Capítulo 31

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Dezembro havia dado o ar de sua graça. South Royal se envolvera em um abraço suave da transição. O ar ainda carregava o calor do outono, mas já estava impregnado com a promessa nítida do inverno. As folhas remanescentes dançavam ao sabor de uma brisa gentil, desenhando arcos dourados no céu.

Ao cair da tarde, as jovenzinhas do vilarejo levantaram-se esperançosas e ansiosas para serem vistas como a mais bela dama do baile da família Byrne. Cada uma usava de superstições próprias e orações repetitivas para quem também, uma promessa amorosa fosse garantida. Afinal, muitas estavam ansiosas — desesperadas — por um pretendente. 

Na Colina dos Ventos Verdes, Alessia encontrava-se mais preocupada com o poema que declamaria na frente de uma pequena multidão — que ainda assim a deixava bastante nervosa —, do que com os detalhes do seu vestido. Andava de um lado para o outro em seus aposentos, a decorar seus versos sussurrando-os de olhos fechados, segurando firmemente um pedaço de papel em suas mãos, fazendo a Sra. Callum mal concentrar-se em costurar a barra de seu vestido.

— Menina Alessia, fique quieta, sim? Não conseguirei terminar a tempo a barra do seu vestido desta forma. E ainda vou acabar espetando meu dedo na agulha mais uma vez.

— Desculpe-me, Sra. Callum — Alessia disse, por fim, ficando parada em um único lugar. — É que estou com os nervos à flor da pele. Eu não me importo em tanto com a ideia deste baile, esta nunca foi a minha real intenção, apenas fico receosa se aquelas pessoas irão abrir o coração e escutar o que eu tenho a lhes dizer com meu singelo poema que escrevi com tanto afinco.

Como era regra essencial do baile, Alessia, assim como todas as outras jovens que iriam esbaldar-se nas danças e diversão, trajava um belíssimo vestido branco. Um vestido antigo achado no fundo do baú que pertencera à Alexandra Kingstone, sua mãe.

O vestido era feito de tecido macio e fluído, resplandecendo em um branco caprichoso, como se a própria neve estivesse a cobrindo. O decote era modesto, com gola alta e mangas curtas que destacavam seus braços esguios. O corpete foi ajustado e adornado com rendas delicadas, fitas de seda, e várias pérolas, enquanto a saia fluía graciosamente até o chão em uma cascata de camadas e babados.

O cabelo de Alessia foi elaborado em um penteado simples, com suas mechas curtas domadas em singelos cachos que ela mesma fizera, enrolando as madeixas com dois dedos, emoldurando o seu rosto. Ela usava um par de sapatos de cetim tingidos de branco para combinar com o vestido, e carregava um pequeno leque e uma retícula¹ verde, ambos escrupulosamente bordados com desenhos de ramos de flores de cerejeiras brancas.

Ao se olhar no espelho, Alessia sentiu em seu âmago um misto de empolgação e nervosismo, pois cruel era o tempo e logo o baile se aproximava. Ela bem sabia que o evento seria repleto de música, dança e o perfume inebriante das donzelas que usariam para chamar a atenção dos cavalheiros, e mal podia esperar para ver todos os seus amigos e conhecidos.

 Ao mesmo tempo, de repente, ela passou a se preocupar se o seu próprio vestido e acessórios encontravam-se à altura do baile, e se ela seria capaz de dançar sem tropeçar em suas abundantes saias, pois achava-se uma completa estabanada. E, céus, como ela almejava dançar com Nicholas. Até ruborizou sem pudor com tal pensamento, logo ela que evitava qualquer contato com a dança.

Os seus aposentos estavam impregnados com o perfume de jasmim. Ela respirou profundamente. Alessia detestava receber atenção e olhares pertinentes, mas estava contente com sua decisão em participar do baile. Ela imaginava o baile em pleno andamento, com outras jovens damas e cavalheiros vestidos com trajes igualmente bonitos, misturando-se e dançando como se estivesse em meio a um mar de lírios.

Cecilia auxiliava-a enfeitando o cabelo loiro da moça com uma presilha prateada.

— Este vestido realmente combina com a senhorita — Cecilia falou, em um suspiro sonhador. — Para mim, já és vencedora, Srta. Alessia. Digo isto mesmo que a senhorita não acredite em mim.

Colina dos Ventos VerdesWhere stories live. Discover now