Uma Nova Vida

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Maximus Lennox teve um funeral digno de um feiticeiro, seu corpo havia sido queimado em uma pira por fogo mágico, onde sobraram apenas as cinzas. Foi plantado um carvalho onde jaziam suas cinzas onde o nome dele havia sido gravado no tronco. Carvalho era uma árvore especial para feiticeiros, considerado mágico.
A árvore agora crescia na frente do castelo de Minerva.
Ela parecia desolada, pálida e fraca depois da batalha, totalmente entristecida pela perda de seu irmão. Não chorava, mas ficava olhando para aquele carvalho através da janela quebrada do que antes era a sala principal.
Dante e June estava sentados no chão, lado a lado, de mãos dadas, as cabeças encostadas uma na outra enquanto lágrimas silenciosas desciam por seu rosto. Ellie havia contado que fora Sam quem fechara a fissura e ele havia ficado lá dentro, por ela, no lugar dela.
Ninguém jogou na cara da ruiva que era ela quem deveria ter ficado, não, ninguém disse nada disso, apenas sofreram a perda de seu amigo.
Dante ficou segurando a medalhinha de São Jorge, desde que recebera a notícia, a âncora espiritual de Sam, presa ao redor de seu pescoço, como se aquilo o trouxesse conforto.
Todos ficaram por horas no castelo de Minerva, paralisados, cansados demais para dizer uma palavra sequer, doloridos, sentindo emoções paradoxais, felizes por tudo ter acabado e tristes por aqueles que perderem, por tudo que foi perdido.
Eles observavam silenciosamente o sol nascer, ninguém disse uma palavra, ninguém dormiu naquele momento. Estavam apenas contemplando aquele novo dia que nascia.
Bash havia morrido.
Maximus havia morrido.
E Sam não estava mais entre eles.

...Um mês depois...
A primavera começava a aparecer do lado de fora, a neve já havia derretido completamente e a grama já havia começado a crescer novamente, verdinha e cintilando com as gotinhas de orvalho da manhã. Algumas flores já começavam a brotar, ainda em botões, com a promessa silenciosa das lindas pétalas que estavam por vir.
O céu estava limpo, sem nuvens, o sol brilhava intensamente e os pássaros cantavam.
Ellie se espreguiçou na cama como um gato, observando os raios solares banhando aos lençóis.
Vincent estava ao seu lado, já acordado, a cabeça apoiada em seu braço. Os olhos dele estavam semicerrados e havia um sorriso preguiçoso esticando seus lábios.
– Por que está me olhando assim? – Ellie virou-se de lado, de frente para ele.
O feiticeiro esticou o braço sobre o colchão e acariciou os cabelos dela.
– Porque você é linda e gosto de observar você dormir, me acalma.
Ellie se esticou na cama e alcançou os lábios dele com os dela, beijando-o brevemente. Beija-lo assim tão casualmente era algo extraordinário, ficar deitada na cama, aninhada a Vincent, era algo tão íntimo e sobrenaturalmente bom, como se toda a realidade do lado de fora não existisse e houvesse apenas eles dois no mundo. Era pacifico, o tipo de paz que ela tanto almejava.
– Hoje é a cerimonia de Dante, precisamos levantar.
Ela tentou levantar, mas Vincent a puxou pela cintura, ficando sobre ela, beijando seus lábios, sua mandíbula, seu pescoço. O corpo dela amoleceu e se aqueceu sobre ele. Ellie sorriu e enterrou os dedos nos cabelos muito lisos e brancos dele.
– Podemos ficar só mais um pouquinho – Vincent ronronou contra a garganta dela.

