22. BRINCANDO COM FOGO

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JOHN


Alguns dias depois de voltar para o inferno caótico e catastrófico que era Nova York, John encontrou Katherine Howard.

Ele e Denny estavam no Central Park, com Willie correndo atrás de esquilos — e algumas crianças que não respeitavam seu espaço pessoal e achavam que podiam brincar com ele — ou latindo para árvores aleatórias. Fazia muito tempo desde a última vez que eles tinham um momento como aquele, sem mais ninguém, apenas os dois. John sentia falta do amigo, mais do que ele admitiria em voz alta, mas sabia que Denny não aprovava nem um pouco suas escolhas até aquele ponto. Independente do quão paranóico pudesse ser, ele sabia que Denzell Hunter o amava como um irmão e só queria o seu melhor.

O dia estava frio e eles acabaram escolhendo um banco mais afastado, onde o sol da manhã parecia queimar com mais intensidade. Denny lia um artigo complexo sobre o intestino delgado, erguendo os olhos vez ou outra para se assegurar de que Willie não estava destroçando nenhuma criança desavisada. John estava com a sua prancheta, rabiscando a cena diante dele como se estivesse em transe. Ele gostava da sensação; anestesiado e com os olhos ligeiramente desfocados, apenas absorvendo o que ele conseguia ver e adaptando tudo aquilo para a sua versão da realidade. Não era necessário mais do um vislumbre do que que estava diante dos seus olhos para que John conseguisse transformar o mundo em algo palpável, dramático e visceral.

— Ele sente a sua falta — comentou Denny, sem desviar o olhar do seu texto.

John riu, perscrutando o parque até encontrar a personificação canina do Anticristo, latindo agressivamente para um esquilo gordo que havia escalado a árvore mais próxima para ficar longe do alcance do cão infernal em miniatura.

— Eu não acho que o ego dele seja capaz de pensar em outra coisa que não seja a sua própria satisfação pessoal e vontade de matar — admitiu ele, batucando com o lápis na prancheta. — Você sente a minha falta. Admita, Denny.

Ao invés de mandá-lo à merda, Denzell deu de ombros.

— Não é a mesma coisa sem você — disse ele simplesmente, ainda com os olhos fixos no artigo.

John precisou lidar com seu mecanismo de defesa e engolir todas as piadas e comentários sarcásticos que surgiram em sua cabeça. Em vez disso, ele cutucou o melhor amigo com a ponta do lápis e sorriu.

— Também sinto sua falta, seu imbecil — murmurou ele.

— Acho bom mesmo — concordou Denny, arqueando uma sobrancelha. — Eu duvido que Brianna ature suas gracinhas tanto quanto eu.

John comprimiu os lábios.

— Ela fica uma graça quando está furiosa — observou ele.

— Essa garota tem uma paciência super-humana.

— Vocês têm isso em comum.

— Valeu a pena? — perguntou Denny, de repente. — Não estou falando do green card. Eu sei que você não casou com ela só por causa disso.

— O sexo é ótimo — replicou John, sabendo que a resposta babaca não iria dissuadir o amigo. — Não me faça admitir, Denny.

— Você precisa.

John abaixou a prancheta e desviou o olhar para o parque.

— Se eu admitir as coisas vão começar a dar errado — ele não gostou da forma como as palavras saíram, como se tivessem que lutar contra um nó sufocante que havia se instalado em sua garganta. — Eu vou ter que deixá-la antes de tudo ir pelos ares.

{PT} Brianna and John's Things-to-Do ListOnde as histórias ganham vida. Descobre agora