O Abismo

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A cena poderia até ter deixado Minerva preocupada se fosse em outra época, mas, para ser sincera, ela já tinha visto Vincent em estados piores do que aquele.

Seu irmão caçula havia surgido na sala do castelo minutos antes e foi direto ao chão, desacordado. Estava imundo, o que era uma maneira bastante gentil de descrever. Seus cabelos estavam molhados, as roupas completamente sujas de lama e em seu rosto havia um corte, sangue cobria sua bochecha.

Quando Minerva o subiu para seu quarto e retirou-lhe as roupas para que pudesse limpa-lo e curar as feridas, viu que ele tinha hematomas horríveis nas costas e na região de costelas, tão intensamente roxos que pareciam quase negros. Fora isso, ele possuía um corte no braço, que estava totalmente sujo de sangue, assim como em seu rosto. E suas costelas estavam certamente quebradas, embora Minerva não tivesse avaliado mais a fundo.

– Eu deveria ter ido com ele – Bash resmungou ao seu lado.

– Todos podemos concordar que foi uma ideia ridícula ele ir sozinho – comentou Minerva, irritada e um tanto cansada.

Ela havia recebido o livro que Vincent quisera tanto ir buscar. O Grimório de Maldições Perpétuas Ancestrais. Se soubesse antes que este era o livro que seu irmão tanto queria, o teria impedido de ir, nem que tivesse que tê-lo prendido na cama para isso.

Vincent sempre tivera certa inclinação para problemas, deste que era jovem agia como um maníaco suicida. Antes, Minerva acreditava que este era um comportamento de alguém com extrema arrogância, que acreditava que nada pudesse realmente feri-lo ou mata-lo. Agora, ela poderia até acreditar que, na verdade, Vincent não tinha medo de morrer, que, para ele, esta não seria uma conclusão assim tão terrível.

Agora, depois que Minerva o lavou na banheira, secou seu corpo e o cabelo, depois de ter feito os curativos iniciais, Vincent estava deitado reto na cama como se estivesse morto, o cobertor havia sido puxado até seu pescoço e suas pálpebras estavam serenamente fechadas.

– Eu senti sua energia chegar a um nível preocupante – contou-lhe Bash – E lhe dei a minha.

– Acho que ele teria morrido sem sua ajuda – Minerva falou.

Bash deu um soco contra a mesa do quarto de Vincent, o que fez alguns pincéis caírem no chão. O baque não foi capaz de acordar o feiticeiro, mas fez Minerva se sobressaltar.

– Eu já estou cansado desse jeito de Vince. Essa dança com a morte da qual ele parece gostar tanto. Estou cansado de ele querer sempre fazer tudo sozinho. Por quê? – Sebastian estava com o olhar perdido, sem ver nada realmente e repetiu a pergunta em um sussurro: – Por quê?

– Porque quem sente a dor da perda não quer nunca mais senti-la. Você, melhor do que ninguém, sabe disso, Bash. – Minerva o encarou intensamente.

– Nossa, quebraram o feiticeiro – Beck falou, atraindo a atenção para si. Ele estava apoiado contra o portal da porta do quarto de Vincent de braços cruzados.

Bash encrespou o nariz e lançou um olhar afiado para o vampiro, suas pupilas ficaram finas e, se estivesse em sua forma felina, provavelmente seus pelos teriam se arrepiado.

– O que faz aqui, vampiro?

– Só vim ver se o plano tinha dado certo, familiar.

– Minerva? – Maggie surgiu por detrás do vampiro. Ela olhou primeiro para a feiticeira, que estava sentada em uma poltrona, depois para Vincent. Quando o viu, ela levou as mãos a boca e foi direto até ele. – O que houve?

– Ele está bem – Minerva garantiu e suspirou, em seguida. – Quer dizer, vai ficar.

Maggie se ajoelhou ao lado da cama e passou a mão carinhosamente sobre a bochecha sem o corte de Vincent. O gesto fez Minerva franzir o cenho e sentir um certo incomodo. Ela olhou novamente para Beck, que já a encarava.

O FeiticeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora