No interior de Minas

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Só pra esclarecer, aqui em Minas, mais especificamente no interior, quando uma pessoa nova chega, não se pergunta o nome, mas pergunta: cê é fi de quem? Pois certamente com essa informação ela vai saber de qual família a pessoa é.

Por isso aquele velhinho nos perguntou:

- Cês são fia de quem?
- Uai seu Virgulino, não tá conhendo a gente? - respondeu minha irmã - somos Sofia e Alice da dona Maricota do seu Nenzinho.
- Nooossa. Como cês tão bunitas. Nem tava conhecendo ocêis.
- Obrigada.
- Cês tão boas?
- Estamos sim, e o senhor mais a dona Firmina?
- Tamos indo minha fia.
- Que bom.
- Vieram passear?
- Sim, descansar um pouco daquela correria de BH.
- E essa aí? - perguntou ele apontando pra Sabrina.
- É nossa amiga. Trabalha com a Alice e veio passear com a gente. E o Senhor? Oque faz tarde da noite na rua?
- Vim na rodoviária pra comprar umas quitanda.
- Vai lá, a gente se vê por aí. Lembranças a dona Firmina.
- Oque é quitanda? - perguntou Sabrina me puxando pro lado falando baixinho.
- Quitanda é bolo, biscoito, broa...
- Acho melhor a gente colocar uma legenda embaixo de cada um aqui pra Sabrina entender - disse minha irmã rindo.
- Esse povo do interior fala tão diferente !!! - comentou Sabrina - mas ao mesmo tempo acho bonitinho.
- Também achamos.

Fomos caminhando por uma rua com passeio bem largos. A cidade era muito limpa e bonita. De repente me deparo com a praça da Matriz como é chamada onde tem a igreja bem no centro com jardins bem cuidados. A Sabrina olha tudo com cara de satisfação.

- Nossa amor, que cidadezinha mais gostosa. Parece aquelas novelas antigas.

De repente vemos um aglomerado de pessoas. Era um bar bem espaçoso com uma varanda enorme. Era o point da cidade. Passamos e as pessoas nos olhavam curiosas. Depois voltamos as ruas desertas da cidade. Depois de uns cinco quarteirões viramos a direita e descemos até a rua do Cerrado e finalmente chegamos.

Minha mente volta no tempo de quando eu morava ali. Várias lembranças vêm a mente todas misturadas. A cada pedacinho do lote e cada utensílio que parecia que estava no mesmo lugar a anos, me trazia uma lembrança. A Sabrina achou estranho a gente ir chegando e abrindo portãozinho sem chave nem nada. Apenas uma argolinha passada sobre um toco que qualquer um abriria.

- Ô de casa...anuncia minha irmã.
- Oooi - responde minha mãe lá dentro.

Ela sai com um sorriso enorme no rosto dando um abraço longo na minha irmã e depois vem e me dá um beijo no rosto e me abraça apertado e depois olha pra Sabrina.

- É minha amiga do serviço mãe.
- Prazer minha fia - e da um abraço apertado na Sabrina deixando ela sem jeito.

Em seguida vejo meu pai abraçando a Sofia e em seguida me dá um abraço também. Apresento a Sabrina, mas ele apenas cumprimenta ela com um aperto de mão. Sempre foi muito respeitoso com quem não conhece.

- Nossa nem tô acreditando que ocêis tá aqui - disse minha mãe toda feliz.
- Pode acreditar, porque nós também estamos muito feliz de estar aqui com vocês. Tava com muita saudade - comentou minha irmã.
- Mamãe, tá tudo no mesmo lugarzinho, parece que foi ontem que saí daqui.
- A gente acostuma com as coisinhas da gente né - respondeu minha mãe arrumando a saía pra sentar.
- E ocê, minha fia , oque tá fazendo em BH? - perguntou meu pai.
- Estou trabalhando numa confecção.
- Confecção? - perguntou ele sem entender.
- É um lugar onde faz roupas caras, e a Alice é quem desenha todas elas - respondeu minha irmã orgulhosa de mim.
- Que chique - comentou minha mãe - e você menina? - disse carinhosamente pra Sabrina.
- Eu trabalho ao lado da Alice e dou continuidade ao trabalho dela mandando pras pessoas que vão fazer o molde, depois pra pelotis e depois pra prova e várias outras coisas.
- A Sabrina é meu braço direito. Me ajuda a escolher os tecidos certos, as cores da estação. Trabalhamos juntas - disse - e também é minha melhor amiga.

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