29. TARDE DEMAIS

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BRIANNA


A mente de Brianna precisou trabalhar mais rápido do que nunca durante os minutos em que John, atrás dela, contava sobre a proposta de emprego que havia recebido. Islândia. Naquele momento, o país nórdico pareceu ser o lugar mais distante do mundo, mas aquilo não anulava a magnitude da oportunidade que John havia recebido.

Eu acho que eu te amo, Bree, ele havia dito. Provavelmente, há um tempo, isso teria sido o suficiente para ela. Isso teria sido o suficiente para indicar que eles poderiam ter um futuro. Ao ouvir John dizer aquilo, ela não conseguiu sentir nem o mínimo de felicidade. Talvez ele realmente a amasse, mesmo que um pouco, mesmo que da sua própria maneira... ainda assim, ele havia precisado receber um convite para ir para longe para admitir o que sentia por ela.

John não queria ficar com Brianna – ele queria uma desculpa para não ir embora. Seu medo pelo desconhecido sempre seria maior do que seus sentimentos por ela.

Ela quis ser egoísta, quis dizer que o amava. Pior ainda: ela chegou muito perto de admitir que não havia parado de amá-lo e que eles poderiam dar um jeito de fazer seu relacionamento funcionar à distância, mas sabia que assim que dissesse isso John ficaria satisfeito o suficiente para não sair de sua zona de conforto.­ Brianna jamais se perdoaria se ele sacrificasse seu maior sonho para ficar com ela.

A única forma de fazê-lo ir seria convencê-lo de que ela não o amava mais.

Chegou a ser ridículo o quanto aquilo foi fácil. Ela só precisou dizer algumas palavras, manter a expressão dura como uma pedra, e ele simplesmente... acreditou. Não importava que cada mentira que havia saído de seus lábios doesse como um soco no estômago, porque aparentemente John não a conhecia bem o suficiente para perceber isso. Vá para a Islândia. Talvez lá você consiga alguém que esteja disposto a aceitar suas tentativas. Eles se encararam por poucos segundos, uns dez ou vinte, até John sair do apartamento em silêncio como se nunca tivesse estado lá para começo de conversa.

Ou ela havia sido muito convincente ou ele nunca estivera disposto o suficiente para lutar por ela. Aparentemente, o esforço de ir até ali era o máximo que ele poderia fazer. Devia ter sido humilhante não conseguir o que queria, mas ela sabia que um dia ele a agradeceria por isso.

Era por algo assim que eles haviam se casado, para que John pudesse ter uma grande chance como aquela em sua carreira. Os sentimentos dela não tinham nada a ver com aquela união bizarra, e ela só podia culpar a si mesma por seu coração partido.

— Você precisa parar com isso — Lizzie disse, ao lado dela, mesmo que as duas estivessem em completo silêncio enquanto assistiam à televisão. Brianna olhou para a amiga, confusa. — Eu praticamente consigo ouvir seus pensamentos e isso está me deixando irritada.

Quase quarenta e oito horas haviam se passado desde que John estivera ali. Mais tarde naquela noite, Brianna contou para Marsali e Lizzie sobre o que havia acontecido, mas havia proibido as amigas de dizer qualquer coisa. Ela não queria que suas amigas – que eram mulheres incríveis e que estavam em relacionamentos onde eram amadas como elas mereciam – sentissem pena dela de forma alguma, apenas queria que elas soubessem.

O silêncio de Lizzie sobre o assunto tinha um prazo de validade de dois dias, aparentemente.

— Eu não posso ficar aqui em silêncio apenas assistindo você ser consumida pela própria infelicidade, Bree.

— Do que você está falando? — Brianna franziu a testa e esticou o braço para pegar o controle da televisão, apertando o botão de desligar.

— Não é tarde demais — Lizzie falou — Você ainda pode falar com ele. Você acha que a única forma de John ir para a Islândia é se ele achar que você não o ama mais, isso é ridículo! Por que você precisa sacrificar a sua felicidade pelo trabalho dele?

— Lizzie...

— Ele disse que não pode ter esse emprego e ter você. Que monte de merda — ela revirou os olhos — Vocês nunca ouviram falar em webnamoro? São apenas seis meses, um casamento pode sobreviver à distância com chamadas de vídeo e...

— Lizzie! — Brianna a interrompeu, exasperada — De onde você tirou isso? Você conhece John, você sabe como ele é intenso. Para ele, é tudo ou nada, branco ou preto. Não existe um meio termo. Ele nunca...

— Bem, isso não significa que você não possa tentar. Uma última vez, está bem? — Lizzie segurou as mãos de Brianna e as apertou com força — Não deixe-o ir embora pensando que você não o ama. Se ele não quiser fazer isso funcionar à distância, foda-se ele, então. Não estou dizendo para você ir atrás dele e dizer isso por causa dele, ele não merece. Quero que você faça isso por você. Seja honesta, dê uma chance a si mesma para ser feliz. Eu posso estar morrendo de vontade de socar o Grey pelos últimos dois meses, mas eu não sou estúpida para não admitir que você nunca esteve tão radiante quanto quando estava com ele. Eu quero aquela Bree de volta.

Brianna engoliu em seco, sentindo como se um nó tivesse se formado em sua garganta. Lizzie tinha um ponto, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Aquilo valeria à pena?

— Eu não sei, Lizzie — admitiu ela, sussurrando e piscando com força para afastar a vontade de chorar — Eu sinto como se já tivesse me machucado mais do que o suficiente e desnecessariamente. Se ele me rejeitar de novo...

— Você vai sobreviver — Lizzie a interrompeu, colocando um braço ao redor dos ombros de Brianna e segurando-a firmemente junto de si — Foi isso que você disse para mim e para Marsali, lembra? Você vai aguentar porque é a pessoa mais forte que eu conheço. Se ele disser que não, em breve tudo isso será apenas história. Mas dê ao idiota uma chance de recuperar a mulher mais incrível do mundo. Homens são burros demais para fazerem isso sozinhos, às vezes eles precisam de um pequeno empurrãozinho.

Bree deixou escapar uma risada pelo nariz e fungou, sem saber exatamente porquê as lágrimas haviam começado a rolar por suas bochechas. Poderiam ser de tristeza ou medo, mas também poderiam ser uma consequência da pequena semente de esperança que havia brotado em seu coração naquele momento.

Ela tirou o celular do bolso e, com as mãos trêmulas, selecionou o contato de John. Após apertar na tela para ligar para ele, esperou com o aparelho próximo ao ouvido.

Nada. O barulho na chamada indicou que a linha estava ocupada.

— Ele deve estar falando com outra pessoa — murmurou ela, sentindo um gosto amargo na boca.

— Isso pode ser facilmente resolvido — Lizzie bufou, pegando o próprio celular para fazer uma ligação também. Poucos segundos se passaram até que ela abrisse um largo sorriso: — Dottie! Onde você está? Ah, perfeito! John está aí?

Brianna não havia escutado o que Dottie havia respondido. No entanto, ela soube imediatamente pela expressão de Lizzie que não havia sido uma coisa boa.

— O que foi? — Brianna exigiu saber, impaciente.

Lizzie se despediu de Dottie rapidamente antes de desligar. Quando olhou para Brianna, seus olhos amendoados pareciam cheios de tristeza e decepção.

— John saiu de casa há um tempo... o voo dele é hoje.

{PT} Brianna and John's Things-to-Do ListWhere stories live. Discover now