Capítulo 11

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Mesmo quando foi anunciado no Diário da Dama Desabrochada que Alessia Kingstone estava noiva do intrigante Nicholas Whitehouse, a demanda de cavalheiros obstinados desejando ser o pretendente dos seus sonhos, não parou. Ela recebeu naqueles dias missivas adornadas com palavras bonitas que sempre eram acompanhadas por rosas vermelhas que facilmente murchavam, assim como as promessas amorosas escritas nas cartas. Quiçá, pensavam os rapazes iludidos, que a mocinha desistiria de seu noivo para abraçar as probabilidades de um casamento rápido e vantajoso.

Nicholas foi arrastado para a biblioteca onde passou longas e inevitáveis horas entre livros antigos e volumes encouraçados, com instruções floreadas sobre bom comportamento que um cavalheiro deveria seguir, embora Alessia estivesse mais interessada em suas próprias leituras a ajudá-lo de fato.

A moça procurava um título e outro na estante, abria um livro qualquer, sorria e suspirava e logo o colocava em seu devido lugar. Somente parou de sonhar acordada quando finalmente reparou no rapaz sentado à larga mesa abarrotada de livros, olhando fixamente para ela.

— Noto um certo entusiasmo na senhorita. Gosta mesmo da biblioteca, não é mesmo, Raio de Sol?

— É simplesmente a biblioteca mais encantadora em que existe em toda a Hertfordshire, e não digo isto apenas por orgulho por ela pertencer-me. Meu pai, quando ainda era vivo, reuniu todos os livros que pudera, trazendo-os de distintos continentes. Era um homem verdadeiramente apaixonado pela leitura. E tem tantos volumes e enciclopédias nesta biblioteca. Admito que passei longas horas a admirar o Atlas aberto sobre a mesa, imaginando como seria um mundo diferente. Oh, e ontem à noite eu li por inteiro um livro tão maravilhoso, somente para entristecer-me com seu intenso final. Mal consegui dormir direito pensando no desfecho tão intrigante daquela história. E pensar que o autor não está mais entre nós, mas deixou-nos sua obra-prima para ser apreciada. Não é magnífico pensar que seus pensamentos estarão para sempre gravados naquelas páginas? Outras pessoas poderão apreciar suas palavras e guardá-las para sempre em sua mente. E somente por imaginar que haverão livros das quais jamais conseguirei pôr as mãos faz com que um buraco irrompa em meu coração. É uma mista sensação de fascínio com desencanto.

Piscou os olhos, compreendendo que havia prolongado demasiado sua explicação, transformando-a em um monólogo que apenas ela estimava.

— Esta é a mais bela declaração que já ouvi. E não foi dita para uma pessoa, mas para um livro.

— O que posso fazer? Passei muito tempo presa aos livros, trancada na biblioteca, distante do mundo lá fora. Os livros não podem me menosprezar e nem me julgar, diferente de algumas pessoas que conheço.

— Como as suas ditas amigas para as quais mentiu? — Nicholas cruzou os braços, olhando-a intrinsicamente.

Alessia não o respondeu e tornou sua devoção aos livros, para escapar de um questionamento tão pertinente feito por ele, e ainda assim, tão verídico. Não conseguia resgatar na memória nenhuma lembrança por mais pífia que fosse, de suas amigas a elogiando ou dizendo palavras de conforto. Eram sempre as mesmas palavras ásperas disfarçadas com doçura e falsa preocupação. Zombavam dela constantemente. Abanou a cabeça, afugentando aqueles pensamentos que apenas serviam para deixá-la triste.

Muito observadora puxou um livro empilhado na mesa abaixo de tantos outros.

— Aqui, o manual da boa vida.

— Terei de seguir regras mesmo? Todas elas? — Nicholas indagou, impressionado com a grossura exagerada do livro.

— Prometo que não será tão difícil, Sr. Whitehouse. Serei muito paciente em ensiná-lo. Temos poucos dias até o piquenique da família Evans e você precisa estar pronto até lá.

Colina dos Ventos VerdesWhere stories live. Discover now