Mesmo Sangue

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Ellie olhou novamente para o rosto daquela mulher, sua pele era branca, os olhos estavam fechados, mas antes costumavam ser azuis, os cabelos castanhos estavam agora soltos. Não era nenhum pouco parecida com Callie, mas iria ser, eventualmente.

Eu matei essa mulher. Eu matei. Sou um assassino.

Esses pensamentos não deixavam a cabeça dela durante aquela longa caminhada, afinal, estava carregando um cadáver. Seu corpo ainda nem estava frio e continuava macio.

Ela colocou a mulher perto da fogueira que montara no meio de uma clareira. Não sabia o nome dela, não restou tempo para perguntar. Em um instante, ela o olhava com curiosidade, como quem pensa "este é um estranho homem de pele branca como a neve e olhos sinistros" e, então, ela a havia matado. Verdade que fora uma morte indolor, Ellie havia se certificado disso.

Assassino, assassino, assassino, assassino, assassino, assassino, assassino.

Uma vida por uma vida, era isso que o ritual necromântico dizia. Era necessário fazer um sacrifício para que pudesse trazer uma alma de volta.

Ela não era tão boa quanto Maximus em magia do corpo humano, mas achava que poderia modificar o corpo daquela mulher para que se assemelhasse ao de Calliope. Afinal, ele havia conseguido modificar sua própria aparência, não deveria ser muito difícil.

Ellie tirou o sangue daquela mulher para pintar símbolos mágicos em seus braços, para potencializar o controle da magia necromântica. Ela havia erguido uma pira feita de ossos que retirara de um cemitério qualquer e depositara o corpo ali em cima, colocando sobre ela uma mortalha deita por fios dourados.

Então, o ritual começou. Era difícil, uma magia muito densa, pesada, sombria até, mas delicada, requeria muito foco e controle. E as palavras do feitiço, ditas em celta, também tinham uma pronuncia dificultosa. Era complexo manter o delicado equilíbrio mágico necessário. Não sabia se conseguiria mantê-lo pelo tempo necessário do ritual.

A fogueira explodiu em um clarão fervente que esquentou a pele de seu rosto, o fogo engoliu a pira logo à sua frente, queimando os ossos e o corpo. O odor ferroso de sangue preencheu todo o ar ao redor, pinicando suas narinas.

Ela se permitiu sorrir, estava dando certo, estava quase lá.

Mas, de repente, a magia não estava mais em seu controle, ela não conseguia mais moldá-la a sua vontade. Os símbolos marcados em sangue em seu braço perderam o brilho esverdeado.

A cor das chamas mudou, tornando-se branca fantasmagórica, ficando fria como o vento de uma nevasca. Ela sabia que aquilo era mais do que uma mudança repentinamente de coloração, era uma manifestação, aquilo era uma entidade, uma das muito poderosas.

Vincent Maddox, a voz que soou em sua mente era estrondosa, paralisou cada um de seus músculos e estremeceu seus ossos. Necromancia é uma magia proibida.

Ellie sequer conseguiu responder, estava apavorada demais para registrar o que estava acontecendo.

Não use minha energia para este tipo de ritual profano, quebrou as leis da Magia, Vincent, as minhas leis! Agora, deve sofrer as consequências. Nunca a terá de volta, tende entender.

– Não! – Ellie caiu sobre seus joelhos, implorando, abraçado seu próprio corpo. Agora sabia com quem estava falando, era a própria Magia.

A lei natural da vida é a morte. Magia rugiu como um leão. E você quer arruinar este delicado equilíbrio e eu não posso permitir. Não brinque de deus, feiticeiro, porque a queda é alta. E a sua irá começar a partir de agora.

O FeiticeiroWhere stories live. Discover now