Possessão em Sonho

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Eleanore estava andando por entre árvores negras, tão escuras que pareciam feitas de sombras. Os galhos estavam encurvados em sua direção, feito garras demoníacas. Ela seguia um rastro de névoa avermelhada, que serpenteava por sobre o caminho de pedras pelo qual ela andava, o caminho sombrio familiar que levava ao castelo.

Alguém chamava seu nome, o que a fez correr na direção da voz. Uma silhueta se formou diante de seus olhos. Ele lhe ofereceu à mão, como no sonho que teve na primeira noite no castelo, como Vincent, quando a chamou para andar pelo ar, então, ela aceitou.

– Vincent?

– Não. Tente de novo – Ele entrelaçou os dedos nos dela, puxando-a contra si. De repente, ela se viu encarcerada, firmemente presa por um braço que rodeava sua cintura, enquanto aquele homem permanecia segurando sua mão esquerda, olhando para o heptagrama. – Você deu sua vida à outro? Não sabe como isso me magoa. Achei que tivéssemos um compromisso, você era prometida à mim.

Ela soube quem ele era quase instantaneamente. Eleanore perdeu a cor de seu rosto e o calor sumiu de seu corpo, dando lugar ao frio congelante e à um medo gélido.

– Maximus Lennox.

A imagem dele ficou mais nítida e ela pôde distinguir suas feições rígidas, como se tivessem sido esculpidas em mármore. Sua pele tinha um tom acobreado, seus cabelos eram escuros, cheios e cacheados, além de seus olhos serem de um castanho ardente, como se queimassem. Ela podia sentir um aroma forte vindo dele, como pimenta, irritando suas narinas.

Não parecia o homem com o dobro de sua idade que seu pai descreveu, da forma como falou, parecia que era quase um velho. Maximus não parecia ser mais velho ou mais novo que Vincent, mas Eleanore supôs que eles fossem iguais por serem feiticeiros, tivessem uma idade avançada, porém não aparentavam.

Ele abriu um sorriso cheio de dentes brancos, formando covinhas em suas bochechas. Seria um homem bonito, se não provocasse tanto medo em Eleanore.

– É bom finalmente conhecê-la.

Para surpresa de Eleanore, ele a soltou e a imagem do ambiente ao redor mudou drasticamente, transformando-se de um lugar escuro, sombrio e hostil para um campo repleto de frésias vermelhas, brancas, amarelas e lilases. O céu estava completamente limpo, sem nenhuma nuvem, o sol no centro brilhava intensamente e aquecia a pele da menina.

– Como me achou? – Eleanore questionou, recuando, pisando sobre as flores.

– Não foi tão difícil assim. – Ele enfiou as mãos nos bolsos de sua calça. Estava usando uma camisa vermelha escura, colete preto e uma calça igualmente preta, tudo sob medida e muito elegante. – Existe muita facilidade na magia.

Eleanore cerrou os punhos ao lado do corpo e empinou o queixo, tentando soar o mais orgulhosa e confiante que conseguia, mesmo que tremesse um pouco. Se Maximus quisesse subjuga-la, provavelmente não havia muito que ela pudesse fazer, até seu pai tinha medo dele.

– Eu não irei com você.

– Nem poderia. – Maximus se aproximou dela como se deslizasse pelo chão, tão rápido que ela sequer conseguiu registrar o movimento. Ele segurou a mão dela e a ergueu, alisando o dorso de sua pele marcada pelo heptagrama com o polegar. – Você deu sua vida à Vincent, eu posso sentir. Diga à ele que foi muito inteligente e até mesmo eu reconheço isso. Mas me diga, Eleanore, ele lhe disse o que isso implica?


Era muito cedo quando Sebastian desceu as escadas para a cozinha, o sol tinha acabado de nascer lá fora, lançando seus preguiçosos raios por sobre o horizonte.

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