Domingo no interior

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Se quisessem ver uma menina feliz era só olhar pra Maria. Estava eufórica com a nova experiência. E por incrível que pareça estava bem a vontade com a fralda, acho que por causa da nossa companhia. Até que perguntou:

- Ei meninas, como a gente faz pra ir no banheiro? Temos de tirar a fralda?
- Não estou acreditando que você está me perguntando isso - disse colocando as mãos na cintura.
- Sei que a pergunta é boba, mas eu faço muito xixi. Certamente vai vazar.
- E eu te respondo que certamente não vai vazar.
- Aí menina, será?
- Pode confiar !

Aí vimos a carinha da Maria olhando pro nada. E pela fisionomia dela vimos que estava fazendo seu xixizinho, mas também percebemos que estava amando aquilo.

- Uau, que quentinho gostoso.
- Vazou?
- Espera aí - falou apalpando a parte da frente, do meio e atrás da calça - não vazou nadinha. Nossa... que incrível.
- Eu te falei uai. E tem mais. Se precisar fazer cocô, pode fazer a vontade que não sai nenhum cheiro.
- Nossa, vocês fazem ?
- Claro que fazemos. Não precisamos de banheiro. Fazemos tudo na fralda - explicou Sabrina.
- Vocês usam o tempo todo?
- Não, só vinte e quatro horas por dia - falei.
- Hum, engraçadinha. É o meu sonho.
- Olha que sonhos se realizam viu. Imaginava estar passando por isso agora? - indagou Sabrina.
- Nunca.

Maria não parava de falar o tanto que estava feliz com aquilo tudo. E me agradeceu um monte de vez por eu ter caído, pois se eu não tivesse caído, ela não iria ver nossas fraldas e consequentemente ela não estaria de fralda agora. Tudo por causa de um tombo. Maria não queria ir pra casa, mas as barraquinhas já estavam fechando. Então Maria fala:

- Quero dormir de fralda. Tenho de colocar outra?
- Não precisa meu bem - expliquei a ela - essa fralda que está usando dura a noite toda.
- Sério ?
- pode ficar tranquila...essas fraldas aguentam uns quatro xixis.
- Que beleza !!! Outro sonho que vai se realizar. Dormir de fralda. Isso é, se eu conseguir dormir né.

Rimos da empolgação dela.

- Você podia almoçar lá em casa amanhã. Aí ficamos mais tempo juntas.
- Não quero incomodar sua mãe.
- Deixa de ser boba. Uma boca a mais não vai fazer diferença.
- Então vou aceitar. Além do mais, a comida da sua mãe é uma delícia !
- É mesmo viu - confirmou Sabrina.

Chegando em casa minha mãe falou:

- Pelo jeito gostaram da quermesse heim.
- Oque é quermesse? - quis saber Sabrina.
- Minha mãe chama a feirinha de quermesse, pelo fato de ser ao lado da igreja - explicou Sofia.
- Quermesse é qualquer feira paroquial - completei.
- Vão durmi que já tá muito tarde.

E foi oque fomos fazer. Dormi como uma pedra. Foi um dia agitado. Dormi pensando em como poderia ajudar ainda mais, a nossa amiguinha Maria.

Quando acordamos fizemos o mesmo processo de troca de fraldas. Eu e a Sabrina, cada uma trocando a fralda da outra. Era tranquilo pois a porta do quarto tinha tramela e só abre por dentro e não tinha o perigo de minha mãe entrar e nos pegar num momento constrangedor.

Depois de um café da manhã caprichado, nós fomos na casa da Maria. Cumprimentamos a dona Dalva, mãe da Maria. Então ela diz:

- Nunca vi a Maria tão animada. Tá toda esprevitada.
- Nós fomos criadas praticamente juntas né - justifiquei eu.

Nisso Maria aparece e nos chama pro seu quarto.

Era bem simples com mobília antiga, bem típica do interior. Ela abriu o guarda roupa e mostrou um baú. Abriu o cadeado e mostrou as fraldas arrumadinhas lá dentro.

- Estou guardando aqui. Só eu tenho a chave. Mas mesmo assim, minha mãe não mexe nas minhas coisas. O cadeado é só por segurança mesmo.
- Cabe muita fralda aí dentro né - disse eu.
- Sim, tava pensando em ir em Paraopeba  que é uma cidade aqui do lado e comprar mais fraldas. Onde ninguém me conhece.
- É uma boa solução.
- Mas essas aqui já são um começo. Eu nunca pensei que fosse tão gostoso de usar. Parece coisa de outro mundo.
- Nós que o diga - comentou a minha namorada.

Então escutamos a voz da dona Dalva nos chamando lá da cozinha.

- Ei meninas, vem tomar um cafezim.
- Obrigada dona Dalva, mas a gente não toma café.
- Num querdito... é sério?
- Sim, mas muito obrigada.
- Quer um chá de funcho intão?
- Obrigada, mas acabamos de lanchar lá em casa.
- Que pena.
- Dona Dalva...estamos pensando em indicar a Maria pra trabalhar em BH. Oque a senhora acha disso?
- Bão dimais uai. Aqui nesse fim de mundo não tem trabaio que presta.

Vimos um sorriso se formando no rosto da Maria.

- Mas é só uma tentativa. Não temos nada certo ainda.
- Se conseguir vai ser bão dimais.
- Tive uma ideia - disse olhando pra Maria - vamos tirar algumas fotos suas. Assim podemos te indicar lá na confecção.
- Legal.
- Vem aqui - falei puxando ela pra dentro do quarto e abrindo o guarda roupa dela - vamos ver oque você tem aqui.

Fizemos uma seção de fotos. Com várias roupas e várias poses no quintal da casa dela mesmo, com um fundo onde tinha uma roseira. As fotos ficaram um arraso.

- Pronto, com isso aqui, duvido que não te chamem - falei triunfante do meu trabalho.
- Além de linda você tem todo jeitinho de modelo - comentou Sabrina - a facilidade que faz as poses e tem um sorriso lindo e natural.
- Obrigada Sabrina - disse pegando na bochecha da minha namorada.
- Eu tô vendo isso viu - repreendi a Maria.

Nos despedimos da Maria e fomos dar um último passeio no centro da cidade.

- Amor, aquele baú da Maria cabe mais uns quatro pacotes de fralda né.
- Cabe sim. E eu posso comprar, ninguém me conhece mesmo.
- Isso mesmo. Cada uma de nós da dois pacotes. Pode ser?
- Claro. Não é caro não. E a gente não ganha tão mal assim.
- Você é a melhor namorada do mundo sabia?

E assim fizemos. Fomos em uma farmácia e pedimos quatro pacotes da melhor fralda que a gente conhece. Fomos pra casa da Maria e ficamos vigiando de longe. Esperamos a mãe da Maria dar uma saidinha e corremos pra lá. Chamamos e logo que Maria nos atendeu já fomos entrando sem formalidades antes que a dona Dalva voltasse. E já fomos enfiando no quarto dela. E ela sem saber:

- Meninas, oque que tá acontecendo. Porque todo esse alvoroço.
- Temos uma entrega urgente pra senhorita Maria - disse entregando uma sacolona pra ela.
- Não acredito - disse ela olhando dentro da sacola.
- Acho que cabe nesse seu baú né.
- Vocês não existem - disse ela caindo sentada na cama - simplesmente não existem.
- Existimos sim... óia nois aqui óh - disse Sabrina sapeca.

Então ela pegou meu rosto e me deu um beijo na bochecha e fez o mesmo com Sabrina.

- Eu simplesmente não sei oque falar.
- Então não fale nada e guarde isso tudo antes de sua mãe chegar.

Rapidamente ela pegou a chave que fica em cima do guarda roupa e abriu o baú. Vimos que só tinha cinco fraldas lá. Significa que já tá usando outra. Levantei sua blusa e vi a beirada da fralda.

- Pensei em guardar pra uma ocasião especial - disse Maria - mas qual ocasião vai ser mais especial doque um almoço na casa das minhas amigas de fralda?
- Agora tem fralda pra muito tempo. Pode usar direto - disse eu.
- Amanhã mesmo eu ia em Paraopeba  que é uma cidade aqui perto comprar mais, mas agora posso esperar. Vou juntar dinheiro pra comprar mais.
- Vai menina, arruma isso logo - apressei ela pra arrumar as fraldas no baú.

Ela apenas colocou os pacotes fechados mesmo e foi a conta. Ficou certinho no baú. Se comprasse mais um pacote não caberia.

- Vamos lá...minha mãe deve estar terminando o almoço - disse dando um tapinha na bunda fraldada da Maria.

Ela olhou pra mim com um sorriso como sinal de aprovação. Chegando na minha casa:

- Que bom que ocê veio Maria. A Alice é doida cum cê.
- A Alice é um amor de menina. Gosto demais dela. Credita que ela tá arrumando serviço pra mim lá em BH ?
- Sério? Que bão menina.

Nisso Sofia chegou abrindo as panelas:

- Uau, isso tá muito bom. Vamos almoçar? - disse ela entregando um prato pra Maria e outro pra Sabrina - visitas na frente.

Almoçamos deliciando a comida da minha mãe que era sempre uma delícia, por mais simples que fosse. Em seguida aproveitei o resto do dia pra ficar com minha mãe. Maria ficou também e teve uma conversa animada com Sabrina e Sofia. Eu ajudei minha mãe com a louça e depois fui mostrar a ela as roupas que eu criava lá na confecção pelo celular. Passamos uma tardezinha agradável em família. Até que chegou a hora da gente partir.

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