30. EXORCISMO

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JOHN


Eu já estava me perguntando quando você ligaria — "quando", não "se". Percy era presunçoso demais para sequer cogitar qualquer outra possibilidade. — Por que você demorou tanto?

— Oi, Percy — John suspirou, fechando os olhos. Aquela era a primeira vez que ele ouvia aquela voz em anos e, surpreendentemente, ele não sentiu nada. Além disso, o sotaque francês forçado enquanto ele falava inglês era, no mínimo, irritante. — Como você está?

Ah, por favor, eu nunca fui bom com conversa fiada, você sabe.

— Sempre alheio à coisas mundanas — concordou John, se sentindo exausto com apenas trinta segundos de conversa.

Bom saber que você ainda me conhece tão bem — até mesmo a risada melodiosa de Percy parecia calculada. Como ele havia se apaixonado por alguém tão superficial? — Me diga, você recebeu o convite?

É claro que ele havia recebido. O envelope estava no fundo de uma das gavetas da cômoda da sala desde junho. John não sabia porque havia guardado aquele maldito convite de casamento, mas, talvez, arremessá-lo em uma fogueira fosse ajudá-lo no exorcismo que ele estava tentando fazer.

— Deve ter sido extraviado — comentou ele, simplesmente.

Confesso que esperava que você aparecesse aqui quando o padre perguntasse se alguém tinha algo contra aquela união.

— Ninguém se dispôs à salvar a noiva? — indagou John, sem conseguir se conter. A última coisa que ele queria era alimentar o ego de Percy entrando em seus joguinhos.

Chega de enrolação — Percy se cansava fácil das coisas. — O que você quer, mon amour? A não ser que você esteja em Paris, não acho que eu possa fazer muito por você... se é que você me entende. Espere, você está em Paris?

— Ainda em Nova York — respondeu John, fazendo uma careta de nojo.

Uma cidade tão grande e tão globalizada... uma pena que eles não tenham um pingo de cultura.

— Você me amou? — aquela conversa já estava durando mais do que John gostaria, por isso ele decidiu ser direto.

Ele obviamente havia pego Perseverance de surpresa, porque a resposta demorou alguns segundos para ser formulada.

Pensei que nós já tivéssemos tido essa conversa quando éramos mais novos.

— Nós tivemos — concordou John. — Você disse que o amor estava fadado ao fracasso e que o que as pessoas romantizavam nos livros era a paixão. Paixão é visceral, certo? Ela queima por um tempo e é isso o que as pessoas querem. Tudo o que é bom tem um fim.

Eu não mudei de opinião.

— Não achei que tivesse mudado — admitiu ele, soltando uma risada fraca pelo nariz. — Você realmente acredita no que me disse naquele dia?

Mais um segundo de silêncio.

John — Percy começou e toda a presunção e arrogância pareceu desaparecer da sua voz por um instante. — Se eu achasse que nós teríamos alguma chance, eu teria lutado por você. Você pode não acreditar, mas é verdade. As pessoas magoam umas às outras, é a natureza humana. Eu não queria machucar você, mas também não queria me machucar.

— Você se arrepende? — ele quis saber. — Se arrepende de não ter lutado pela gente?

É isso que você quer? Uma confissão?

{PT} Brianna and John's Things-to-Do ListWhere stories live. Discover now