Capítulo 2

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Dois dias após a viagem de Lady Farrell, surgiram na Colina dos Ventos Verdes três figuras pitorescas e espalhafatosas. Eram Clementine, Faustina e Felicia, que consideravam-se como as melhores amigas e confidentes de Alessia. Estavam na sala de visitas da mansão, bem instaladas no canapé, a desfrutar das torradas com geleia de framboesa e o chá de hibisco, sem esperar a anfitriã. Tagarelavam e somente pararam quando Alessia apareceu, e acenou levemente com a cabeça, reverenciando as três que ali estavam. Ela não queria lhes dizer que era uma grosseria servirem-se sem a presença e permissão da proprietária da casa, pois Alessia não gostava de magoar ninguém, e ademais, aquelas damas vinham tantas vezes para a Colina dos Ventos Verdes, que praticamente burlavam as regras de etiqueta com as desculpas de que eram quase parte da família de Alessia. Sentou-se na poltrona acolchoada com almofadas púrpuras, de frente para elas, preparando-se para o interrogatório que estava por vir.

Clementine Smith era rechonchuda, de face rosada com cachinhos castanhos que emolduravam a face. Sempre estava acompanhada por um cãozinho da raça Pug, que tinha um temperamento um tanto desagradável, apesar de pugs geralmente serem dóceis. Clem, como era conhecida e chamada pelas suas amigas, era por demais espontânea e muito abelhuda o que acabava por torná-la extremamente inconveniente, além do fato de possuir uma língua demasiado grande e pronta para fofocas.

 Faustina Byrne era um ano mais nova que Alessia, e era a mais distraída do grupo. "Cabeça de vento" como era apelidada por sua própria família. Vivia a sonhar em ser cortejada pelos rapazes desde que fossem belos e ricos.

E, não menos importante, havia Felicia Byrne, prima de Faustina, e esta tinha um ego mui inflado, pois considerava a si mesma como a mais bela moça do condado, esbanjando suas madeixas em cor castanho-avermelhada e olhos cinzentos. Fingia que gostava de Alessia, mas por debaixo de sua máscara sorridente, a mocinha alimentava um rancor descabido pela outra. Invejava a sua vida, e no mais, desejava ser igual a dona da Colina dos Ventos Verdes. Simulava ser uma boa amiga, mas não disfarçava suas palavras cruéis veladas como conselhos.

— Uma pena que Lady Farrell não está aqui. É sempre deleitável tê-la por perto — Clementine disse, acariciando o pug que estava deitado em suas pernas.

— Oh, o clavicórdio¹ — Faustina levantou-se muito agitada. — Preciso tocar alguma coisa para afastar este clima horrível de tristeza. É uma tarde de chá, e não um velório — e foi para o instrumento que estava no canto da sala, tocá-lo de qualquer jeito.

— Sim, querida prima, toque algo que possa alegrar nossa querida Alessia. Afinal, não é todo o dia que se dispensa um ótimo partido — Felicia abanava-se sem tirar os olhos de Alessia, que estava muito infeliz. — É uma dama muito volúvel, disso eu tenho certeza.

Alessia, pobre jovenzinha, tinha de suportar suas visitas nada agradáveis apenas para não magoá-las. Por mais que as três damas lhe magoassem com palavras e atitudes descabidas como debochar arduamente dela comentando sobre como ela não possuía talento para nada, bem lá no fundo, Alessia sentia pena por elas, pelo seu jeito ridículo e limitado em enxergar o mundo. Além do mais, era constantemente pressionada por Lady Farrell para que mantivesse tais amizades a todo custo, pois segundo a sua madrinha, era uma dama deveras inconstante que nenhuma pessoa sã tinha interesse em se aproximar. 

 E como elas falavam! Atropelavam a fala uma da outra, interrompiam Alessia sem sequer pedir desculpas, e seus risos muito pareciam relinchos de cavalo. Oh, como Alessia trocaria toda aquela conversação desenfreada daquelas três que considerava por amigas por um minuto de quietude, longe das péssimas notas tocadas por Faustina. 

Almejava ser do tamanho de uma lagarta e caber dentro de uma garrafa de vidro. Poderia ser uma garrafa qualquer, desde que fosse larga o suficiente para que coubesse nela. Obviamente, levaria com ela alguns livros e uma xícara de chá. Mas, como tais objetos caberiam dentro de uma garrafa de vidro? Poderia encher tal garrafa com borboletas e sonhos? E como sairia da garrafa? Se estivesse suficientemente confortável, faria da garrafa o seu lar. Oh, e almejava que nevasse pétalas de flores dentro da garrafa imaginária. Plantaria um jardim de tulipas, enquanto lia um de seus livros favoritos...

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