Capítulo 25

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Com um brilho diferente em seu olhar, Nicholas olhava fixamente para o anel em seu dedo, quase a abrir um sorriso. Sentia-se imensamente bobo, isso é verdade, no entanto, exageradamente feliz. Se alguém o visse sorrindo de forma constante para o próprio dedo, poderiam achar que o rapaz era louco. E não estaria ficando? Ora, criou uma espécie de cabana feita de lençóis, e ainda por cima, passou vários dias pintando os mesmos lençóis criando um cenário surreal para que parecessem igual ao céu intocável e ao campo verdejante. 

Desde quando estava tão imensamente interessado em Alessia Kingstone?

Verdade que se compreendiam e se apoiavam, mas estaria ele a amando? Ele não sabia responder um questionamento tão simples, e ao mesmo tempo, tão complicado. Gostava do jeito como Alessia sorria e sua risada soava como música, apreciava a maneira como ela lhe dava ordens, deleitava-se da forma como as maçãs do rosto dela ficavam vermelhas, de como seus olhos reluziam como se houvessem uma constelação dentro deles... Céus! Ele estava começando a ficar febril.

Ainda andando sossegado pelo vilarejo, notou sem querer um cavalheiro a importunar Fanny e Tessa, perto da loja que vendia sapatos. As garotas retornavam do escritório do pai, pois foram deixar leite e pão para Cameron, que estava trabalhando até mais tarde naquele dia, e deram-se de frente com um estranho cavalheiro que as abordou.

O estranho usava de palavras macias e gestos sutis. No entanto, era um homem inconveniente e a sua fala soava por demais vazia. Era tão insistente e não permitia que as meninas seguissem o seu caminho. Ele era alto, e usava um pomposo chapéu preto com uma vistosa pluma escarlate. Trajava uma capa, também preta, que lhe cobria os ombros e completamente as costas. Para mais, vestia meias altas, calças no mais puro linho, e seu casaco era bordado com fios prateados. Até os botões do seu colete eram apresentáveis. Os cabelos cacheados, jaziam presos e enfeitados com um laço verde. Notava-se também que ele passou algum pó no cabelo, que antes era castanho, para que ficasse cinzento.

Demonstrava ser muito rico e muito petulante, pelos seus modos artificiais em conversar com duas damas solteiras.

Quando Fanny e Tessa avistaram Nicholas que andava do outro lado da rua, com o olhar, clamaram a ele por ajuda. Ele entendera de imediato o que se passava, e sem pensar muito, decidiu ajudá-las pois temia um perigo maior, e porque muito estimava pelo irmão delas. Pôs a mão sobre o ombro do cavalheiro — que estava de costas para ele —, e Nicholas reparou na feição de alívio de ambas as jovens. 

— Graças a Deus! Sr. Whitehouse, como é bom ver o senhor por aqui! — Fanny falou aliviada. Estava a salvo.

— Sua presença se assemelha a uma doce brisa de verão — Tessa disse, alegremente.

— Whitehouse? — replicou o estranho, virando a face para o homem que mantinha a mão em seu ombro. — Nicholas Whitehouse? Não pode ser o mesmo Nicholas Whitehouse.

Nicholas tomou-se de enorme surpresa quando enfim contemplou e reconheceu quem tratava-se o tal cavalheiro atrevido.

Assimilava-se a ver um fantasma do passado.

Era seu amigo de outros tempos, Calvin Weston, um rapaz cujo estilo de vida resumia-se ao vinho, meretrizes e brigas em tabernas. Nicholas o conhecera quando tinha apenas dezessete anos. Frequentou tabernas em sua companhia, e com Calvin, aprendera que a vida tinha seus dissabores. Calvin Weston era filho de pais ricos, mas foi deserdado por causa de suas práticas em viver como um libertino sem qualquer moral. No entanto, ao olhar para ele, Nicholas não o julgou como um herdeiro que havia sido expulso de casa e que perdera a sua fortuna. Jazia muito bem para alguém que gastava ouro com tolices. Os olhos dele continuavam sagazes que escondiam uma fagulha de astúcia maldosa.

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