Capítulo 48

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Tornado e Tempestade puxavam o coche correndo na velocidade que podiam passando por um caminho cheio de empecilhos, tal como a estrada irregular repleta de inconvenientes pedras, além da neve que dificultava a visibilidade melhor do local. No coche, estavam comportados Alessia e Nicholas — que era o condutor —, dirigindo-se ao indeclinável destino. Conhecer Theodore Chevalier, o seu incógnito pai.

Era o irremediável e decisivo dia de Nicholas. Mesmo usufruindo de seus vinte e dois anos, sentia-se novamente como um mero menino desamparado. Finalmente, depois de tanto tempo, conheceria seu pai. Sempre mantivera a imagem a respeito dele, em sua mente, de um homem forte, de aparência modesta, mas acima de tudo, um homem que não o rejeitasse. Apertou as mãos nas rédeas, mui nervoso, ao ponto das veias azuladas sobressaírem na pele. Ao lado dele, uma Alessia que transparecia invejável serenidade, trajando uma confortável capa que lhe protegia do frio. 

— Dará tudo certo, Nicholas. Eu tenho fé de que dará. Estou nervosa, não minto. Minhas mãos estão suadas, meu coração está para sair pela goela, mesmo que a situação sequer me pertença. Mas quero dizer-lhe que a vida é feita por estes pequenos momentos inesperados. Tudo o que você vivenciou lhe trouxe para este ponto.

Nicholas esboçou um sorriso para ela, agradecido pela esperança que ela lhe trazia. Concluíra ele, então, que o alvoroço que fazia em seu coração era insignificante e que havia verdade nas palavras de Alessia. Tudo daria certo.

— Eu nunca imaginei como seria conhecer meu pai, pois sempre imaginei-o feito de sonhos. Vivi como órfão, portanto, não faço ideia de como portar-me na frente dele. E se ele rejeitar-me? Ora, Raio de Sol, não creio que ele aceitará um homem já crescido como filho. E se ele duvidar de quem realmente sou? Temo que possa até mesmo jogar água quente em mim!

— Por mais que desejemos, não há como ler os pensamentos dos outros. Só resta a nós termos paciência e encarar de frente o que está por vir. Mas, Nicholas, quero que saiba que estarei do seu lado.

Nicholas apanhou gentilmente a mão, de forma discreta, e fechou-a em um aperto carinhoso. Contentou-se com um pequeno pensamento de felicidade. Ele nunca tivera nada em sua vida, e sequer, tivera ambição em ser alguma coisa, e naquele precioso instante, estava vivenciando os acontecimentos mais importantes de sua vida. Descobrira que tinha uma mãe, um pai, e também um irmão da qual já não guardava mais rancor, e também, havia do seu lado uma mulher que amava mais do que tudo.

Vivenciava pequenas gotas de felicidade em sua vida.

— Você mesma disse que a ponte para o desconhecido é estreita e difícil de atravessar. Obrigado por atravessar essa ponte comigo.

No entanto, o coche acabara por ficar preso entre algumas pedras salientes, e os pobres Tornado e Tempestade não conseguiam mais puxá-lo. Nicholas e Alessia desceram do mesmo. O tempo estava frio e o vento gélido seguido pelos flocos de neve.

E mesmo com o esforço de Nicholas para retirar o veículo do terreno acidentado, era um esforço em vão, que quase o fez desistir e percorrer o caminho de volta para a Colina dos Ventos Verdes, isso se uma voz amigável não tivesse surgido por entre a cortina de neve, chamando por eles.

Era um homem na casa dos quarenta anos, com um porte firme apesar da idade. Fazia uso de um chapéu preto de abas enormes, o que dificultava a visibilidade de seu rosto. Estava trajando vestes de montaria, quiçá, por estar passeando por aquela área.

— Céus, mais um viajante foi vítima desta estrada cruel — o tal homem desmontou do cavalo, e foi em direção ao coche para ajudar Nicholas. — No três, meu jovem. Um, dois, três.

Com o auxílio do estranho, conseguiram empurrar o coche e tirá-lo da armadilha de pedras.

— Obrigada, senhor — Alessia tratou de agradecer.

Colina dos Ventos VerdesWhere stories live. Discover now