Calm

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"- Talvez os sonhos sejam mensagens – disse um Gêmeo.

- Talvez sejam avisos – sugeriu o outro.

- Talvez sejam sintomas – especulou doutor Cabelinho (...)"

Geraldine McCaughrean

Dezoito de novembro de 1888, domingo, (...?) Inglaterra.

Meu sonho começa de um jeito estranho, sei que estou sonhando e isso é só uma parte do estranho, caminho por um corredor grande, vermelho e preto, existem coisas nas paredes, mas eu não consigo vê-las, meus pés seguem em frente até que param em uma porta grande, ela é negra como o mais puro breu, abro-a e encaro Abel sentado em uma mesinha tomando chá, ergo as sobrancelhas.

- Você? – Sussurro, e me assusto por poder falar em um sonho.

- Olá Lilith! – Abel abaixa sua xícara e sorri. – Chá?

É só um sonho... Aproximo-me e me sento a sua frente, Abel sorri e apoia o rosto nas mãos, a xícara na minha frente se enche com um líquido cor de âmbar, seguro-a e levo aos lábios, mas quando estou prestes a beber seu conteúdo Abel apoia sua mão sobre a xícara e a abaixa, ergo as sobrancelhas, ele ri e tira algo da manga, congelo.

- Sol da meia noite, minha dama. – Ele ri e balança um frasco pequeno nas mãos, afasto a xícara. – Você confia demais.

- É só um sonho. – Cruzo os braços e fecho a cara. – Não é como se eu fosse morrer envenenada em um sonho.

- Será mesmo que é um sonho? – Abel inclina sua cabeça e gargalha. – Você não pode ter certeza. – Ele volta a apoiar o rosto nas mãos. – E se você tivesse bebido e não fosse um sonho... O que faria? – Encaro-o, seus olhos brilham estranhamente. – A quem pediria ajuda? A mim...?

- Nunca. – Bato com a mão contra a mesinha de vidro.

- Mas... – Abel continua, como se eu não tivesse dito nada. – E se essa fosse a bebida do frasco "beba-me", e fizesse você diminuir e diminuir...? Você confiaria em mim? Eu te faria entrar no País das Maravilhas...

Ergo as sobrancelhas, ele pensa por um tempo e depois parece voltar a si, sorrindo estranhamente ele pega minha xícara e a leva aos lábios, estico-me na cadeira e apoio a mão sobre ela, assim como ele fez, Abel sorri e me encara.

- Você não cumpre com o que fala. – Abaixo as mãos, ele pousa a xícara na mesa e vasculha seu bolso atrás de algo. – Olha à hora! – Ele ri. – É tarde... – Abel estala seus dedos e gargalha.

XXX

Abro os olhos e me vejo em minha cama. Não estou mais sonhando, olho em volta, era mesmo um sonho... Eu espero.

Cain abre a porta do quarto, seu rosto está vermelho e ele me parece irritado logo cedo, somente pergunto se ele está bem, e o que tenho como resposta? Um já esperado "pro inferno" e ele se joga na cama, enterrando o rosto no travesseiro, dou de ombros e me levanto.

Desço as escadas e me deparo com a mesa da casa Nonsense vazia, olho para o fogão pesado no canto, tem comida lá, isso quer dizer que Chevonne desceu para cozinhar, mas eles devem ter se retirado rapidamente, talvez estejam em alguma reunião. Vou até o fogão e pego o bule ainda quente, despejo o chá escuro na minha xícara e volto para meu lugar, isso está exatamente como a minha antiga casa, eu sei que as pessoas estão aqui, mas é como se tivessem desaparecido, só eu...

From Hell - Saga Maurêveilles - Livro doisWhere stories live. Discover now