O Feiticeiro

Destino

À partir da conexão mental feita por Vincent, os três irmãos começaram a atuar como se seus movimentos fossem conectados por fios, um sempre sabia onde o outro estava e um sempre sabia quando atacar e quando o outro iria defender. Era majestoso, como uma dança, onde cada um dos três sabia exatamente todos os passos da coreografia.
Agora, Salvatore parecia realmente acuado, recuando um passo atrás do outro, olhando de um lado para o outro sem de fato conseguir enxergar direito. Ele possuía um hematoma em sua bochecha, arranhões em seu braço que estava manchado de sangue, um corte no peito que manchava sua camisa, mais hematomas em suas mãos. Estava machucado, isso era prova mais do que suficiente de que a conexão estava funcionando.
Mas até que ponto?
Todos eles sabiam que, apesar de agora Salvatore parecer uma presa, ele estava apenas ganhando tempo, pois suas reservas energéticas superavam a dos três e logo a energia mágica deles sumiria, como folhas voando ao vento.
Eles buscavam ser criativos com sua magia, transformavam o chão sob seus pés em líquido, a umidade do ar em agulhas mortais de gelo, magia de teleporte a curta distância, armas conjuradas de outros lugares, usavam a energia mágica para curar suas feridas, dar-lhes força física, deixá-los mais rápidos, fazê-los flutuar. Criavam armas com a magia, lâminas, esferas, chicotes, explosivos mágicos e redes elétricas. Minerva usava magia de troca para trocar de lugar com um de seus irmão, Vincent conjurava barreiras protetivas, fazia com que as árvores lançassem seus galhos pontiagudos feito lanças, Maximus socava o ar e fazia com que as ondas se transformassem em um golpe poderoso.
Foi então que algo aconteceu. Um estalo. O som se parecia com o de alguma coisa muito grande se partindo e fez com que o chão sob os pés deles tremessem. Então, a luz do círculo mágico se apagou subitamente, toda aquela energia maligna se abafou, como se fosse um fogo e alguém de repente tivesse jogado um balde de água sobre ele, deixando para trás apenas as cinzas da lenha e a fumaça que preenchia o ar com seu cheiro marcante.
Salvatore Lex empalideceu e congelou. Ele certamente não esperava por aquilo.
- Não! - ele gritou tão alto que quase estourou o tímpano de Vincent.
Era essa a hora, não haveria uma brecha maior.
Vince conjurou a energia de Ellie e deixou que seus braços se incendiassem com a energia violeta. Ele avançou contra Salvatore e estava perto, tão perto, bastava apenas atravessar o peito dele e perfurar seu coração com sua magia. Pará-lo. Matá-lo. Fim.
Então, algo o atingiu em cheio no rosto e Vincent caiu direto no chão, atordoado.
Quando olhou para o lado, encontrou Maximus erguido feito um pilar, havia uma expressão fria em seu rosto e sombras obscureciam seus olhos castanhos ardentes. Suas mãos estavam iluminadas por vermelho e Vince se deu conta de que fora Maximus quem o acertara.
Até mesmo Salvatore pareceu surpreso ao ver aquilo.
- O que você pensa que está fazendo? - Minerva rugiu, abrindo suas asas de energia de forma ameaçadora e ofensiva.
Maximus sequer lançou um olhar na direção dela, caminhou de maneira bastante confiante até Salvatore, mas não chegou a ficar próximo o bastante dele. Ele abriu os braços e permitiu que uma fração de seu lábio se erguesse para cima.
- Estou pronto para aceitar seus termos agora, Salvatore.
- Não posso acreditar nisso - Vincent rosnou baixinho, depois vociferou - Como você pode, Maximus? Como?
Max olhou para ele por cima do ombro e não havia qualquer emoção em seu rosto.
- Eu tenho um instinto de sobrevivência melhor que o seu, Vince.
Um silêncio assombroso tomou conta de todos eles.
- Acha que vou mesmo acreditar nisso, Maximus? - Salvatore falou com gravidade, empinando o queixo e fazendo sua íris cinza brilhar como um fogo prateado. - Vou precisar de um pouco mais do que palavras.
