14. DE JOELHOS

127 11 259
                                    

JOHN


Dorothea Jacqueline Grey era uma força da natureza em cada célula do seu corpo. Desde muito nova, ela sempre gostou de projetos e coisas quebradas. Algumas pessoas poderiam apontá-la como uma jovem de classe média alta, mimada e superficial, com poucos problemas reais em sua vida e, de certa forma, eles tinham razão. Dottie era relativamente rica, John tinha certeza de que ela nunca usara o transporte público em toda a sua vida e, além disso, ela realmente não tinha problemas muito grandes em sua vida. Superficial, entretanto, era uma palavra que não poderia ser aplicada à ela.

Ela sabia exatamente os privilégios que tinha e não hesitava em fazer um bom uso deles, organizando passeatas e arrecadando dinheiro para causas sociais em Londres. Para alguém tão envolta em uma bolha de regalias e que havia acabado de sair do ensino médio, Dottie parecia ter mais consciência do seu lugar na sociedade do que muitas outras pessoas com um currículo muito mais extenso.

Seu maior projeto, entretanto, havia sido sua imagem pública. Dorothea tinha, pelo menos, duzentos mil seguidores no seu Instagram e mais do que o dobro no seu canal no YouTube. Ela havia começado postando vídeos de maquiagem, como outras milhares de jovens que queriam explorar a possibilidade de se tornarem influenciadoras digitais haviam feito. Esses vídeos, entretanto, acabaram progredindo para dicas de moda, vlogs sobre estilo de vida e viagens e debates relevantes sobre tudo o que Dottie achasse relevante e que precisava ser comentado.

"Se eu posso expor um assunto importante para a minha audiência e gerar um debate ou reflexão, por que eu vou ficar calada?", ela havia perguntado durante o último jantar de família que John havia participado, quase quatro anos antes, quando seu pai, tio de John, comentou sobre o posicionamento da filha em relação ao aborto. Aquele assunto gerou uma discussão nada agradável e vários olhares de desdém em direção à Dottie, já que todos a consideravam jovem demais para saber o que estava falando — nessa época, ela tinha quinze anos.

John, bem lá no fundo, admirava a prima e sua coragem. Ele era oito anos mais velho do que ela, mas, mesmo assim, não conseguia deixar de lado o fato de que aquela garota, que parecia ter acabado de sair de um filme da Barbie, era muito mais corajosa do que ele.

Dottie estava lá quando Percy expôs o relacionamento deles e a vida sexual de John para toda a sua família. Enquanto ele parecia sufocar com o peso dos olhares de reprovação e desgosto das pessoas que ele mais amava, ela foi a primeira a acolhê-lo e fazê-lo se sentir amparado.

"O namorado do John não vai ficar para o jantar?". Ela tinha oito anos na época, mas sua curiosidade genuína e a naturalidade com que ela lidou com toda aquela confusão — completamente alheia ao clima tenso que parecia ter explodido ao seu redor — fora o que o impediu de cair no choro como uma criança emocionalmente perturbada. De uma forma esquisita e nada convencional, Dorothea sempre tomou conta de John e, vê-la ali, diante dele, depois de tantos anos, parecia quase surreal demais.

Ela havia tingido o cabelo, ele percebeu. As mechas loiras eram curtas e emolduravam o seu rosto fino e delicado. A raíz escura, que muitos poderiam considerar como desleixo, parecia perfeitamente proposital; dava-lhe um ar despojado e despreocupado que contrastava com as roupas meticulosamente escolhidas para manter a estética que ela expunha no seu feed do Instagram. Seus olhos azuis eram os mesmos que ele se lembrava; grandes e intensos.

— É bom te ver também, tio John — disse ela, sorrindo antes de se aproximar e abraçá-lo pela cintura. — Você fez a barba. Parece que você tem quinze anos de novo.

Meu Deus, ele sentira sua falta.

— Tio John? — perguntou Brianna, arqueando uma sobrancelha enquanto John repousava o queixo no topo da cabeça de Dottie.

{PT} Brianna and John's Things-to-Do ListWhere stories live. Discover now