Capítulo 36

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Arthur não deixaria passar em branco seu plano para desmascarar Nicholas Whitehouse. Era grande sua desconfiança sobre o outro, e até mesmo podia-se dizer que contava os dias para a dita queda de seu rival. Encontrou-se com Edgar Young e Calvin Weston debaixo da mesma macieira de antes, a discutir o seu mais novo esquema.

O ambiente aberto daquela campina, longe de seu casarão, era o único lugar em que Arthur podia reunir-se para discutir suas artimanhas longe dos olhos imperiosos de sua mãe. Não queria preocupá-la ainda mais, não agora que seu avô também dera sinais de que estava gravemente enfermo. O coração dela já estava cheio de preocupações, e se Charlotte soubesse que seu filho perdia tempo planejando atingir um amigo de infância, ficaria extremamente desapontada.

E, também, havia Alden Fitzberg. Arthur não queria que a amiga soubesse de tal ominoso plano. Desmontaram dos cavalos e os três cavalheiros encontraram-se debaixo da macieira. Calvin estava deitado na grama, como se relaxasse em um doce dia de verão.

— Presumo que já esteja a par das boas novas, Sr. Weston? — indagou Arthur com um ar orgulhoso. — Finalmente, pegarei o falastrão do Whitehouse no pulo. Reduzirei suas mentiras ao pó.

— Uma peça de teatro, Saint-Clair? — Calvin cuspiu uma folha de festuca-alta que estava entre seus lábios, e deu uma gargalhada forçada. — Falas a sério?

— Falo muito sério! Que evento seria mais perfeito para trazer à tona as mentiras do Whitehouse, senão, uma peça de teatro? Revelarei tudo para a madrinha da Srta. Kingstone.

— Que galhofa. E que papel Nicholas fará neste teu espetáculo? Será o rapaz que abre as cortinas?

— Será o protagonista desta história — disse Arthur.

Calvin riu-se, batendo exageradamente a mão na coxa. Levantou-se da grama e montou em seu próprio cavalo.

— Isso mesmo, Saint-Clair! Dê a ele uma razão para encenar, e ganhar o coração de todos com seu drama. Tenho quase certeza de que a Srta. Kingstone está pagando aquele maldito com moedas de ouro, fingindo um noivado diante de todos. É nisto que eu acredito.

— Como ousa colocar a dignidade de uma dama inocente em jogo? — Arthur aborreceu-se. — Estou querendo salvá-la da boca do lobo, e não permitir que seu nome e sua honra sejam manchadas. Alden muito estima aquela senhorita, e por consequência, a estimo também. Ela certamente não sabe nada a respeito do homem que diz ser seu noivo, por isso, preciso com urgência tirá-la das garras dele.

Calvin revirou os olhos, preparando as rédeas do cavalo para partir. Agitou-as, fazendo o cavalo obedecê-lo.

— Onde pensa que vai? — indagou Arthur, ao perceber que Calvin estava indo embora.

— Estou partindo deste local em definitivo. South Royal é por demais entediante. Eu deveria ter ficado em Queensville. Mudar-me-ei para Paris, afinal é isto que meu pai quer, mas não me casarei como ele deseja. Gastarei o ouro que me foi dado, beberei do vinho intocável e viverei a juventude que ainda me resta. Aconselho que faça o mesmo, Saint-Clair. Tenha um bom proveito em sua vida.

O rosto de Arthur tornou-se severo. Calvin Weston era péssimo em apreciar um bom plano como o seu. Mas, pensou o outro, o idiota só debochava daquela forma porque não estava a par de todos os detalhes. E nem os contaria. Era demasiado tolo para ouvir alguma coisa que fosse relevante, e principalmente, não estava apto para ouvir que ele não fazia parte de seu plano. Não recorreu a argumentar com o rapaz, pois Calvin já havia partido para longe com seu cavalo. O que faria noite adentro era problema dele. Em outra hora, noticiaria o rapaz teimoso por envios de bilhetes. 

Mas, depois daquele dia, não se ouviu mais notícias de Calvin Weston. Boatos diziam que ele havia perdido toda a sua fortuna em Paris, e que seu pai recusou-se a ajudá-lo mais vez. Assim que faliu, Calvin casou-se com uma jovem camponesa irlandesa, e que juntos, cuidavam de uma pequena fazenda. Outros diziam que o rapaz caíra em grande desgraça e comia com os porcos, tal como o filho pródigo. Contudo ninguém sabia o que acontecera ao certo com Calvin, pois tudo o que especulavam eram apenas boatos e mais boatos.

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