Os jardins dos fundos do castelo de Vincent haviam sido preparados para a cerimônia de Dante. Um caminho até o grande carvalho de Flidas havia sido forrado com palha de alho, que continha propriedades que afastavam espíritos malignos e magia das trevas, ramos de alecrim haviam sido pendurados nos galhos das árvores pela mesma razão, para proteção do feiticeiro.
Havia cajados de madeira presos ao chão por todo o caminho até abaixo do carvalho, sua madeira estava entalhada com diversos símbolos mágicos que atraíam energia e todos estavam ligados por um fio, neste fio estavam presas flores de jasmim que perfumavam completamente o ar ao redor, esta flor protegia o espírito e a aura do feiticeiro.
Minerva estava parada em frente ao largo e enorme tronco de Flidas, cujo rosto enrugado fitava serenamente tudo ao seu redor. Havia sombras escuras sob seus olhos e ela estava pálida, era uma surpresa que tivesse saído do quarto para a cerimônia, já que tinha ficado trancafiada nele nos últimos trinta dias, não saindo sequer para comer, isso desde que eles voltaram do castelo dela após limpá-lo e purifica-lo.
Ela usava uma túnica cerimonial que era uma mescla de preto e azul escuro inteiramente pontilhada de prata, o que fazia parecer que ela estava vestida com o próprio céu noturno. As mangas e a gola da túnica eram enfeitadas com laços prateados e os desenhos de todas as fases da lua. Em suas costas estava o símbolo de Hécate, um pentagrama e uma lua minguante de cada lado, como dois Cs. Ela usava uma coroa de louros sobre a cabeça, assim como próprio Dante e todos que ali assistiam.
Dante usava vestes parecidas com as dela e sorria abertamente, seu sorriso contagiava a todos, principalmente June, que não se lembrava de ter sorrido daquele jeito em toda sua vida.
O aprendiz caminhou sobre o caminho de casca de alho e parou em frente à sua mestra.
Minerva ergueu os braços e os abaixou como se abençoasse Dante.
– Demonstre que aprendeu os cinco pilares da Magia.
Dante engoliu em seco, anuiu com a cabeça e ficou de costas para Minerva, afastando-se cinco passos dela. Ele respirou fundo, então começou.
A primeira demonstração foi feitiçaria e, para isso, ele fez com que três pilares de terra se erguessem à sua frente, depois os recolocou em seu lugar como se jamais tivessem se erguido. Fez com que uma lufada de vento soprasse, fazendo com que algumas folhas dançassem ao redor do corpo de todos os presentes, antes de retornarem ao chão. Ele retirou a água do solo e fez com que um círculo d’água rodeasse seu corpo, então fez com que as gotas de dissipassem no ar. Ele conjurou fogo e o transformou em um pássaro que alçou voo aos céus.
Depois, ergueu as mãos e entoou algumas palavras, fazendo com que diversos símbolos mágicos idênticos surgissem no ar, pairando brilhantes como estrelas. De repente, a palha de alho sob seus pés flutuou e entrou dentro dos símbolos, transformando-se em diversas borboletas que voaram por todo o jardim, maravilhando todos que assistiam silenciosamente.
Então, Dante moveu os braços como se tivesse pegado algo sobre eles, conjurando um círculo mágico no chão aos seus pés e uma luz azul iluminou o corpo de Dante. Houve um apagão e subitamente ele estava a cinco metros de onde estivera antes, fazendo um ritual de teleporte a curta distância perfeito.
Através da alquimia, ele transformou as flores de jasmim ao seu redor em ferro, depois em prata, então em ouro, até que elas se transformaram em pó.
E, por último, ele estendeu os braços a frente do corpo com as palmas viradas pra cima, um cajado surgiu sobre ela. Um artificio mágico que ele começou a forjar desde o dia em que aprendeu esse ramo da magia com Minerva. Ele era feito de freixo, havia diversos símbolos de proteção, defesa e ataque entalhados nele de forma mágica, na ponta havia um cristal preso pelos ramos do galho. Ele girou o cajado em sua mão e acertou sua ponta com força contra o chão, várias faíscas dançaram sobre o solo.
O cajado sumiu e ele tinha mostrado que sabia controlar todos os cinco pilares da magia, feitiçaria, simbologia, ritualística, alquimia e artificies mágicos. Era um feiticeiro.
Ele se ajoelhou na frente de Minerva e foi envolvido por uma estrela de cinco pontas desenhada no chão com mágica.
– Deste dia em diante, você, Dante Hendrix, é um feiticeiro completo. – Ela pairou a mão sobre a cabeça dele. – É filho da Magia e uma ferramenta dela, é servo de Hécate e mestre dos cinco pilares mágicos. É um feiticeiro até o fim de seus dias. – A energia mágica de Minerva partiu de sua mão e escorreu sobre a cabeça de Dante como se fosse água. – Ajoelhou-se como aprendiz e agora levanta-se como um feiticeiro.
Dante ficou novamente em pé e fez uma reverência respeitosa a Minerva, logo em seguida se atirou contra ela, abraçando-a. A feiticeira riu e beijou o rosto dele.
– Estou orgulhosa de você, Dante.
Todos deram vivas e jogaram folhas de yerba santa sobre Dante, para lhe dar forças, visões, poder e cura. Vincent ergueu as mãos e soltou esferas no céu que explodiram como estrelas, soltando brilhos pelo ar, de forma mágica e magnífica.

O FeiticeiroDonde viven las historias. Descúbrelo ahora