A Aprendiza

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Vincent desceu as escadas naquela manhã com uma preocupação pairando ao seu redor, feito uma nuvem de tempestade trovejando sobre sua cabeça. E aquilo em nada tinha a ver com o que Minerva falara sobre a suspeita do Conselho da Magia ou sobre Eleanore ser uma Fonte.

Aquela noite seria tenebrosa, como todas as outras noites como aquela nos últimos vinte anos. Mesmo sendo ainda bem cedo, ele já podia sentir a marca em seu braço arder.

Sebastian estava espalhado em um dos sofás com um sorriso torto nos lábios.

– Bom dia, meu feiticeiro favorito – o familiar cantarolou – Dormiu com a ruivinha hoje?

– Que?! – Vincent grasnou, perplexo.

– Dormiu com a ruivinha, GRA! – gritou Dimitri, que estava empoleirado sobre a lareira.

– Quieto, Dimitri – Vincent bramiu para o corvo, enquanto segurava a ponte de seu nariz – O que exatamente te faz pensar isso?

– Você disse que iria falar com ela, ficou no quarto dela até tarde, nem vi você sair... Depois, não te achei no seu quarto, então, deduzi que você passou a noite com Eleanore. – Os olhos laranjas de Bash cintilavam malícia.

– Não seja cretino, Bash. Eu passei a noite na biblioteca, acabei dormindo lá.

O familiar se sentou, apoiando os antebraços no encosto do sofá, e encarando Vincent.

– Fazendo pesquisa?

– Sim. Quero entender melhor a conexão estranha que se estabeleceu entre mim e Ellie durante o ritual. Estava lendo sobre isso para poder romper a ligação.

Bash exalou de forma exasperada.

– Perdeu uma grande oportunidade de se deitar com uma mulher tão linda feito a Ellie, com aquele corpo tão delicio...

– Você pensa bem antes de terminar essa frase, – Vincent falou em um tom baixo e perigoso, contendo a promessa de uma agressão – senão eu juro que te mato.

O familiar ergueu suas mãos como quem se rende, deixando o assunto de lado.

– Bom dia, Bash, Vince – Sam havia surgido, literalmente, depois de ter atravessado uma parede. Ele sempre estava bem alerta, considerando que sequer dormia.

Ambos retribuíram o cumprimento.

– Como a June está? – Vincent perguntou para ninguém especificamente. Ele sabia que a menina ainda estava com raiva dele, depois da última briga que tiveram, e o feiticeiro ainda não havia arranjado tempo para conversar com ela.

– Bem, depois que você deixou o quarto para falar com a Ellie, a June saiu pisando duro e foi pro herbário. – Bash contou.

– Eu vi ela hoje de manhã com o Dante. – Sam comentou.

– Dante?! – Vincent falou um pouco histérico.

Sam anuiu.

– Ouvi ele dizer que queria aprender um pouco mais sobre plantas medicinais. Dante falou que seria um conhecimento útil.

– Você sabe qual é o conhecimento útil que ele quer, não é, Vince? – Bash exibiu seus caninos finos e afiados em um sorriso cheio de significados obscenos – Não envolve roupas.

Vincent esfregou a mão em seu cenho, sentindo a tensão instalada ali. A temperatura de seu corpo chegou a subiu alguns graus, fervendo o sangue dentro de seus vasos.

Desde que ele tinha trazido aquela garotinha pequena e magricela para sua casa, Vincent nutria um forte sentimento protetor sobre ela. June já havia sofrido tanto, que ele não queria que mais nada pudesse feri-la. Mas, quanto mais June crescia, mais Vincent percebia que ela não precisava de sua proteção, mas sim de seu carinho.

O FeiticeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora