Plotting

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"(...) mas, às vezes, as pessoas ficam confusas, e pessoas confusas podem acabar se perdendo no meio do caminho."

Fábio Moon & Gabriel Bá

Dezoito de novembro de 1888, domingo, (...?) Inglaterra.

Enterro meu rosto no travesseiro, droga... Fecho os olhos e a luz morna da manhã atravessa minhas pálpebras, que raridade não estar chovendo. Gosto como a casa Nonsense tenta realmente ser uma casa às vezes, gosto dessa janela que dá pra lugar nenhum onde só posso ver o céu e o clima lá fora, sinto o peso de outra pessoa na cama, Lilith deve ter voltado, continuo com os olhos cerrados.

- Bem, estou aqui. – Arregalo os olhos repentinamente.

- Caleb? – Recuo, e me sento, ele sorri. – Como você...?

- Você me chamou, pensou em dobrar uma colher com a força da mente ou me chamar, bem, eu achei mais fácil eu vir até você do que a colher se dobrar.

- Rá, rá. – Encaro minhas pernas. – Faz piadas agora?

- Nunca as fiz porque não tive chances. – Caleb ergue as sobrancelhas. – Está melhor? – Ele apoia uma mão sobre sua própria garganta, repito o ato inconscientemente.

- Estou. – Passo a mão pelas faixas. – Consigo falar normalmente como pode ver e ouvir.

- Pois bem. – Caleb encara suas botas pesadas. – Precisa de mim?

- Não. – Encaro o criado mudo e minhas bochechas esquentam.

Ele leu meu pensamento sobre as colheres pode saber que também não confio totalmente nele e que pedi a Barbie para vigiar a Lilith. Respiro fundo e me endireito.

- Pode se retirar. – Viro-me para ele. – Não preciso de seus serviços, foi um teste.

- Cuidado com testes. – Caleb se levanta. – Conhece a história da garota e dos lobos?

- Chapeuzinho Vermelho? – Digo desdenhoso.

- Não essa. – Caleb caminha até a porta. – Uma garotinha tinha que cuidar de sua aldeia durante um dia todo, era sua primeira vez de vigia e ela estava muito empolgada, para testar os aldeões gritou que os lobos se aproximavam, todos correram para defender a vila, mas não havia lobo algum... – Caleb abre a porta do quarto. – Ela fez isso outras vezes, e, ao anoitecer, grandes lobos cinzentos surgiram à beira da floresta, ela gritou por ajuda, mas ninguém foi até ela, e os lobos a devoraram até os ossos.

Caleb sai do quarto, ah... Grande moral. Reviro os olhos e volto a me deitar. Caleb idiota acha que quando eu precisar ele não vai vir tudo bem, já me virei sozinho outras vezes, como Hamnet mesmo disse, lutei com "unhas e dentes". Enterro meu rosto no travesseiro novamente e deixo a luz atravessar minhas pálpebras.

XXX

Sinto o peso na cama novamente respiro fundo e me viro pronto para insultar Caleb, mas não é isso que meus olhos veem, paro por um segundo e o ar escapa de meus pulmões.

- Jared...? – Sussurro.

Ele sorri, está sentado ao meu lado na cama, a luz da manhã que cruza a janela bate em sua pele translúcida. Ele parece o mesmo, as mesmas roupas delicadas, o mesmo cabelo liso sobre os ombros e até as mesmas sardas, a única coisa que falta nele é a cor. É como se Jared tivesse desbotado, ficado mais claro, seus olhos antes tão verdes agora estão cinzentos, mas não como os de Chris foram um dia, abro a boca, mas não tenho palavras. Ele se vira lentamente, como um farfalhar, e sobre sua camisa posso ver a mancha de sangue se expandindo onde antes batia seu coração.

From Hell - Saga Maurêveilles - Livro doisWhere stories live. Discover now