Existências Singulares

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 – O que você está fazendo? – Eleanore perguntou, enquanto Vincent traçava desenhos com um carvão no chão da sala do castelo, bem diante das enormes portas de entrada.

Ele desenhou um grande círculo de carvão, dentro havia uma estrela de quatro pontas e, entre as pontas, diversos símbolos diferentes, que Eleanore sequer tentou entender o significado.

Todos estavam reunidos na sala à pedido de Vincent. Pouco antes de ele começar a fazer desenhos no chão, havia comunicado oficialmente para todos os moradores, inclusive o corvo, de que Eleanore se tornaria uma hospede por tempo indeterminado no castelo. Ninguém pareceu ficar surpreso, mas June estava visivelmente incomodada.

– Eu tenho que mudar o castelo de lugar, não deve demorar muito para Maximus me procurar e vai ser muito fácil para ele se eu ficar aqui. – Ele colocou uma vela em cada uma das quatro pontas das estrelas. – Todo mundo dentro do círculo.

Sebastian, que estava em sua forma de gato sentado em cima do encosto do sofá, saltou para o chão e foi até o círculo. June o seguiu de perto, assim como Sam. O corvo voou do corrimão da escada para o ombro de Vincent, grasnando durante todo o processo. Eleanore fez o mesmo, ficando logo atrás do feiticeiro.

– Amber ascenda as velas – Vincent pediu.

As chamas da lareira se moveram pelo ar, feito um laço ondulante de luz e calor. O fogo rodeou as velas, ascendendo-as, uma por uma.

Vincent estava parado no centro do círculo, bem no meio da estrela de quatro pontas. Sebastian ficou ao pé dele, enrolando o rabo ao redor da perna do feiticeiro. June segurou as costas da camisa de Vincent, assim como Sam e, Eleanore, de forma hesitante, fez o mesmo.

Ficou óbvio para ela que todos já estavam acostumados com esse ritual.

O feiticeiro começou a gesticular com a mão, enquanto entoava um feitiço, novamente utilizando uma língua que soava antiga e poderosa. De repente, tudo ao redor começou a tremer e Eleanore quase perdeu o equilíbrio, agarrando mais firmemente em Vincent.

As chamas da vela se elevaram até ficarem quase da altura de Eleanore e assumiram um tom verde fantasmagórico. Repentinamente, começou a ficar muito quente dentro daquele círculo. Suor começou a brotar da pele da menina, escorrendo por sua têmpora, feito uma lágrima.

Houve um tremor mais intenso, parecia até que o chão estava sendo arrancado de debaixo dos pés de Eleanore, ela se sentiu quase pairando no ar, ou na existência, não soube explicar. Quando olhou para baixo, ainda podia ver o chão, apesar de não senti-lo mais. Todos os móveis ao seu redor vibravam como se fossem explodir ou sair voando pelos ares, mas todos continuaram perfeitamente no lugar.

A sensação que se seguiu foi a de estar no centro de um tornado, rodeado pela presença quente das chamas esverdeadas, que se tornaram um borrão de luz. Estava tudo girando, provocando uma tontura nauseante em Eleanore, fazendo seu estômago se revirar em sua barriga. Ela fechou os olhos e agarrou com mais força a camisa de Vincent, ao ponto de seus dedos doerem.

De repente, tudo parou e Eleanore esbarrou violentamente contra alguém e, apenas conseguiu se manter em pé, porque uma mão agarrou com firmeza seu braço. Percebeu que foi June.

Tudo parecia normal ao redor, como se nada tivesse mudado, nada fora do lugar.

As chamas das velas diminuíram, assumindo novamente a coloração normal de fogo, um amarelo alaranjado quente. Logo as chamas deixaram as velas e convergiram para um mesmo ponto no ar, tomando a forma de uma raposa de fogo.

– Ellie – Quando ela olhou para cima, percebeu que Vincent a olhava por cima do ombro. – Já pode me soltar.

Ela afrouxou o aperto na camisa de Vincent e se afastou, um tanto cambaleante.

O FeiticeiroWhere stories live. Discover now