Capítulo 7

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Alessia ficou irritada consigo mesma por ter mentido de maneira tão insolente. Estava tão envergonhada por sua atitude anterior, em dizer que era noiva de Nicholas Whitehouse, que pedia aos Céus para que suas amigas esquecessem do que ela havia falado. Implorava a Deus para que Ele a perdoasse por ter inventado fábulas que iriam prejudicá-la e prejudicar outras pessoas mais cedo ou mais tarde. Tamanha era a sua angústia que recorreu ao clavicórdio e tocou algumas notas, mas nem mesmo aquilo apaziguava o seu espírito ansioso do erro que ela havia cometido.

Envolvera Nicholas Whitehouse em suas tramoias. Pobre rapaz, assim ela pensava, seu nome estava metido em uma mentira e ele sequer fazia ideia disto.

— Boba! Linguaruda! Sua garotinha deselegante de mente limitada! Por que você fez isso, sua idiota? — repreendia a si mesma em um sussurro cruel.

Dos dedos ágeis sobre as teclas do clavicórdio criava uma triste e desesperada melodia que abafava o som de seus lamentos. Somente deu-se conta de que estava agindo fora de seu estado habitual de serenidade, quando percebeu que a pobre Cecilia jazia parada ao seu lado, segurando o tabuleiro com chá por demasiado tempo.

— Oh, querida Ceci, não percebi que estava aqui. Queira desculpar-me.

— Esta música é diferente de tantas outras, Srta. Alessia — colocou o tabuleiro de chá sobre o aparador. — Tem um toque angelical, mas também de infelicidade, tão diferente das outras que tocas habitualmente que são tão alegres. Ainda está pensativa a respeito daquilo que falaste para as vossas amigas?

— Ceci, mal consegui dormir à noite pensando na bobagem que eu disse. Sequer consigo comer direito. Há pedras em meu estômago. Fiz mil e uma promessas para Deus, para que Ele, em toda Sua infinita bondade, fizesse minhas amigas esquecerem do que eu proferir anteriormente. Nunca mais atrevo-me a contar mentiras desta forma. Não sou uma boa mentirosa. Não faço a mínima ideia do que deu em mim para proferir tamanha inverdade. Sair contando vantagens sobre ter um noivo, sendo que sequer estou noiva? O que eu tinha na cabeça? — Alessia juntou as mãos a unir os dedos, muito aflita, andando pela sala. — Por favor, Deus querido que estás no Céu, que Clementine, Faustina e principalmente Felicia, esqueçam que o que eu disse para elas anteriormente.

Então, notou que ao lado da xícara no tabuleiro de chá, jazia um pequeno livreto. Alegrou-se quando viu a gravura desenhada na capa uma flor de cerejeira em tinta vermelha sobre um fundo azul pálido, pois aquilo, queridos leitores, era a revista da qual várias damas de Hertfordshire pulicavam seus poemas para que outras damas lessem. Era Diário da Dama Desabrochada. Decerto que era um nome terrível para uma revista, mas acontece que Alessia era fascinada por ela, embora Lady Farrell detestasse com todas as forças a tal gazeta. Achava a revista deveras açucarada, com contos bobos que sempre acabavam com o vilão derrotado e a mocinha e o mocinho felizes por toda a eternidade. "Desperdício de tinta e papel", era o que Lady Farrell sempre falava.

A jovem Kingstone não importava-se tanto com o que sua madrinha dizia, pois era encantada por aquela revista, e por vezes, Cecilia e ela até suspiraram por algumas histórias que tinham morais muito boas e uma escrita precisa e fascinante. Inclusive a Sra. Callum arriscou-se a ler a algumas edições do Diário da Dama Desabrochada para ler poemas escritos por autoras desconhecidas, pois julgava-os muito inspiradores.

Alessia era realmente uma grande admiradora do Diário da Dama Desabrochada e colecionava todas edições passadas... Até aquele dia, aquele bendito dia seis de junho, seria o dia definitivo que Alessia passaria a odiar o Diário da Dama Desabrochada com todas as suas forças, e prometeria nunca mais assinar a revista novamente.

Quando Alessia abriu a revista, sentiu o coração falhar um compasso. Sentou-se na poltrona, pois se continuasse em pé, certamente iria ao chão ao ler o que ali estava escrito.

Colina dos Ventos VerdesWhere stories live. Discover now