Maximus pareceu entender o que Salvatore estava dizendo, porque anuiu brevemente com a cabeça. Ele se moveu tão rápido que Vincent mal pôde acompanhar, mas quando percebeu, Max estava logo ao lado de Minerva. Ele atingiu a parte de trás dos joelhos de madeira da feiticeira, o que a fez cair de joelhos no chão, em seguida, lançou uma magia sobre ela que anulou suas asas, fazendo-as desaparecer como fumaça soprada pelo vento. Ele agarrou os cabelos de Minerva, que o olhou com os olhos muito arregalados, mas não teve tempo de dizer nada até que Maximus lançasse uma onda de magia mortal sobre o corpo dela, parando completamente seu coração.
O brilho nos olhos de Minerva tornou-se opaco e ela caiu de lado, o corpo imóvel, inerte, totalmente sem vida.
A boca de Vincent se abriu, formando um O perfeito, mas nenhum som saiu dela, nenhum grito, nenhum lamento, nada. Ele só conseguia ouvir as intensas batidas de seu coração soando em seus ouvidos incessantemente, pulsando fortemente em suas orelhas. Completo assombro e descrença manchava eu rosto.
Salvatore arqueou as sobrancelhas e lentamente um sorriso se formou em seu rosto, um sorriso terrível e assustador, mostrando os dentes como uma fera.
Maximus caminhou na direção do pretor, ficando a um braço de distância dele e fez um sinal com a mão atrás das costas para Vincent.
Esse era o sinal, o que fez com que o feiticeiro agisse, ficando de pé em um pulo e avançando na direção Maximus com o corpo todo tomado pela luz violeta de Ellie.
O plano de Vincent era que Maximus fingisse estar do lado de Salvatore novamente, para que o pretor baixasse a guarda em relação a Max, focando inteira e unicamente em Vincent e Minerva. Em seguida, a feiticeira usaria sua ilusão para que Maximus provasse sua lealdade a Salvatore, matando a própria irmã, ou ao menos era isso que o pretor pensaria. Então, ele passaria a confiar novamente, deixando que ele se aproximasse.
Vincent agiria contra Maximus, atacando-o como era de se esperar depois de ver Max matando sua irmã. Esperava que Salvatore não fosse ficar na defensiva, considerando que a fúria de Vince estaria voltado para Maximus, porém, no último segundo, o feiticeiro se voltaria para o pretor e lançaria todo o poder brutal de Fonte contra ele, esperando que pudesse deixa-lo pelo menos mais vulnerável, para que Minerva e Maximus pudessem matá-lo.
Porém, antes que pudesse se aproximar o bastante de Max, quando estava correndo na direção dele, viu dois filetes de sangue escorrendo pelas laterais da boca de Maximus, o que fez com que Vincent hesitasse em se aproximar mais.
Foi quando Vincent viu, Salvatore tirando a mão das costas de Maximus com o coração sangrento dele em sua mão. Vince encarou o órgão de Max que agora não estava mais em seu corpo, mas pingando sangue bem na palma de Salvatore Lex, agora estagnado, sem bater.
Maximus caiu sobre os joelhos, depois tombou de lado, exatamente como a ilusão de Minerva tinha sido segundos antes. Não demorou para que sangue se espalhasse ao redor de Max, revelando que aquilo estava longe de ser uma ilusão.
Vincent plantou os pés no chão incapaz de se mover.
Seu irmão sempre foi algo que lhe causou dor, sempre foi alguém que o lembrava das piores perdas. Uma pessoa que foi diretamente responsável pela morte de Calliope, seu grande amor. Alguém que lhe virou as costas e lhe ofereceu um amor depravado e deturpado, que o prendeu e pensou que poderia tê-lo para si como uma posse, simplesmente porque pensava que estava apaixonado. Causou tanta dor em Vincent que era de se esperar que sua morte fosse lhe causar um certo alívio.
Mas não. Vincent sentiu como se garras sombrias se fechassem ao redor de seu coração, ao redor de sua garganta, tornando quase impossível respirar, se mover ou fazer até mesmo um simples movimento como piscar. Lágrimas se derramaram de seus olhos sem parar.
A ilusão de Minerva se desfez e ela reapareceu, em pé a não mais que dois metros de onde o corpo de Maximus estava agora. Ela deu três passos para frente e se joelhou no chão, inclinou-se para frente e apoiou a mão sobre a poça de sangue de Maximus que se formava.