{PT} Brianna and John's Things-to-Do List

6. FLERTE INOFENSIVO

JOHN

Não era como se John tivesse decidido passear por SoHo de propósito. Era sábado de manhã e o dia estava tão agradavelmente fresco que ele havia decidido usar a bicicleta que ele e Denny haviam comprado no verão do ano anterior para aproveitar o ar livre. O sol já estava alto no céu, emanando luz e calor por toda a cidade uniformemente. Apesar disso, a brisa fresca deixava o passeio muito mais prazeroso, mesmo que a cacofonia de carros, buzinas, berros irritados de motoristas, britadeiras e construções ininterruptas fosse a trilha sonora que embalava a rotina dos nova-iorquinos e dos turistas. Apesar de todo aquele caos, ele era apaixonado por aquela cidade.

John viu várias outras pessoas, inclusive famílias inteiras, aproveitando o final de semana e o clima para fazer atividades ao ar livre ou espairecer da melhor forma que sabiam: fazendo compras. Ele já estava pedalando havia pelo menos uma hora e meia quando percebeu onde estava e o que era o prédio bem diante dele; imponente e cheio de arestas, River Run Gallery se projetava como uma caixa cinzenta cheia de janelas, reluzindo com o brilho e o calor do sol.

A construção em si era bastante minimalista e, talvez por isso, exalasse aquela aura de poder e riqueza que combinava bastante com as fotos que ele havia visto nas redes sociais. O arquiteto que projetara a galeria tinha um objetivo e, comparando aquele prédio com os outros ao redor, ele conseguia entender o motivo. SoHo era uma bairro refinado, todos sabiam disso. Havia butiques de grife espalhadas por todos os lados, assim como outras galerias de arte tão sofisticadas quanto as fachadas de ferro fundido e ruas de paralelepípedos. Restaurantes — cujo preço dos pratos pagaria um mês de aluguel do apartamento que ele e Denny moravam — também se espalhavam periodicamente por todo o bairro. Mesmo com tantas manifestações arquitetônicas diferentes, os prédios ali eram iguais e de uma beleza bastante previsível. River Run Gallery havia sido projetado para se destacar e não para se misturar.

Aquele, provavelmente, não era o mais saudável dos hábitos, mas ali, diante do que poderia ter sido o futuro que ele sempre sonhou desde muito antes de deixar Londres para se mudar para Nova York, ele não se importou. John costumava tomar decisões estúpidas — como a que o mantinha nos Estados Unidos, por exemplo — e tinha ciência de que seu costume masoquista de fantasiar como sua história se desenrolaria se ele tivesse feito algo diferente era algo que ele deveria tratar com um psicólogo. Ainda assim, estacionou sua bicicleta velha e enferrujada junto com várias outras em frente à um restaurante em Chinatown e a prendeu com uma corrente vagabunda que ele havia comprado online. Talvez, se ele tivesse sorte, alguém roubaria aquela velharia e ele poderia finalmente liberar o espaço atrás da porta.

Ele refez o caminho até a galeria a pé, sentindo-se extremamente deslocado com seu boné e tênis surrados, bermuda e camiseta azul cheia de manchas de suor, enquanto todos ao seu redor pareciam ter saído de uma revista com as últimas tendências para o verão. Alguns pares de olhos se viraram em sua direção e ele viu alguns cenhos franzidos em desaprovação, mas ele estava bastante focado em odiar River Run Gallery para que ele se sentisse um pouco melhor por ser um fracassado sem chance de melhora significativa.

Ele não havia trago seu celular e não possuía um relógio, mas com o sol fazendo sua sombra ficar perfeitamente sob ele e com o volume de pessoas nos restaurantes, John deduziu que já estava na hora do almoço. Seu estômago concordou com um resmungo que ele ignorou, subindo os poucos degraus que levavam até a entrada imaculada da galeria. As portas estavam entreabertas e, por um momento, ele se perguntou se queria mesmo fazer aquilo. Talvez fosse a hora de se livrar de hábitos destrutivos.

— Quem sabe na próxima? — murmurou ele para si mesmo, dando um passo em direção ao futuro que ele não poderia ter.