Trap

130 19 9
                                    

"Todo ser humano é um criminoso em potencial. Nenhum homem é digno de confiança."

Shakespeare.

Onze de novembro de 1888, domingo, (Whitehall Place) Inglaterra.

Aqueles olhos... Encaro as costas do homem quando passo, não pode ser Hamnet, mas aqueles malditos olhos negros, onde mal se dava para distinguir as pupilas da íris eram dele, posso jurar. Abro a porta da Yard e estanco ao olhar a rua do outro lado.

- Pensei que ao abri-la estaríamos em casa. – Murmuro.

- Fique aonde o policial Abberline possa vê-lo. – Scorpio sussurra se abaixando. – Sumir da frente da Yard misteriosamente traria problemas.

Ele apoia uma mão em minhas costas e me empurra para fora, piso no degrau de entrada e engulo em seco, não quero ficar assim tão exposto, não quando não tenho nenhuma forma de me defender.

Uma nuvem negra barra o fraco sol da tarde, isso significa mais chuva. Lilith gruda ao meu lado, parece tão apreensiva quanto eu, descemos a escada e paramos em frente ao prédio quatro, segundo Scorpio, para esperar uma carruagem, tamborilo os dedos em meu braço, porque essa maldita tranquilidade está me irritando?

- Scorpio... – Lilith sussurra, me tirando de meus devaneios. – Tem alguém ali, e está nos olhando.

Viro meu rosto para o lado, em uma viela suja Clarence arregala os olhos e corre.

- Eu o conheço! – Dou um passo, Scorpio me puxa. – Foi ele que me disse sobre Jack!

- Psiii... – Scorpio trinca os dentes e olha em volta. – Não.

Ele se endireita, mas a mão firme em meu braço, como as garras de uma águia, ou as patas de um grifo. Fecho a cara, Lilith me encara e desvia o olhar, tsc.

- Ora vamos! – Me viro para Scorpio. – Eu não vou sair correndo.

- Claro que não. – Ele responde secamente. – Olha nossa carruagem.

Scorpio para o cocheiro e informa um endereço qualquer, me enfiando no coche sem nenhuma gentileza, sento-me perto de uma janela e Lilith senta ao meu lado, Scorpio na outra ponta.

Sorrio, eu não acredito que ele é tão idiota assim.

Espero o coche iniciar seu trote, os cavalos cavalgam em um ritmo lento, espero... Logo eles vão correr, posso abrir a porta e voltar para onde Clarence estava, como também posso ser pego por Chess, mas duvido que ele espere uma fuga de uma carruagem. Os cavalos aumentam sua velocidade, deslizo minha mão pela porta encontrando uma pequena tranca, meu coração bate forte, se eu continuar com essas fugas nunca mais volto a ver a luz do sol, mas... Mas não são eles que vão me prender.

Deslizo o trinco para baixo e me jogo meu tombo não é tão emocionante quanto na minha mente, rolo pela rua lamacenta até parar com os cotovelos e joelhos esfolados, nem espero para ver Scorpio me perseguir, levanto-me e corro de volta atraindo alguns olhares.

Passo pela Yard, se Abberline me pega com certeza eu vou para cela, apresso o passo e viro na esquina que Clarence estava, a viela é mais decrépita que a rua, desvio das velhas que compram frutas podres e sigo em frente, virando outra esquina, com os trovões reboando tanto quanto meu coração.

Paro no final da ruela, sem saída...

- Clarence? – Murmuro.

- Cain. – Escuto um risinho e me viro para trás, meu sangue gelando.

From Hell - Saga Maurêveilles - Livro doisWhere stories live. Discover now