20. ALGO VELHO, ALGO NOVO, ALGO EMPRESTADO, ALGO AZUL

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JOHN


— Você já se perguntou quando você vai se casar? — John não planejou fazer aquela pergunta em voz alta, mas as palavras deslizaram sinuosamente por entre os seus lábios antes de que ele se desse conta do que estava fazendo.

Perseverance Wainwright soltou o ar pelo nariz, esticando os braços e as pernas preguiçosamente enquanto abria a boca em um bocejo articulado. Sob a luz alaranjada do pôr-do-sol sua pele escura quase parecia reluzir, fazendo os dedos de John arderem com a vontade de tocá-lo novamente. Ambos estavam nus, deitados sobre um colchão velho no terraço do prédio onde Percy morava com um colega de quarto alguns anos mais velho que eles. Eles haviam feito amor pela primeira vez naquele terraço, antes mesmo de Percy ser emancipado pelos pais, e aquele era um dos lugares favoritos de John em Londres. Quando as coisas ficavam difíceis, ele gostava de voltar naquele terraço — exceto, é claro, quando o problema era o próprio Perseverance.

— Eu não vou me casar — respondeu-lhe Percy, abrindo os olhos amendoados para encará-lo.

— Não agora — retrucou John, encabulado. — Pelo amor de Deus, nós temos dezesseis anos!

Percy riu, coçando a ponte do nariz longo e aquilino, como se ele tivesse contado uma piada muito engraçada.

— Nem agora, nem depois — seus olhos castanhos encararam o céu, sobre suas cabeças, e ele pareceu admirar os tons de azul, rosa e laranja vivo que manchavam a imensidão com a precisão de um artista extremamente experiente. — E eu não quis dizer que não vou me casar com você. Eu não acredito em casamentos.

John apoiou o cotovelo no colchão e se sentou, franzindo o cenho.

— O que você quer dizer com "não acredito em casamento"? — perguntou ele, confuso. — Não é uma divindade, Percy.

Ele amava os traços mediterrâneos que marcavam o rosto do namorado. Desde o formato dos olhos, do nariz, até o maxilar e o queixo esculpido em pedra. Naquele momento, entretanto, a frieza em seu semblante o assustou.

— Você quer se casar? — perguntou Percy, perscrutando-o como se John tivesse dito que roubava da bolsa de senhorinhas no parque. — Um dia, quero dizer.

Ele hesitou, querendo desesperadamente evitar um novo conflito.

— Um dia — disse por fim, parecendo mais incerto do que gostaria. — Com alguém que eu amo.

Percy riu, mas não havia nenhum traço de humor no gesto, apenas escárnio.

— Casamentos não são sobre amor, John — seus olhos se voltaram para o céu mais uma vez. — Há milhares de anos as pessoas se casam, algumas mais vezes do que outras. É parte do ciclo da vida, certo? Você nasce, cresce, se apaixona e casa com a pessoa com quem você acha que vai suportar passar o resto da vida — sua voz parecia dura e cheia de rancor e, não pela primeira vez, John se perguntou se Percy estava apenas reproduzindo algo que que havia lhe sido dito em algum momento da sua jornada perturbadora até eles se conhecerem. — Casamentos são acordos de negócios. Sempre foi assim, desde muito antes do tempo começar a ser registrado. Se você não tinha vacas o suficiente para manter a sua fazenda, você vendia sua filha para o vizinho e conseguia algumas cabeças de gado em troca.

— Percy...

— A ideia de que você precisa passar o resto da sua existência vivendo em um constante conto de fadas com uma pessoa que você acredita conhecer é assustadora — continuou ele, sentando-se abruptamente. — Casamentos estão fadados ao fracasso, John, porque seres humanos estão fadados ao fracasso. Amor nenhum sobrevive até o "felizes para sempre". O que nós temos é tão mais forte do que isso. Paixão é visceral, destrutiva, volátil. É o que movimenta os filmes, os livros... É o que nos movimenta. Ninguém quer encontrar o amor, as pessoas só confundem o final feliz que elas acham que querem com o desejo de algo que as consuma por inteiro.

{PT} Brianna and John's Things-to-Do ListWhere stories live. Discover now