cama e sorrio, Yue se senta ao meu lado.

- Como vai...? – Ela murmura os olhos fixos nos meus. – Não estou falando com você. – Ela completa.

- Posso lhe garantir que ele anda muito bem. – Respondo irritado. – Vamos loba, diga-me, sabe algo sobre Carroll?

From Hell - Saga Maurêveilles - Livro doisWhere stories live. Discover now