Capítulo 14

821 152 91
                                    

Alessia e Cecilia, juntas, liam a carta que fora entregue naquela cinzenta quarta-feira, ansiosas pela resposta de Lady Agnes Farrell.

Após ler a carta de Lady Farrell, sem conseguir explicar com as palavras exatas, Alessia sentia seu coração pesado como se houvessem mil pedras em seu peito. Era o preço de sua mentirinha que lhe pesava a alma. Entretanto, a Srta. Kingstone tentava fingir que tudo estava bem, apesar de Cecilia notar que sua amiga escondia as angústias que lhe castigavam.

Alessia estava sentada no terceiro degrau da escadaria, com uma expressão pensativa estampada no rosto. Segurava ainda em suas mãos a carta aberta de Lady Farrell. Suspirou, enfastiada, olhando para Cecilia que estava em pé diante dela.

— Bom, ao menos a minha madrinha ficou feliz com o anúncio do noivado. Ao que parece, ela não ficará desapontada comigo.

Cecilia encarou-a muito séria. Ansiava que Alessia não visse com bons olhos a trama que criara para si, pois previa uma tragédia anunciada.

— Srta. Alessia, por quanto tempo pretende arrastar essa mentira? Não acha que está indo longe demais com tudo isto? E o Sr. Whitehouse? Pensou nos sentimentos dele? Temo por ti, minha amiga, e que acabes por ficar mal falada nestas redondezas.

— Mais do que já sou? Esqueceu que sou uma megera, Ceci?

— Acaso não sabe que as pessoas são maldosas e sentem prazer em destruir reputações?

Alessia arregalou os olhos, surpresa com o desabafo de Cecilia. Verdade que eram muito amigas, mas poucas vezes a outra lhe falava com uma voz tão carregada de repreensão. Pigarreou, pronta para respondê-la, embora soubesse no fundo de seu coração que ela estava certa.

— Ceci, minha querida Ceci, não julgue minhas tolas ações. Sei que errei ao mentir, sei que continuo errando por alimentar uma mentira sem pé ou cabeça, mas tudo o que mais desejo neste momento é o vosso auxílio. Sou uma tola por achar que este descabido plano tem algum pingo de convencimento, mas tudo o que lhe peço é que não me critique tão acidamente.

— Noto que está um tanto ríspida hoje, Srta. Alessia.

— Que bobagem! Não estou ríspida — Alessia disse, mui sisuda.

— O motivo de tanta rispidez nesta manhã, não seria por causa da discussão que tiveste com o Sr. Whitehouse ontem, seria?

— Óbvio que não, Ceci. Falas como se tivéssemos a nos digladiar, por Deus. Apenas acho que o Sr. Whitehouse enxerga-me de uma forma estupenda que nem eu mesma consigo, e isso me frustra, pois o espelho mostra-me outra coisa, e eu sei que aquilo que reflete é real.

A moça acabara, por fim, ficando grandemente entristecida, sendo consolada por Cecilia, que apiedou-se de tamanha fragilidade que Alessia carregava.

💠

Cedo Nicholas foi cavalgar, a fim de respirar a brisa da manhã e dissipar os pensamentos que lhe contrariavam. Montou em Tornado e foi aventurar-se pelas pradarias. Havia aprendido regras absurdas de etiquetas naqueles dias e considerava-se pronto para encarar qualquer obstáculo. Trajou vestes simples, pois não queria estragar as roupas tão bonitas que ganhara de Alessia.

Estava morando debaixo do mesmo teto de uma dama obstinada. Se Calvin, o insensato e estúpido rapaz que sempre o pôs em encrencas, estivesse ali, diria que Nicholas tirara a sorte grande em sua vida "envolvendo-se com uma dama rica". Espantou tal pensamento que lhe deixava enojado. Afinal, entre Alessia e ele era apenas um pacto amigável a ser mantido.

Para o rapaz, não havia a menor chance de uma mulher culta e bela como ela, apaixonar-se por um homem sem futuro como ele.

O amanhecer daquele dia estava apropriadamente agradável e um dia perfeito para escapar das aulas de etiqueta. O cheiro doce das flores espalhava-se com facilidade carregado pelo vento. Contemplou o horizonte pintado com cores entre um cativante lilás e um acolhedor laranja escondidos sobre uma colcha de tímidas nuvens cor-de-rosa. Puxou as rédeas de Tornado, que consigo era claramente obediente, e continuou sua cavalgada.

Colina dos Ventos VerdesWhere stories live. Discover now