Salvatore Lex

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 – Está tão frio aqui fora. Você deveria entrar.

– Não me diga o que fazer – ralhou June, arrancando uma erva daninha do seu canteiro de jacintos. Por mais que arrancasse, elas sempre davam um jeito de crescer novamente.

Estava mesmo muito frio, claro, aquele era o solstício de inverno. O ar gélido que pairava ao seu redor penetrava em suas roupas, mesmos usando meias grossas, vestido de inverno e um casaco quentinho. Sua face, ponta de nariz e orelha estavam quase congelados, quando expirava, o ar se condensava diante de seu rosto, formando pequenas nuvens brancas que se dissipavam logo em seguida.

Dante se abaixou ao lado de June, fitando as flores de pétalas finas e encurvadas, rosas e roxas. Eram tão belos, os jacintos, tão diferentes e exóticos.

– Jacinto era um homem tão extraordinário que despertou a paixão do deus Apolo, o deus do sol. Um dia, os dois jogavam discos, mas Zéfiro, o vento oeste, com ciúme de seu amado com o deus, mudou a direção do disco que acabou atingindo seu precioso Jacinto. O ciúme o matou e Apolo, desolado por sua morte, o eternizou em uma flor.

June olhou para Dante intensamente.

– Já imaginou um deus te amar tanto ao ponto de te transformar em uma flor?

– Você é um sujeito estranho, Dante – ela comentou.

– Eu gosto de pensar que eu sou original. – Dante abriu um enorme sorriso.

– O que você faz aqui?

– Terminei de ajudar Minerva com os preparativos para o ritual de transporte, Eleanore não quis treinar magia hoje, então não tenho muito mais o que fazer. – Ele tirou uma das ervas daninhas do canteiro e a colocou na cesta, que estava ao lado de June, onde já havia pelo menos quarenta ervas arrancadas.

– Olha, Dante, eu queria ficar sozinha.

Dante mirou seus olhos azuis na menina, ainda com um sorriso em seus lábios.

– Acho que você já fica tempo demais sozinha, não acha?

– Isso não é da sua conta – June retrucou, arrancando agressivamente mais uma erva daninha.

– Está chateada por causa do seu herbário?

Ela respirou fundo, soltando o peso de seu corpo sobre suas pernas. June estava ajoelhada sobre a terra, gostava de estar assim próxima das plantas, mesmo frio como estava. Gostava de ter essa conexão com a natureza, eram os únicos momentos em que ela se sentia verdadeiramente mágica.

– É mais complicado do que isso... Acho que eu sou Zéfiro nessa história.

– Quer falar sobre isso? Ah, erro meu, esqueci com quem estou falando. – Dante provocou.

– Você é tão irritante – June revirou os olhos. – Não tem outro lugar para ir?

– O único lugar que eu quero estar é ao seu lado, bela. – o aprendiz lhe lançou um sorriso que queria dizer muita coisa sem o uso de palavras.

June estreitou seus olhos cor de folha para ele, sentindo alguma coisa se remexer em seu interior, uma espécie de frio na barriga.

– Isso geralmente funciona com as damas? – ela quis saber.

– Só as que são desvirtuadas.

Ela não quis realmente, mas riu daquilo.

– Pelo menos fiz você rir – Dante pontuou – Já é alguma coisa.

De repente, Flidas se remexeu inteira, seus galhos chacoalharam e suas folhas farfalharam. O grande carvalho era provavelmente a única árvore naquela região que ainda possuía folhas presas em seus galhos. Um rosto enrugado surgiu no tronco, os olhos escuros e ocos.

O FeiticeiroWhere stories live. Discover now