Mundo pequeno

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POV Laura

Uma das melhores sensações que a gente tem é quando recebemos alta, após ficar vários dias internada. Parece que estamos saindo de uma prisão. Voltamos dando valor as pequenas coisas, como levantar da cama e pegar um copo de água, ir na geladeira e procurar alguma guloseima pra beliscar, sair pra ir a padaria ou supermercado. Coisas simples que gostaríamos de fazer, mas não podemos quando estamos em um hospital.

A minha alta saiu algumas horas antes da do Noa. Antes de sair eu fui até ele demos um abraço apertado.

- Vamos nos ver em breve - disse ele.
- Vou cobrar o almoço que me prometeu viu.
- Vou fazer questão de cumprir minha promessa. Vai ser um privilégio pra mim.
- Até logo, então - disse dando um tiauzinho.

Saí com minha mãe e apresentamos nossa alta na portaria. Saí respirando um ar fresco e revigorante.

- Deixei meu carro num estacionamento a dois quarteirões daqui. Pode ir andando ? - perguntou minha mãe atenciosa.
- Claro que sim mamãe. Estou boa agora - disse com um sorriso pra ela.
- Se importa de passar na casa de uma amiga ? Vai ser rápido.
- Tudo bem. Não me importo não.

Chegamos ao estacionamento e logo achamos o Corolla na minha mãe. Fomos por um caminho que não conhecia... bem diferente do meu bairro. Minha mãe estava seguindo o waze até que ele avisou: "você chegou ao seu destino". Paramos em frente a uma casa bem bonitinha. Minha mãe bateu a campainha e uma senhora bem jovial nos atendeu.

- Tamires...a quanto tempo menina - cumprimentou minha mãe abraçando a senhorinha simpática, demonstrando que já conhecia ela a um bom tempo.
- Isabela !!! Quem e vivo sempre aparece heim. Nossa, você está ótima. Os anos tem sido generosos com você amiga - disse a senhorinha olhando minha mãe de cima  abaixo - essa e sua filha ? - perguntou olhando pra mim.
- Sim, é a minha filha Laura.
- Nossa, que menina linda - disse a senhorinha olhando fixamente pra mim - eu tenho uma sobrinha da sua idade. Vamos entrar e fiquem a vontade.

Entramos e vi uma garotinha gordinha e ruivinha com umas sardas no rosto. Era a coisa mais fofa que eu já tinha visto. Ela abriu um sorriso e veio nos cumprimentar. Era extremamente educada. Depois de cumprimentar minha mãe, me chamou pro seu quarto. Quando entrei, fiquei fascinada. Era o quarto mais fofo que já tinha visto. Me convidou pra sentar em sua cama. Sentei com cuidado com medo da minha fralda aparecer.

- Meu nome é Thaís, qual é o seu? - disse ela com uma voz de criança.

Que fofinha, pensei eu. Parece uma menininha, apesar de ser da minha idade.

- Eu me chamo Laura.
- Que nome lindo. Combina com você.
- Obrigada. Thaís, seu quarto é um sonho.
- Literalmente - disse ela rindo.
- Como assim? - perguntei intrigada.
- Eu tive um sonho de um quarto desse mesmo jeitinho, e quando acordei eu resolvi colocar em prática.
- Sério ?!!! - perguntei abismada.
- O sonho está nítido na minha mente. Cada detalhe. É meio infantil mas...
- É perfeito... - interrompi ela.

Uma coisa que me chamou a atenção foi uma sapateira com umas letras cuidadosamente desenhadas escrito fraldas.
Nisso a Thaís levanta da cama e abaixa pra pegar uma pasta na última gaveta do guarda roupa. Então sua bermuda abaixa revelando uma...fralda ? Não pode ser...devo estar sonhando...não é possível. Thaís levanta e vem sorridente em minha direção como se nada tivesse acontecido.

- Vo... você... você está usando uma fral...da? - disse meio boba.

Na hora Thaís ficou sem jeito e corou o seu rostinho de sardas.

- Aí Thais... perdão...desculpa. É que fiquei fascinada com a cena mais fofa que já vi na vida.

Thaís olhou pra mim com menos vergonha e disse:

- Como assim ?

Mais doque depressa, pra não ficar mais constrangedor ainda, eu levantei minha blusa revelando minha fralda falando:

- Eu também uso fralda...eu sou como você.

Um sorriso se formou no rostinho da menina ruivinha.

- Então você é a menina que ia comprar fraldas da minha tia - disse ela.
- Como assim - falei sem entender nada.
- Uai, sua mãe não te disse porque veio aqui?
- Não. Só falou que ia passar na casa de uma amiga.
- Minha tia trabalha numa fábrica de fralda e vende bem mais barato doque as do mercado e de qualidade muito superior.
- Nossa, eu não sabia.
- Mas porque você usa fralda?
- Eu tenho ascite e tomo um diurético que me faz fazer xixi de minutos em minuto. Estou vindo do hospital. Essa fralda aqui foi a enfermeira quem me colocou.
- E oque está achando de usar fralda?
- Olha. Antes eu já seguia vários conteúdos abdl, então, está sendo um sonho se realizando. Meio de um modo forçado mas estou amando. E você?
- Fico meio envergonhada de falar, mas é por puro fetiche.
- Que fofinha Thaís. Não tem de envergonhar. É lindo. Inclusive conheci umas garotas lindas que foram no hospital me visitar e usam fralda.
- Sério? Que demais.
- Eram três. Uma de cabelo lisinho e muito linda e tinha uma namorada gordinha que era a coisa mais fofa do mundo e uma outra que acho que é a garota mais linda que eu já vi na vida.
- Por um acaso o nome delas eram Alice, Sabrina e Maria? - perguntou ela com um sorriso malicioso.
- Como você sabe ?!!! - perguntei incrédula.
- Elas não falaram com você que tava faltando uma não? - perguntou ela com a mãozinha na cintura.
- Não me diga que você é a namorada daquele garota linda ? - falei ligando os pontos.
- Oque que minha amigas estavam fazendo no hospital ? - perguntou pensativa.
- A irmã de Alice foi minha enfermeira.
- A Sofia?
- Isso mesmo.

Então nós duas sentamos exaustas na cama abismadas com as coincidências.

- Gente... Que mundo pequeno - disse por fim.
- Então você é a garotinha que entrou no nosso grupo fraldinhas fofas.
- A criação do grupo foi ideia minha - disse rindo.
- Uau...parece que tem um garoto também.
- É o meu amigo de quarto. O Noa. Ele é uma gracinha. Você vai gostar dele. E usa fralda de tempo integral igual nós. Tem um problema parecido com o meu. Ficamos muito amigos. E como conheceu a Maria?
- Bem. Como vai fazer parte do nosso grupinho, vou te contar toda história de como tudo começou.

Fiquei fascinada a medida que ela ia contando. Como a Alice e Sabrina se apaixonaram e depois como uma garota linda do interior veio trabalhar em uma confecção em BH e como essa garota conheceu uma outra que trabalha em um hotel e as várias aventuras que passaram juntas.

- Isso daria um livro sabia? - falei afinal.
- Daria sim.

Então mais a vontade fiz um pedido:

- Já que nós conhecemos e não temos mais segredos eu poderia olhar dentro desse armário escrito fraldas ?
- Claro - disse ela - fiquei a vontade querida.

Quando abri, eu quase dei um troço. Que coisa maravilhosa. Eram várias pilhas de fraldas cuidadosamente empilhadas. Passei a mão de levinho sentindo a delicadeza daquelas peças. Nunca tinha visto nada parecido nem em fotos. O armário estava selado de fraldas de cima abaixo. Depois ela abriu o guarda roupa revelando mais duas pilhas de fraldas lindas.

Nisso minha mãe abre a porta do quarto pegando nós duas com as fraldas a vista.

- Mamãe, ela é a namorada de uma das meninas que foram me visitar no hospital.
- Nooossaaa. Como descobriram isso? - perguntou minha mãe.
- Fomos conversando e as coisas foram encaixando - disse fazendo um gesto com a mão como se estivesse empilhando caixas.
- Vamos embora garotinha. Está vindo de um hospital. Tem de tomar um banho e descansar.
- Comprou muitas fraldas mamãe?
- Não...só dez pacotes.
- Que exagerada - disse rindo.
- Não é muita coisa não, viu amiga - disse Thaís.
- Mamãe...posso ter um quarto igual ao da Thaís? - perguntei entusiasmada.
- Perguntou se ela vai permitir isso? - falou minha mãe me encarando.
- Claro...não tem problema - disse a ruivinha - e se quiser posso te ajudar.
- Que tal marcarmos o próximo sábado lá em casa. Aí você chama todo mundo - sugeri.
- Vamos colocar no grupo uai - disse a Thaís.
- Isso mesmo - confirmei.

Despedi da Thaís com um forte abraço como se fosse uma velha amiga. No caminho pra casa eu perguntei a minha mãe:

- Porque não me disse que ia comprar fraldas ?
- Não queria te constranger amor.
- Entendi - respondi pensativa.

A história de Alice Onde as histórias ganham vida. Descobre agora