Trágica Semelhança

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 – O que houve? – perguntou Bash, em sua forma humana, quando encontrou o feiticeiro no topo da escada – Ellie passou aqui feito um furacão ruivo.

Vincent esfregou a mão em sua testa, uma pequena ruga de preocupação formada em seu cenho. Bash podia sentir uma certa tensão nele, como se fosse uma corda muito esticada.

– Ela e o Vince brigaram e agora a Eleanore disse que vai embora – disse Sam, que estava flutuando atrás do feiticeiro.

– Por que vocês brigaram? – Bash questionou a Vincent.

– Ela está com uma ideia fixa de aprender magia e eu disse não, mas a Ellie quis aprender sozinha assim mesmo. – Vincent explicou, estava olhando para a porta fechada do quarto de Eleanore, mas não moveu um músculo para andar até lá.

– Por que você não a ensina? – Sam perguntou, verdadeiramente confuso.

Vincent lançou um olhar ao fantasma que Bash não via nele há anos, uma mescla de raiva e um leve desespero. Ele não disse nada, apenas deu as costas e foi em direção ao seu quarto.

Sam trocou um olhar com o familiar, que apenas deu de ombros sem entender.

– Nunca tinha visto ele tão... esquisito – Sam comentou.

Bash balançou a cabeça e foi atrás do feiticeiro, subindo as escadas em espiral até o quarto de Vincent, deixando Sam para trás. Sequer bateu à porta, simplesmente entrou.

Vincent já tinha se posicionado atrás do cavalete, era algo bastante típico que o feiticeiro pensasse em pintar depois de algum momento estressante. Ele largou o pincel novamente na mesa e cruzou os braços, assim que Sebastian entrou.

– Não entendo, Vince. Por que não quer ensinar magia para ela? Por que não foi falar com ela? Você sempre gostou dessa coisa de... diálogo. – Bash fez uma careta.

Vincent suspirou e se apoiou contra a mesa, ainda de braços cruzados. Ele estava com aquela ruga na testa e torceu seus lábios pálidos para o lado, como se a pergunta o tivesse aborrecido.

– Do que adianta falar com ela? Eu sei o que a Ellie quer, já disse que não.

– E por que não? – o familiar insistiu.

O feiticeiro ergueu os olhos para Bash, havia um brilho esverdeado fantasmagórico na íris violeta dele, uma manifestação de seu poder mágico. Além disso, o familiar pôde sentir uma onda de calor emanando dele, o que Bash soube reconhecer como raiva.

Embora estivesse óbvio que Vincent não queria falar sobre isso, Bash não iria desistir assim tão facilmente. Ele sustentou o olhar do feiticeiro e cruzou os braços teimosamente.

Por fim, Vincent suspirou, derrotado. Ele desviou o olhar e começou a ajeitar os potes de tinta em cima da mesa, embora não fizesse a menor diferença, já que tudo ali era uma completa bagunça desde sempre.

– É só que Eleanore me lembra alguém e isso me assusta.

– Callie? – Bash chutou.

Vincent ergueu os olhos arregalados de espanto, seu rosto pálido havia assumido uma coloração mais rosada.

– C-como você sabe esse nome? Eu nunca te disse.

Sebastian exibiu um sorriso divertido, apesar de saber que era muita audácia.

– Você fala enquanto dorme, Vince.

O rosto de Vincent se fechou feito uma tranca. Ele virou de costas para Bash, batendo os dedos impacientemente no tampo da mesa, como se estivesse decidindo se falaria ou não sobre isso.

O FeiticeiroWhere stories live. Discover now