Capítulo 45

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Assim que passou-se o dia do baile natalino que ocorreu no Winter Valley, a data para as estimadas festas de fim de ano — e consequentemente da peça teatral que Arthur tanto queria — finalmente havia chegado, e com ela, todos os anseios para os preparativos finais. Havia uma ligeira preocupação acerca dos arranjos, das flores falsas que iriam enfeitar o palco, e a respeito das cortinas que abririam e fechariam o espetáculo. Tudo tinha de estar perfeito nos seus devidos lugares, por menores que fossem os detalhes, e mesmo que a plateia fosse uma senhorinha exigente.

Lady Farrell (e obviamente a Gata Cleo) havia regressado para a Colina dos Ventos Verdes quatro dias antes, e somente ouvia falar de uma tal peça que seria em sua homenagem. Não gostava de floreios e nem de surpresas extravagantes, mas a ideia da peça teatral lhe agradava e mal esperava para contemplá-la.

A Colina dos Ventos Verdes seria o enorme palco daquele pequeno espetáculo, que carregava um desenrolar obscuro por detrás. Sendo assim, logo ao entardecer Alden Fitzberg havia ido para a residência de sua amiga, ansiosa pela apresentação da peça, porém não havia sinal de Arthur desde então.

Um jantar seria servido antes da tal peça com direito a vinhos, grelhados e mariscos. 

Enquanto isso, no Winter Valley, uma estranha carta chegou às mãos de Charlotte Saint-Clair. Ela decidira passar as festas de fim de ano, sozinha, pois não estava apta para comemorar nada. A carta lhe foi entregue pela criada de lábios pálidos e olhos arregalados, como se a própria houvesse lido o que ali estava escrito no envelope lacrado. Charlotte soube com antecedência, assim que mirou o lacre de cera preta, que havia uma má notícia ali assinalada.

 — Wendy, minha querida, obrigada por trazer-me a correspondência — usou um punhal próprio para abrir cartas, e assim que o fez, tratou de ler a intrigante carta. Ao ler a carta, as mãos de Charlotte tremeram demasiado e seus olhos ficaram repletos de lágrimas. 

— Senhora, está se sentindo bem?

— Oh, céus — Charlotte soluçava, o rosto molhado por lágrimas. — Meu pai está morto, Wendy. Morto! — despertou de seu repentino choque, e logo tratou de recompor-se. — Preciso avisar Arthur!

Charlotte acabou por encontrar-se com Edgar nos corredores do casarão. Logo ele soubera de antemão sobre o falecimento do pai da senhora.

— Lamento pela má notícia, Sra. Saint-Clair.

— São infortúnios da vida, meu querido Edgar — Charlotte enxugava as lágrimas. — Onde está Arthur. Viu-o por aí?

— Creio, minha senhora, que ele tenha ido para a tal peça de teatro que tanto planejou. 

Ele precisa saber que o avô morreu. E não apenas isto, mas ele precisa saber da minha maior verdade. Não temo mais escondê-la, preciso contar a ele urgentemente.

— Esta verdade que precisa contar, Sra. Saint-Clair, acaso está alinhada intrinsecamente com Nicholas Whitehouse?

Charlotte olhou-o sobressaltada.

— Investiguei o que pude da vida deste rapaz, e uma peça que não se encaixava de forma alguma, era a sua oculta participação na vida dele, sempre ajudando-o nas sombras.

A Sra. Saint-Clair tinha os olhos arregalados e os lábios trêmulos. Tentou dizer algo para Edgar, mas o rapaz a impediu.

— O que for esta verdade que carregas, não é para mim que deves dizê-la. Arthur está possesso de ódio por Nicholas. Se há alguém que pode evitar uma tragédia vindoura, esta pessoa é você.

De repente, um sentimento amargo pesou no coração de Charlotte, eram como acordes desafinados de um piano que recitavam uma cantiga que antecedia uma grande desgraça. Sentiu em cada fibra de seu ser que as palavras de Edgar eram quase proféticas, e que se ela nada fizesse e não fosse ágil em sua verdade oculta, sangue seria derramado.

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