Capítulo 6

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Alessia mantinha os olhares no livro, de quando em vez, sendo distraída pela visão de Nicholas do lado de fora a cuidar dos cavalos. Estava em seu quarto sentada no peitoril da janela acolchoado por diversas almofadas, olhando absolutamente intrigada para ele. Assim que Cecilia aproximou-se dela, a mocinha muito constrangida cobriu o rosto com o livro, fingindo que durante todo aquele tempo não estava olhando para além da vidraça da janela, admirando o rapaz.

— Srta. Alessia, acho que passas muito tempo a olhar para o rapaz que cuida dos cavalos. Sei que eu não tenho direito de lhe dizer nada, mas acho um tanto imprudente continuar fazendo isto. Parece uma gárgula nesta janela, por todos os santos.

— Achas mesmo, Ceci? Bom, eu não estou desejando-o ou contemplando-o com malícia, se é isso que pensa, só estou impressionada com o magnífico trabalho dele. Acreditas que ele domou Tornado? Justo Tornado, o alazão mais indomável destas redondezas! O Sr. Whitehouse é um verdadeiro encantador de cavalos. Confessou-me que conversou com os cavalos, mas veja só.

— Já vi esse brilho no olhar antes. Perdoe-me a ousadia com que direi minhas palavras, mas ele não é um cachorro de rua abandonado ou um passarinho com uma asa quebrada, Srta. Alessia. Bem sei que ama ajudar aos outros, mas temo que isso acabe por magoá-la.

— Está enganada, minha querida Ceci. Apenas quero o bem para ele. Sei que ele não ficará muito tempo na Colina dos Ventos Verdes. No mais, ele nada contou-me, mas sinto que partirá brevemente. Se ao menos, eu pudesse arranjar para o Sr. Whitehouse um trabalho no armazém de lavandas... — os pensamentos flutuavam para longe, mesmo com Cecilia diante dela. Era uma moça deveras imaginativa.

— Queria avisá-la que tens visitas.

— Ah, por favor não me diga que é mais um cavalheiro com a ilusão em ser meu pretendente a noivo? Tal fato ominoso estragará o restante de meu dia.

— Não, Srta. Alessia, não é nenhum cavalheiro à sua espera. São três damas que vieram visitar a senhorita, e estão na sala de visitas a aguardá-la.

Ela já tinha uma ideia de quem estaria a visitá-la em tão impertinente hora. Levantou-se deixando seu livro sobre o peitoril acolchoado da janela, e para a sua surpresa, quando seus olhos miraram para além da vidraça, notou que Nicholas olhava diretamente para ela. O coração da moça por um instante parou de bater. Será se ele sabia que estava sendo observado? Rapidamente, ela esquivou-se e acompanhada por Cecilia, foi para a sala de visitas, atender as espalhafatosas visitantes.

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Mal abriu a porta da sala de visitas e foi importunada por uma cacofonia infernal de perguntas descabidas. Sentou-se na poltrona, esperando Clementine e Faustina acalmarem os ânimos. A única que não parecia empolgada como dantes era Felicia. Cecilia serviu o chá para todas e então retirou-se.

— Conte-nos tudo, Alessia — Faustina agitou-se. — E não esqueça de nenhum detalhe.

— Ora, minhas caras amigas, desta forma me confundem — Alessia mexia a colherzinha na xícara, pacientemente. — O que tanto querem saber?

— Escutamos boatos de que estava no cemitério, acompanhada de um cavalheiro misterioso — Felicia foi direta.

— Minhas queridas amigas, não necessitavam terem se deslocado para tão longe por causa de um boato — Alessia parecia divertir-se com tudo aquilo.

— Acha mesmo que viríamos de tão longe por um boato tão insosso com esse? Tivemos notícias de que um jovem cavalheiro estava hospedado em sua casa! Viemos com urgência para saber se era mesmo verdade — Clementine escondia um risinho com uma das mãos, seu adorado pug jazia em seu colo.

Colina dos Ventos VerdesWhere stories live. Discover now