Capítulo 33

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Retornaram para a Colina dos Ventos Verdes, todos mui extasiados, principalmente Cecilia que dançou com seu amado Cameron, e naquela noite foi dormir cantando. O mesmo não podia ser dito de Alessia. Naturalmente Alessia tentou não dar a devida importância ao pedido imprudente que fez a Nicholas, mas arrependeu-se amargamente por isto. 

Ela, por outro lado, não queria ser a vilã da história e privá-los de seu bonito romance. Para Alessia, quando tudo aquilo acabasse, Nicholas poderia ainda conquistar Alden, mesmo que ele lhe dissesse que não estava mais apaixonado pela moça. As cortinas para Alessia se fechariam, assim como uma trágica peça é contada nos palcos.

Ela não conseguia dormir de forma alguma. Passara metade da madrugada a virar-se na cama, os pensamentos turbulentos sobrepondo os seus sonhos. Contar carneirinhos não funcionava naquelas horas. Saiu de seus aposentos, coberta pelo roupão de algodão com bordados delicados de borboletas. Iria para a sala secreta, quiçá, enfurnar-se debaixo da tenda que Nicholas criou para ela, e quem sabe, adormecer debaixo dela. Sentia-se tão segura quando acomodava-se naquele lugar, mesmo sendo um mero amontoado de lençóis.

Nicholas estava na sala secreta. Em verdade, havia aberto as portas de vidro que davam para a varanda, e lá estava o rapaz, somente ele e a noite. Estava com os braços apoiados na balaustrada de madeira. Seus cabelos balançavam com a suavidade da brisa noturna. Aproximou-se ao rapaz, a sensação de brando prazer tomando de conta dela, abrasando-a.

— Raio de Sol, acordada a esta hora?

— Ora, Sr. Whitehouse, está acordado também.

 — Não consigo dormir. Por mais que eu tente, acabo tendo um sonho vazio ou um sonho horripilante.

— O que conversara com a Srta. Fitzberg? — Alessia mudou de assunto,  subitamente, assustada consigo mesma por falar aquilo. — Pareciam tão risonhos...

— Só estávamos relembrando de nossa infância. Nada demais.

— Por favor, conte-me suas memórias de infância. Bem sabe como gosto de tuas histórias.

— A gatinha de estimação de Alden havia morrido — Nicholas começou —, e ela ficou triste por muito tempo. Tentei alegrá-la, e pensei em presenteá-la com uma galinha. Sim, em minha ingênua tolice confundi gatinha com galinha. Peguei a mais vistosa no galinheiro e coloquei-a debaixo da minha bata. Adentrei a casa da família Fitzberg, e naquele momento, Alden estava em mais de suas inúmeras aulas particulares na biblioteca. Era tudo ou nada. Entrei no seu santuário de livros com a galinha debaixo da minha roupa. A ordinária fez um có-có-có agudo, e a Sra. Fitzberg, mãe da Alden, escutou e me interrogou. E, então, sem querer, a galinha saltou para fora da minha roupa, voando em direção à mãe de Alden, soltando suas penas por toda a parte. E devem bem saber como galinhas são escandalosas, ainda mais quando estão assustadas, ou quando são raptadas por meninos de oito anos. A galinha bagunçou toda a mesa com os papéis, pisando na tinta, deixando seus pés marcados por toda a parte, enquanto Alden ria a beça e a mãe dela gritava furiosa comigo. O furor encerrou-se quando a galinha pulou a imensa janela que estava aberta. Depois desse dia, fui proibido de entrar na mansão da família Fitzberg. Ao menos, fiz Alden sorrir.

— Admiro grandemente a amizade de vocês — Alessia sentiu-se a maior das pecadoras por dizer aquilo, pois em seu coração, crescera uma pontada de ciúmes. Nicholas e ela nunca teriam tais memórias como aquelas para compartilhar.

— Sabe, Raio de Sol, mesmo que Alden e eu fôssemos amigos por tanto tempo, ela nunca soube de coisas do meu passado das quais você ficara a par. Ela nunca soube a respeito da dama misteriosa que aparecia em meus aniversários, e também, nunca descobriu os maus-tratos que eu sofri nas mãos da Sra. Floyd. Houve uma vez em que ganhei um livro do senhorzinho generoso que os distribuía pelas bandas de Northside. Era um livro cheio de gravuras de pássaros e muito vistoso. Através deste livro, fiquei curioso em aprender as palavras. Ela zangou-se de tal forma quando viu-me com o livro na mão. Acusou-me de tê-lo roubado e exigiu a verdade. Ela não aceitava de forma alguma que aquele livro me foi presenteado. Pegou-o de minhas mãos e jogou-o no fogo.

Colina dos Ventos VerdesWhere stories live. Discover now