Capítulo 37

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— Não há nada mais frustrante que um caça-palavras. Consigo resolver algumas colunas, e sempre termino em uma emboscada. Nunca termino estas coisas. Deve haver um monte destes caça-palavras infernais espalhados pela casa — Leofrick soltou um suspiro desmotivado e lançou o folheto com as fileiras de letras mal acabadas sobre a mesa, olhando para a janela. — É um completo absurdo que esteja nevando tanto. Meus dedos estão dormentes de tanto frio. Ah, não gosto nada deste tempo de ventos tão gélidos que tremem meus ossos, por São Jorge! 

— Oh, papai, não reclame tanto. Dezembro combina perfeitamente com o frio. A neve tem o seu esplendor romântico. É como uma noiva a esbaldar a sua beleza em uma pureza alva e intocável — Cameron disse.

Cameron estava no pequeno escritório de seu pai, localizado em uma rua estreita no vilarejo, consultando alguns livros, sob à luz de um toco de vela, quando a porta abriu-se e Cecilia revelou-se, a sua beleza pueril reluzindo como o amanhecer, acompanhada por Tessa e Fanny, que trazia o almoço para o pai e para o irmão, ovos cozidos e batatas cozidas, na cesta que segurava. 

 O rapaz sorriu, abobado para Cecilia, levantando-se um tanto atrapalhado e saudando-a. Ambas as moças sacudiram suas capas, apartando a neve que caíra sobre elas, e Cameron colocou mais lenha na lareira, a fim de mantê-las aquecidas.

— Cameron, meu querido irmão, não vai acreditar nas boas novas — Tessa estava a um ponto de pular como uma corça. 

— Deixe que eu conto a novidade, Teresa — Fanny a advertiu. — Sabe o Sr. Saint-Clair, o recém-chegado? Ele está organizando uma peça teatral. Não é magnífico? Ao que parece, usará um dos manuscritos da Srta. Kingstone para ser representado nos palcos, segundo o que a Ceci contou-me.

— Isso é verdade? — Cameron indagou, olhando na direção da acanhada Cecilia. — Puxa vida, uma peça de teatro.

A dama de cachos loiros assentiu, mui corada, e Cameron respondeu-a com um sorriso.

— Não é um grande evento. Apenas uma encenação entre amigos, pois o Sr. Saint-Clair achou que seria perfeito para as festas de fim de ano.

— É uma ideia fantástica — Cameron disse. — Sinto que agora que estávamos precisando de uma nova distração. Quase não há apresentações teatrais em South Royal, e creio que o tablado da taberna tampouco conte como tal. 

— E precisamos esquecer o vexaminoso baile da família Byrne — a voz abafada do Sr. Leofrick surgiu de seu escritório.

— E você, minha cara Cecilia? Vejo que também está empolgada pela peça, ou terá sido uma mera impressão errada minha?! — Fanny apanhou as mãos dela.

— E-eu... eu estou um pouco empolgada, não nego. Em verdade, também queria estar na peça, mas se eu tivesse um papel relevante, certamente empalideceria e morreria de angústia, pois sou um tanto nervosa. Não tenho jeito com as palavras e passaria vergonha na frente de todos.

— Pois eu terei de discordar — Cameron a tranquilizou.

— Oh, irmão! Deste jeito, Fanny e eu ficaremos de fora deste evento tão especial — Tessa bateu palminhas, alheia ao casal que se entreolhava. 

— A ideia desta peça agrada-me muito mais do que qualquer baile ostentoso. Almejo fazer parte da peça, estar no palco é uma experiência completamente diferente de estar na plateia, e eu, logo completarei meus dezenove anos, desejo inserir-me nisto — Fanny fez um biquinho. — E quando começarão os ensaios, Cecilia?

— Acredito que o mais breve possível, Srta. Fanny. A Srta. Alessia estava reorganizando a história da peça, pois a Srta. Fitzberg e o Sr. Saint-Clair muito se cativaram com os contos que minha adorada amiga escreveu.

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