Capítulo 30

785 125 74
                                    

— Demoraram tanto — Arthur falou, um tanto entediado, assim que Nicholas e Alden finalmente apareceram. — Se demorassem mais um pouco, o chá certamente esfriaria.

Todos estavam reunidos na sala de estar de outrora, a conversarem sobre assuntos costumeiros. A Sra. Charlotte Saint-Clair estava sentada ao lado de Cecilia, e durante todo o tempo da conversa estava falante e mui alegre, mas assim que avistou Nicholas, calou-se repentinamente, e até mesmo falara que os outros logo se aborreceriam com a sua voz demasiado pedante, o que era uma baita mentira, pois Charlotte tinha o timbre quase divino. Uma voz doce e afinada capaz de fazer se render até o mais duro e insensível dos corações.

Nicholas sentou-se ao lado de Alessia, e diferente de antes quando o viu pouco tempo atrás, ele tinha um semblante azedo, com as sobrancelhas franzidas em uma expressão desgostosa. Alden tratou de preencher o lugar no canapé sentando ao lado de Cecilia, cabisbaixa, evitando elevar o olhar para Nicholas. Alessia podia presumir que o diálogo entre os dois não fora nada amigável.

Terminado o chá e recolhida a porcelana, Arthur bateu palmas, a fim de entreter os convidados.

— Necessito dá-lhes um pouco de diversão, ou serei mal falado por estas bandas por ser um anfitrião deveras enfadonho. Já sei. Tenho uma fabulosa ideia.

Estalou os dedos e um dos criados surgira na sala de estar. Ordenou que lhe trouxesse um jogo que havia sido presenteado a ele por Bernardo Brás, um de seus amigos da Academia de Madrid. Em um piscar de olhos o criado foi e voltou com um tabuleiro em mãos.

— Apresento a vocês o Jogo do Ganso¹ — Arthur falou, muito vaidoso.

— Jogo do Ganso? O que é isto? — Alessia perguntou, muito curiosa.

— Oh, minha cara senhorita, é um jogo que meus amigos e eu costumávamos jogar enquanto eu ainda estudava em Madrid — Arthur explicou. — Lembro-me com muita perfeição. Bernardo Brás e eu passávamos horas e mais horas a jogar. Ele era o campeão invicto. Vencê-lo era impossível.

— Isso explica porque eras tão distraído nos estudos, meu filho — Charlotte disse, e todos riram do que ela falou, exceto Nicholas e Alden que ainda estavam por demais silenciosos.

— Então, Alden, aceita jogar comigo?

— Recuso seu convite ao jogo — Alden discordou de Arthur, com a voz mansa quase inaudível.

— E quanto a ti, Srta. Callum? — Arthur voltou-se para Cecilia.

— Acredito que não jogarei bem. Sou muito azarada e sei que só irei atrapalhar — Cecilia desvencilhou-se.

— E quanto a você, Srta. Fanny? Tem jeito de ser uma ótima jogadora — ele ergueu a mão na direção dela, como se a convidasse para uma dança.

Fanny ficou mui corada com o gesto do rapaz, e apenas meneou a cabeça, recusando a jogar o tal jogo.

— Arrisca a sorte, mamãe? — Arthur propôs.

— Querido Arthur, serei sincera, eu nunca gostei de jogos. Além disso, quando eu era pequena, sempre faziam questão em deixar-me de fora. Bom, agora que cresci perdi o interesse. E, também, sei que ficarei com uma baita dor de cabeça no fim das contas. Lamento muito, contudo prefiro uma boa conversa ao invés de desafios — Charlotte piscava os olhos. 

— Oh, a dor da rejeição de uma dama, minha própria mãe, ainda por cima. Dizer "não" nunca é suficiente para ela — Arthur disse muito dramático. Segundos depois, recuperou-se. — Preciso de um desafiante à altura. O jogo não funciona com apenas um jogador — exclamou.

— Gostaria de tentar, apesar de não saber nada a respeito das regras — Alessia disse.

— Fascinante, Srta. Kingstone. — Arthur felicitou-se. 

Colina dos Ventos VerdesOnde histórias criam vida. Descubra agora