Capítulo 13

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  "De Agnes Farrell para Alessia Kingstone,

Minha cara afilhada,

Entristeço-me em relatar que estas semanas em nada foram agradáveis ou amistosas para mim.

Para completar meus dias apáticos, logo que estabeleci-me em minha casa em Londres, na Rua Burton Boorman, fui afetada por um resfriado impertinente que me fez desfazer-me de todos os convites recebidos, quer seja para saraus, bailes ou piqueniques ao ar livre. Sei que muitos dizem que uma senhora como eu, deve acomodar-se no calor de seu recinto e entreter-se com livros monótonos e músicas melancólicas do alaúde, mas minha querida, não contento-me com uma vida pacata.

Sinto-me feliz indo aos bailes que sou convidada, pois uma mulher com a posição como a minha, deve fazer-se presente nos mais diversos círculos de amizades londrinos. Só porque possuo meus sessenta e nove anos¹ não significa que estou velha e acabada, e tampouco, morta.

Mal cheguei em meu lar e eu já pressentia em meu âmago que passaria por diversas chateações. Assim que desci da minha carruagem, briguei com o cocheiro por ele ter parado em cima de poça de lama e debaixo de um chuvisco desagradável. Critiquei-o repetidas vezes até que a reprimenda ficasse insonsa, dizendo para ele sobre como uma dama como eu, não pode sujar seus sapatos ou ter seu chapéu molhado. Após o desaforo que tomou-me metade de meu tempo — pois você sabe, Alessia, como eu sou uma mulher que adora controlar cada segundo e cronometrar cada minuto —, tomei uma postura inflexível, e demiti o calhorda.

E foi então que eu adoeci.

Febre, tosse seca e dores de cabeça infernais.

Tenho quase certeza de que foi uma praga rogada por aquele cocheiro ingrato. Óbvio que muito chateei-me por estar adoentada e incapacitada, mas a minha adorada Priscila, minha criada de mais estimada confiança, transformou os meus dias miseráveis em gotas de melodia.

Armou uma corda que atravessa o quarto e enfeitou-a com bandeirinhas brancas feitas de papel. Na janela, enfileirou várias garrafas pequenas colocando em seus gargalos botão-de-ouro. Passa uma boa parte do tempo ao meu lado, lendo histórias para mim, ou da forma como pode pois a pobrezinha nunca teve a chance em aprender a ler corretamente. Nestes dias infinitos de enfermidade, fui presenteada por antigos amigos com antúrios, o tipo de flor que menos gosto. Mas, não posso recusá-las pois seria uma desfeita para com eles, embora eu despreze antúrios e não ache as tais flores nada formosas.

Recebi visitas de meus primos distantes, meus sobrinhos e minhas sobrinhas, mas eles são tão imprestáveis que sempre que aparecem em meu lar, estão com um ar de tristeza na face, como se houvessem saído de um enterro. Creio que lamentam porque eu ainda não morri. Além do mais, sempre trazem um bolo intragável e sempre que eles se vão, jogo o bolo pela janela. Tenho certeza de que querem matar-me. E, juro por tudo o que for de mais sagrado, se eu escutar mais uma lamúria de Genevieve em querer ser atriz e brilhar nos palcos de Londres, faço questão em deserdá-la. Ela nunca foi a minha favorita mesmo.

Felizmente, estou longe o suficiente dos insuportáveis Evans e seus piqueniques cafonas, e de seus filhos sem personalidade. April, May e June; esses são os nomes das meninas. A falta de inspiração foi tanta que nomeou cada uma das filhas com nomes de meses. A essa altura, tenho quase certeza de que provavelmente eles devem tê-la convidado, cara afilhada. Não os visitaria novamente nem mesmo se carregassem-me em uma liteira² cravejada de diamantes e rubis.

Mas não é sobre resfriados, antúrios desprezíveis, bolos intragáveis, cocheiros calhordas, ou famílias insuportáveis que vim escrever-te esta carta. Não, não! Escrevo pois estou sabendo de notícias que cruzaram milhas e chegaram aos meus ouvidos.

Colina dos Ventos VerdesWhere stories live. Discover now