Capítulo 28

875 124 238
                                    

Durante dias, não se soube de notícias a respeito dos moradores do casarão do outro lado do lago, embora não fosse novidade para Nicholas ou Alessia sobre a identidade de quem moraria lá. Enquanto isso, havia uma movimentação enorme na Colina dos Ventos Verdes, para receber Lady Farrell. Os criados trocaram as cortinas, lavaram as janelas, limparam os carpetes e colocaram flores recém-colhidas nos vasos de vidro, tirando da vista de Lady Farrell qualquer possível sinal de antúrio, pois aquela senhora recusava insistentemente contemplar as tais flores que considerava apáticas. 

Todos jaziam ansiosos pela espera da tal lady. O Sr. Callum, no entanto, ainda jazia cismado com Nicholas naquelas semanas, e muito desconfiava de Alessia e do rapaz tão chegados um do outro, e obviamente, discordava daquele comportamento pois não achava decente que uma jovenzinha como ela, estivesse tão próxima de um rapaz que antes jazia sem eira e nem beira.

 — Eu quero ver como a Srta. Kingstone se sairá agora que sua madrinha regressou. Como explicará que passou semanas a fazer caridade para um jovem estranho. Certeza que Lady Farrell ficará aborrecida quando souber que sua afilhada desperdiçou tanto tempo com o rapazote. E ainda deram um quarto só para ele, além de roupas cosidas em tecido caro. Que mundo é este?

A Sra. Callum balançou a cabeça, negativamente. Quanto menos o Sr. Callum soubesse, o seu marido tão facilmente irritável e cheio de julgamentos, melhor seria.

— Você trate muito bem de ficar calado, marido. Os assuntos da Srta. Alessia são dela e apenas dela. Não nos metemos na vida de nossos patrões. E, ai de ti, se eu souber que abriste o teu bico. Faça-me o favor em não se meter aonde não é chamado, ou perderei minha paciência com você.

— Não se aborreça, esposa. Minha boca é um túmulo.

(...)

Nicholas descera as escadarias, quase tropeçando nas mesmas, muito nervoso em virtude dos avisos que recebera no dia anterior sobre a chegada de Lady Farrell, e ele temia que ela chegaria a qualquer momento, por isso, precisava estar pronto. Enrolou-se ao tentar ajeitar a bendita gravata e mal havia abotoado o colete de brocado. Alessia, que jazia ao pé da escadaria, resolveu ajudá-lo, enquanto dava o nó perfeito na gravata e ele prosseguia em abotoar o colete, encaixando os botões prateados em suas devidas casas.

— Tia Agnes é muito exigente. Tudo tem de estar nos seus mínimos detalhes. — Alessia relatou para Nicholas. 

— Acho que fiquei com um pouco de medo agora, admito.

— Mas, ainda assim, ela é uma mulher bondosa, Sr. Whitehouse. 

— Creio que esse seja o momento perfeito para chamar-me pelo meu primeiro nome. Sua madrinha estranharia vê-la chamando-me de "senhor Whitehouse" para cá e para lá.

— Não seja atrevido — Alessia corou. — Apenas não serei muito formal convosco.

Terminou de arrumar a gravata dele, e olhou-o com um sorrisinho. Estavam tão próximos naqueles dias, que um espectador do lado de fora pensaria que eles eram um casal apaixonado. No entanto, uma das partes estava começando a ceder. 

Foram para o hall a esperar por Lady Farrell. Assim que a senhora chegara, adentrou a mansão seguida pelos criados que carregavam sua bagagem. Trajava um pesado vestido púrpura, seguido por um chapéu que levava algumas plumas pretas. Segurava nos braços uma bola de pelos branca que carregava em seu pescoço uma coleira vermelha, a famigerada Cleópatra, ou Gata Cleo.

 Alessia correu até Lady Farrell, e sem cerimônias, abraçou-a, pegando a senhorinha de surpresa, quase achatando a pobre gata no abraço.

— Menina, isto são os modos que eu lhe ensinei? Ora, faça a reverência que uma dama faria — Lady Farrell ralhou muito séria, e após, gargalhou com deleite. — Também senti saudades, minha querida. Abrace-me, Alessia, abrace-me. Passei por uma terrível experiência de quase morte, o que fez-me enxergar o quanto sou ríspida contigo.

Colina dos Ventos VerdesWhere stories live. Discover now