A game

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"O maior problema das lembranças é que a pessoa nunca sabe quando elas vão voltar a atormentá-la."

Madeleine Roux

Dezessete de novembro de 1888, sábado, (...?) Inglaterra.

Lilith morde o lábio, sorrio, já é hora de fazer alguma coisa, e se não posso agir fora da casa Nonsense tenho que agir dentro.

- Primeiramente: sigilo. – Digo para ela. – Eles só vão saber disso quando acontecer, eu não vou me sujeitar a perguntar coisas a Nonsense e ser enrolado como sempre.

- Eu... – Ela encolhe os ombros. – Também não quero mais isso, então, vou ajudá-lo, mas... – Ela me encara irritada e aponta um dedo acusador para mim. – Ainda acho isso arriscado.

- E é. – Me deito e viro-me para a parede. – Mas vou falar disso depois, eu ainda estou fraco... E está ficando difícil falar. Amanhã, certo?

- Certo... – Lilith sussurra e suspira.

Suspiro também, eu não estou tão confiante quanto gostaria, mas não há muito que fazer, ele está na minha cabeça, tudo que eu pensar lhe será compartilhado, o jeito e torcer pelo acaso, ou quem sabe a sorte, sorrir para mim.

XXX

Abro os olhos e sei que não estou realmente acordado, estou em uma cama, sim, mas não em casa, me sento e olho em volta, um quarto escuro, passo as pernas para fora da cama e é então que eu percebo que não estou sozinho... Tem alguém na cama, meu corpo fica todo tenso, escuto o barulho da sua respiração pesada e sinto sua presença... Engulo em seco.

- Aonde você vai...? – Um feixe de luz atravessa alguma fresta e ilumina os olhos da pessoa que está ao meu lado, roxo e verde... Meu sangue gela. – Não vai me deixar aqui, vai?

- É só um sonho adulterado pelo Jaguadarte. – Digo, mais para mim mesmo, e o encaro, o quarto começa a se iluminar lentamente.

Abel apoia o rosto nas mãos e faz bico, ele está usando roupas coloridas, provavelmente as que usa no circo, ele sorri e inclina sua cabeça para o lado, a insanidade dele transborda como ondas a sua volta. Ok Jaguadarte, eu sei que é a vingança por ontem à noite, pode parar com isso.

- O que foi? – Abel estica uma mão e segura meu pulso. – Não gosta mais de mim? Você me mandou jurar lealdade, e eu fiz agora eu quero que você faça o mesmo.

- Pro inferno... – Resmungo tentando me soltar de seu aperto.

- Você tem a minha lealdade agora e você vai fazer jus a ela. – Ele se senta, rapidamente e o seu aperto se intensifica me viro para encará-lo nos olhos, sua outra mão agarra meu pescoço. – Eu vou te seguir até o inferno, você não vai fugir de mim. – Abel trinca os dentes. – Queria que eu tivesse olhos só pra você? Agora você terá.

Ele me empurra e se levanta, desaparecendo do meu campo de visão. Passo as mãos sobre meu pescoço... Isso vai estar horrível quando eu acordar. Encosto meu pé no chão e me levanto, ainda não acordei, caminho, as coisas do quarto vão se formando enquanto ando, apoio as mãos sobre a maçaneta de coração e a abro, dou de cara com um corredor vazio, dou um passo para trás e fecho as portas...

- Jaguadarte... – Não preciso me virar para saber que ele está sentado na cama. – O que você quer?

- Você queria um jogo... – Escuto sua voz gelada e me viro o encarando. – Eu pensei sobre isso.

From Hell - Saga Maurêveilles - Livro doisWhere stories live. Discover now