Capítulo 39

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  Alessia tomou uma xícara de chá de camomila com mel feita pela Sra. Callum, desfrutando do silêncio que a noite tinha a lhe oferecer.

— Não fique a noite toda a ler, Menina Alessia, pois senão acordará tarde de novo, ou ficará com enxaquecas.

— Está bem, Sra. Callum. Lerei apenas duas páginas, e, depois, irei para a cama. Estou sem tempo para ler meus inestimáveis livros, devido a peça de teatro do Sr. Saint-Clair estar consumindo o meu tempo e as minhas energias, embora eu não faça nenhum papel relevante e seja apenas figurante na própria história que criei.

Assim que a Sra. Callum deixou-a sozinha, Alessia refletiu duramente no que havia se passado naquele dia, nas palavras incitadoras de Arthur, e principalmente, na forma afeiçoada que Nicholas e Alden ainda tinham um pelo outro. 

Um amor assim, não é fácil de esquecer... 

Por que Arthur disse uma frase como aquela justamente para ela? O que estava tentando fomentar naquele instante? No mais, achou-o muito reprovável, mas não tivera coragem o suficiente para dizer ao rapaz o quão mesquinho ele fora. De boa-fé aquele cavalheiro não agira.

No entanto, Alessia sentia uma brasa dentro de si somente por sua mente fazer suposições do que acontecera na biblioteca enquanto Nicholas e Alden ensaiavam. Imaginava todo o tipo de parvoíces, desde o rapaz e a moça confundindo seus papéis, até declararem-se um para o outro, usando de seus personagens representados para falar nas entrelinhas sobre o seu suposto amor.

Tanto pensou, sem dar a mínima importância ao livro que jazia em suas mãos, que foi interrompida de sua torrente de pensamentos emaranhados, quando Nicholas bateu à porta e abriu-a, mostrando um semblante inquieto.

— Estou com dificuldade em decorar algumas falas, Raio de Sol.

Nicholas adentrou a sala de estar, e no momento Alessia fechou o esquecido livro, dando atenção ao rapaz. Ele sentou-se ao lado dela no canapé, com o rosto devidamente sombreado pelas chamas da lareira, dando-lhe uma forma assombrosamente admirável, deixando Alessia miseravelmente constrangida por olhá-lo com fugaz desejo.

— Seus dedos, Raio de Sol, estão manchados de tinta.

— Já os lavei por demasiada vezes, mas essas manchas de tinta não saem de forma alguma. Deve ser o preço por resolver mudar minha história tantas vezes. Mas não dê importância para isso. O que posso fazer por você?

— Treine comigo. Não poderia ser um Valerius decente sem uma Micaela. Por mais que eu tente, parece que estou falando sozinho, e sinto que todos julgam-me como maluco.

— Não vejo mal algum em falar consigo mesmo. Acredito até mesmo que seja um ótimo exercício.

— Quando eu era criança, a Sra. Floyd colocou em minha boca uma pedrinha em brasas e ordenou que eu a mantivesse dentro de minha boca. Minha língua obviamente ficou queimada e por dias não pude comer ou falar direito. Aquela era a minha lição por falar sozinho.

— Meu Deus, que coisa terrível! Sofreste tanto, Sr. Whitehouse. Que lembrança mais cruenta.

— Isso é passado agora, Raio de Sol. A Sra. Floyd não pode mais me ferir.

Nicholas sorria para ela, em oposto a face de horror da moça diante daquela revelação tão medonha.

— Poderia ser o meu par e treinar comigo?

— Queres mesmo que eu seja Micaela? Pressuponho que eu não saberei interpretá-la. Alden já deu uma alma e uma personalidade à ela, e eu não poderia imitá-la mesmo se eu quisesse. Soaria hipócrita.

Colina dos Ventos VerdesWhere stories live. Discover now