Alma Gêmea

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– Como fez aquilo? – June perguntou.

Depois de correr por três quilômetros, ela e Magnolia conseguiram despistar os guardas, também porque eles desistiram depois de um certo momento.

June havia deixado Bash no chão e ele se transformara novamente em humano, felizmente, havia se lembrado das roupas dessa vez. Magnolia ficou cuidando dele, enquanto June procurava por ervas e flores pela floresta. Acabou achando algumas que teriam que servir.

Com uma pedra, um punhado de neve e as ervas, ela conseguiu fazer uma espécie de emplasto. Usou duas pedras para esmagar as plantas e juntamente com a neve conseguiu fazer uma papa fria. Não era o ideal, mas foi o que conseguiu fazer no improviso sem seus materiais usuais. Quando ficou pronto, ela limpou as feridas de Bash com um trapo rasgado de seu próprio vestido e aplicou o emplasto nos machucados.

Bash era um familiar e por causa disso se curava mais rapidamente do que uma pessoa normal, então ficaria tudo bem. Ele próprio havia arrancado a bala de sua coxa, com um simples feitiço de telecinese. June teve que cobrir sua boca com a mão para que ele não gritasse alto e chamasse a atenção dos soldados novamente.

Agora, ele estava deitado no chão com a cabeça apoiada nas pernas de June, em um sono profundo. Precisava dormir para que pudesse revitalizar suas forças. Magnolia estava sentada logo à sua frente, também apoiada contra uma árvore.

A cortesã ergueu o rosto e fitou June com seus olhos escuros.

– Sendo uma cortesã, eu aprendi desde cedo que eu precisava aprender a me defender porque ninguém faria isso por mim. Homens sabem ser especialmente cruéis e agressivos quando querem. Então, comprei a adaga e aprendi a lutar com ela sozinha. – Magnolia pegou a adaga e encarou a lâmina, que ela havia limpado anteriormente em seu próprio vestido, já sujo de sangue. – Eu ia toda manhã para o bosque, acertar árvores e praticar movimentos. Aprendi a não hesitar. Por isso estou viva hoje.

June ficou em silêncio por um minuto. Conseguia entender a necessidade de Magnolia em se defender, já que conhecia bem de perto a realidade de cortesãs e de se viver em um bordel. Não tinha simpatizado antes com ela por motivos óbvios, mas agora June sentia certa empatia pela cortesã. A curandeira havia aprendido a se defender através de seu conhecimento, e Magnolia aprendera através do uso de uma adaga.

– O que você fez foi muito impressionante. Obrigada por ter nos salvado. – June falou sem olhar para Magnolia, estava focada no carinho que fazia nos cabelos cinzentos de Bash, que ronronava em resposta, mesmo estando em sua forma humana. – Me desculpa ter te chamado de puta antes, no castelo.

– Já fui chamada de coisa pior. Eu entendi que você estava com ciúme.

As bochechas de June queimaram de vergonha. Isso deveria ser algo bem óbvio para todo mundo. Menos para Vincent, é claro.

Pensar nele fez seu coração se apertar e doer. A última coisa que dissera para ele era que iria embora. E se nunca mais o visse de novo? Vincent pensaria que ela estava tão chateada com ele que se afastar era a melhor opção. Nunca conseguiria se perdoar por isso.

Só fazia dois dias desde o incidente com Salvatore Lex e a Fonte e, mesmo assim, seu peito era oprimido pela saudade que lhe dominava aos poucos. Saudade de tudo que tinha antes, de Vincent, do castelo, de seu herbário, de Sam, Amber, Dimitri, até mesmo de Dante.

Mas sentia mais falta de Vincent. Só queria saber se ele estava bem.

– Eu queria me casar com Vincent. – Magnolia disse e suas palavras atingiram June feito uma flechada em seu peito. – Me apaixonei por ele. Ele foi o único homem que conheci que me tratava como uma pessoa de verdade, mesmo que me visse como uma mulher.

O FeiticeiroWhere stories live. Discover now