Propósito

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June estagnou repentinamente no lugar, olhando para todos aqueles corpos mortos, para o sangue, para aqueles demônios que eram enormes e assustadores que despertavam nela um pânico primitivo. Tinha medo, claro que tinha, não era idiota para não temer.

Mas sabia que, se fosse até a batalha, morreria. Ela não era uma feiticeira, não era uma vampira imortal ou uma elemental do fogo, não, era uma simples humana que possuía conhecimentos específicos sobre ervas, flores e poções, nada mais. Dante havia ensinado ela a utilizar poções explosivas para ataques ofensivos, e isso a tinha salvado daquela serpente, mas não por muito tempo, caso Dante não tivesse chegado e certamente não seria útil contra demônios.

Ou seja, ela seria apenas um fardo, apenas algo para preocupar Dante e principalmente Vincent, e ela não podia distrair Vince, não quando ele enfrentaria Salvatore Lex.

Seus pés estavam fixos no lugar e ela contemplava o horizonte sangrento e pútrido.

Dante foi o primeiro a notar que ela parou e se voltou para ela, olhando-a com aqueles olhos azuis escuros instigantes, seus cabelos castanhos despenteados lhe dando um ar excessivamente jovial, e havia aqueles ferimentos em seu rosto, que a fizeram lembrar de como ele ainda era mortal, apesar de dominar a magia.

Seguindo ele, Amber parou, seu fogo tremulando, Sam logo ao seu lado, os três feiticeiros pararam também, assim como os vampiros, encarando-a em expectativa.

– Não posso ir. Eu... Se vocês se ferirem, eu tenho que estar aqui para tratar os ferimentos – Ela tentou se agarrar a essa mentira para que não se sentisse uma completa inútil.

– Eu fico com você – Dante se prontificou, indo na direção dela.

– Não – June balançou a cabeça – Você é um feiticeiro, tem que estar lá, ajudando.

– Eu fico. – Maggie deslizou graciosamente para o lado de June. Fazia alguns minutos que havia se tornado uma vampira completa e mesmo assim já se movia como uma. – Acabei de voltar, bem, dos mortos e acho que não estou pronta pra... – Ela indicou tudo ao seu redor formando um arco com o braço no ar – isso.

Maggie e June haviam formado um estranho, mas forte laço nas últimas semanas e foi um conforto para June tê-la por perto durante aquele tempo, ajudar alguém que um dia foi como a sua mãe. Sua mãe... Os pensamentos sobre ela eram confusos e nebulosos, como se tivessem sido arrancados de sua mente. E talvez fosse por isso que Maggie a trouxe tanto desconforto no início, porque a fez se lembrar de um passado doloroso, a fez se lembrar de uma outra cortesã que June assistiu morrer impotente. Mas Maggie a fez se libertar desse sentimento, da impotência e do vazio, porque diferentemente da outra cortesã, June foi capaz de ajudar Maggie e, agora, ela era uma lembrança especial para June, uma lembrança de que ela era capaz de salvar e de ajudar, com seus conhecimentos...

De repente, June soube. Ela olhou fixamente para Vincent, que se mantinha calado. Aquele vazio estranho, aquela sensação de que havia algo faltando, sobre alguém, uma mulher, sua mãe, lembranças que lhe foram tiradas. Aquele foi o preço de Vincent ter usado o Pacto de Sete Pontas, nunca mais se lembrar de sua mãe, o que ela fez e por tudo que as duas passaram. Agora havia uma névoa densa no lugar das memórias.

June olhou para Maggie ao seu lado, que trazia uma determinação fria no olhar, como quem diz silenciosamente que vai dar a vida se for necessário para salvá-la. Dante pareceu compreender isso sem trocar nenhuma palavra e acenou brevemente sobre isso.

A curandeira teria que lidar com o que agora sabia que tinha perdido depois.

Vincent caminhou lentamente em direção as duas e tirou dois anéis de seus dedos, um deles era um simples aro de prata com símbolos entalhados no metal e o outro era um ferro escuro retorcido com um cristal preso a ele. Ele entregou o anel de prata para Maggie e o cristal para June, que o colocou em seu dedo indicador.

O FeiticeiroTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon