Capítulo 35

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— O Sr. Callum tem me tratado tão bem esses dias, que juro que estou ficando com medo. Era bem melhor quando destratava-me.

Nicholas encontrava-se na sala secreta, e sentou-se em um dos canapés, mirando a moça que jazia dentro da tenda a ler. Nem mesmo em seus sonhos mais febris, ele podia imaginar que a moça adoraria tanto seus singelos presentes de aniversário, tal como o broche, que ela fazia questão em exibir como se fosse uma medalha de honra. 

Alessia lia um livreto de bruços, com os cotovelos apoiados nas almofadas e os cabelos caindo sobre o rosto. Piscou os olhos, fitando o rapaz que jazia com as costas um pouco arqueadas, com os antebraços repousados nos joelhos, olhando-a com uma das sobrancelhas levantadas. Percebendo que ela não o ouvira quando ele chegara na sala, Nicholas reformulou sua frase, repetindo cada detalhe sem deixar nenhum de fora. Ela então o compreendeu e pudera replicar corretamente.

— É porque o Sr. Callum sabe a nosso respeito. Para ele, somos noivos. Não descobriu sobre isto da boca da Sra. Callum e muito menos da Ceci, pois elas foram leais e guardaram segredo insistentemente. Leofrick Dashwood, o pai de Cameron, contou o que sabia sobre você, porque o viu no baile e muito maravilhou-se com os comentários sobre a sua pessoa. Lamentou até mesmo por não ter conversado convosco como almejava.

— Sabe sobre nós? — Nicholas espantou-se. — Será possível que este segredo não irá parar de espalhar-se? São como irritantes abelhas sempre a zunir perto de meus ouvidos.

— Mas ele entendeu à sua própria maneira. O Sr. Callum pensa que você é muito rico, e por causa de sua vasta riqueza, teve as bênçãos de minha madrinha — Alessia voltou-se para seu livreto, folheando-o com gosto.

— Que velhote interesseiro! Como eu outrora disse, era melhor quando não falava comigo cheio de gracejos. 

Nicholas pigarreou, olhando de soslaio para Alessia, que estava a ler o livro. A postura dela o enfeitiçava de alguma maneira. O cabelo, desobediente, caía sobre a face, atrapalhando-a na leitura, e ela tirava-o de sua vista com um toque tão delicado, que aparentava espantar borboletas. Mantinha uma das mãos, fechada, apoiada na bochecha, e outra que folheava o livro. Os cílios jaziam repousados sobre a face rosada, e seus lábios rascunhavam um sorriso de satisfação para cada linha lida. Decerto, fosse um livro realmente bom para lhe cativar tanto a atenção. Seu colo estava por pouco exposto, e se não fosse pelo fichu que o cobria, Nicholas indubitavelmente daria defronte com o decote da moça com a visão para a curvatura das dunas proibidas. Novamente a moça moveu a mecha do cabelo, colocando-a atrás da orelha, e a cada novo movimento, ele simplesmente não conseguia deixar de olhá-la. 

Estava completamente a mercê de seu encanto.

Tampouco sabia o motivo de estar criando tais pensamentos a respeito dela. Duas madrugadas atrás, naquela mesma sala, haviam dançado quando alguns flocos de neve traiçoeiros acabaram por atrapalhá-los. Ela estava tão empolgada pela neve que durou tão pouco que mal consolidou-se no chão, e no raiar do dia, não passou de um sonho esquecido. Assim como o pequeno momento de intimidade deles.

Alessia, por fim percebendo o olhar dele que queimava sobre ela, fechou o livro, indagando a si mesma, porque o rapaz não parava de olhá-la, e temia estar com o rosto sujo de geleia de morango da Cecilia. Aqueles olhos cor de mel, aqueles olhos tão ardentes, pareciam enxergar através de sua alma.  

— Por que está olhando-me tanto, Sr. Whitehouse?

— Estive pensando, Raio de Sol, sobre os dias em que estamos passando na Colina dos Ventos Verdes. Como minhas aulas de etiqueta acabaram, e eu não tenho mais uso para ti, deveríamos passear pela campina, o que achas?

Colina dos Ventos VerdesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora