Cabelo azul

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POV Thaís

Depois que a Laura saiu eu ainda fiquei pensando no tamanho da coincidência. Minha tia ficou pasma. Resolvi sair um pouco. Fui no supermercado comprar algumas coisas pra minha tia.

Estava com uma bermuda vermelha cintura baixa e uma blusinha branca que tampava minha fralda, já que a bermuda não fazia esse papel.

Entrei no supermercado e peguei um carrinho pequeno, aquele que tem duas cestinhas, uma em cima da outra. Peguei minha pequena lista, escrita em uma folha com desenhos de ursinhos, de um pequeno bloquinho. Fui pegando batata palha, creme de leite, iogurte, leite...quando peguei o leite veio um pensamento: se essas pessoas soubessem que esse leite é pra minha mamadeira...e ri baixinho de mim mesma.

Passando por um corredor lembrei de pegar o sal. Me abaixei pois ficava na última prateleira de baixo. Como sempre, foi só eu abaixar, e a blusa subiu, revelando minha fralda, mas como não tinha ninguém no corredor eu continuei abaixada olhando os preços. Estava distraída quando aparece uma garota. Ela para e fica imóvel olhando minha fralda. Quando olho pra ela, ela olha uns produtos na prateleira a frente tentando disfarçar. Quando levanto, eu vejo que é a mesma menina do ônibus do dia anterior. A de cabelo com mechas azuis. Estava com um vestidinho soltinho, preto todo estampado de minúsculas flores brancas, vermelhas e azuis. Estava com uma tiara azul no cabelo e uma sandalhinha de couro. Olhei rapidamente pra cestinha do supermercado em sua mão e vi um pacote de fralda. Olhei fixamente pra ela e disse baixinho:

- Bom dia.
- Bom dia - respondeu ela timidamente.

Então resolvi estender o cumprimento pra uma conversa informal:

- Foi você que sentou ao meu lado no ônibus ontem tarde não foi ?
- Foi sim... você tem boa memória.
- Não esqueceria um rosto tão bonito e um cabelo tão estiloso como o seu - em seguida eu pensei: Thaís sua doida, oque você está falando ?
- Obrigada...eu fiz umas coisinhas no cabelo, pois não tive a sorte dele vir pintado de fábrica, como o seu.
- Como sabe que eu não pintei ?
- Quando é natural a gente percebe... é muito mais bonito.

Começamos a andar lado a lado pelos corredores do supermercado. Logo meus ouvidos ouviram um barulhinho bem característico. Aquele barulhinho inconfundível de fralda. Se fosse outra pessoa não perceberia, mas nós que já estamos familiarizadas com esse som, não temos dúvida. Olhando pro pacote de fralda na sua cesta, eu dou uma batidinha no pacote e falo com naturalidade:

- Já usou dessa?

Ela ficou vermelha igual pimentão. Abaixou a cabeça e começou a gaguejar:

- Bem...eu...éééé... que...
- Cama...não precisa ficar com vergonha não. Eu também uso... você mesma já viu.
- Como soube ? - perguntou ela intrigada.
- Pelo barulhinho, esse pacote de fralda, uma foto de uma garota de fralda em seu celular e ainda deu um like pra Mariana.
- Nossa... você conhece ela?
- Claro que conheço aquela mexicana fofinha. Não perco nem um vídeo dela. Estou até pensando em ser membro do canal.
- Também tenho vontade...os melhores vídeos são pros membros.
- Mas você não respondeu a minha pergunta...já usou essa ?
- Ainda não.
- Não vale a pena viu...vamos lá que te mostro outra bem melhor por apenas cinquenta centavos a mais.
- Você conhece bem, assim ?
- Pode ter certeza que sim.
- A quanto tempo você usa ?
- Uso a mais de um ano.
- Uau... que legal. Usa por necessidade?
- Não...só por paixão mesmo. E você?
- Também. Comecei a usar direto agora que estou morando sozinha.
- Antes morava com família ?
- Sim. Tenho duas irmãs e eu sou a do meio. Imagina três moças morando no mesmo quarto. Uma vez acharam minhas fraldas. A irmã mais velha foi compreensiva, mas a mais nova ficou me zuando e ainda começou a me chantagear em contar pra minha mãe. A minha irmã mais velha deu uma dura nela e mandou parar, senão ia falar pra nossa mãe que pegou ela beijando uma menina na escola. Nós duas guardamos segredo pra não prejudicar ela. E pelo jeito ainda andam se encontrando as escondidas. Depois desse episódio eu dei uma trégua nas fraldas. Recomecei a um mês quando aluguei um apê.
- Nossa...que história heim.

Chegamos na sessão das fraldas. Peguei o pacote da cestinha dela, coloquei na prateleira e peguei outro de outra marca colocando no lugar do outro.

- Aquela que você tinha pego é muito ruim e tem oito fraldas...essa aqui é muito melhor e tem nove fraldas no pacote e praticamente pelo mesmo preço.
- Obrigada pela dica.
- De nada...foi um prazer. Mas se quiser comprar mais, minha tia trabalha em uma fábrica de fraldas e vende por um preço bem abaixo do mercado.
- Uau... é claro que vou querer. Ela tem alguma loja?
- Não... é na minha casa mesmo. Moramos só nós duas lá. Pode ir sem receios.
- Que demais - falou a menina de cabelos azuis.
- Vou anotar seu número aqui - disse pegando o celular - qual é o seu nome?
- Bruna, e você?
- Eu sou a Thaís. Você mora no bairro?
- Estou morando duas ruas acima daqui.
- Eu moro na rua da pracinha, número 55.
- Sim...sei qual é.
- Se quiser ir lá em casa hoje, minha tia vai estar lá a noitinha e eu não trabalho.
- Trabalha em que? - quis saber Bruna.
- Trabalho em um hotel a noite em dias alternados...e você?
- Sou recepcionista numa clínica de estética. Este mês estou de férias.
- Que beleza heim...não vai viajar?
- Não... o dinheiro que ia gastar em viagem, vou economizar e fazer um estoque de fraldas. Estou gastando bastante, agora que estou usando em tempo integral.
- É muito bom né.
- Conseguindo um preço melhor com sua tia, vai ajudar bastante.
- E vai se surpreender com a qualidade. Além de barata é muito boa.
- Isso é ótimo.

Fomos fazendo o resto de nossas compras até sairmos do supermercado.

- Então, posso te esperar hoje?
- Pode sim. Não vou furar.

Nos despedimos e cada uma foi pra sua casa. Estava passada. Conheci duas garotas que usam fralda no mesmo dia. Era muita coincidência. Voltei pra casa com a fralda pesada de xixi. Fiz muito enquanto conversava coma a Bruna. Estava doida pra contar as novidades pra turma. Acabei mandando um áudio enorme pra Maria contando tudo da Laura e da Bruna.

Às dezenove horas em ponto a Bruna bateu campainha na minha casa. Atendi prontamente. Estava linda com uma jardineira e um bustiê. Se olhasse atentamente nas laterais, veria a fralda dela. Deve ser uma das nossas: pensei.
Pedi que entrasse:

- Vamos entrar Bruna. Minha mãe não chegou, mas não demora.
- Com licença - disse educadamente.
- Venha aqui no meu quarto enquanto esperamos.

Logo que ela entrou, ela ficou encantada olhando pra todo lado.

- Seu quarto é lindo Thaís. Que fofura.
- Obrigada amiga.

Da mesma forma que a Laura, Thaís também grudou os olhos no meu armário escrito fraldas.

- Está curiosa heim. Pode abrir - disse me afastando.

Quando abriu, ela ficou boquiaberta olhando minhas fraldas empilhadas.

- Uau !!! - disse por fim - isso é um colírio para os meus olhos !!! Agora quero um armário desse.
- Isso era uma sapateira. Tirei os sapatos e coloquei fralda...acho que ficou melhor.
- Ficou lindo. Vou fazer o mesmo lá em casa.

Nisso minha tia chegou. Saí do quarto com a Bruna.

- Oi titia. Essa aqui é a Bruna e está interessada em comprar fraldas.
- Que bom... prazer - disse minha tia cumprimentado. Qual é o tamanho da fralda que você precisa?
- E fralda pra ela titia.

Vi o rosto da Bruna corar.

- Não precisa ficar com vergonha não amiga. Hoje mesmo veio uma menina da nossa idade comprar fralda pra ela também.
- Pra você pode ser tamanho M - disse minha tia.

Foi no quarto e voltou com uma sacolona imensa cheia de fraldas.

- Eu estou vendendo as fraldas individuais...fica bem mais baratas pois não cobro a embalagem - disse minha tia.

Foi tirando várias e empilhando direitinho na frente da Bruna em cima da mesinha da sala. Bruna ficou um tempo, apenas admirando. Depois pegou uma e apertou sentindo a maciez e abriu pra ver como era por dentro. Acabou escolhendo trinta fraldas. Colocamos todas arrumadinhas em uma sacola opaca. Ficou entusiasmada com a beleza e maciez da fralda e também pelo preço. Disse que sempre vai comprar com a minha tia. Bruna saiu daqui abraçada com sua sacola de fraldas feliz da vida.

A história de Alice Onde as histórias ganham vida. Descobre agora