A Bela Dama

1.2K 150 50
                                    

Sam achava que Vincent já era naturalmente pálido, sua pele sempre teve um tom sobrenaturalmente branco, a mesma cor de açúcar e sal. O feiticeiro, certa vez, o explicou que era devido a uma condição rara que tinha, chamada albinismo. Achava que não era possível que a pele de Vincent se tornasse ainda mais clara, estava errado.

Se havia uma cor ainda mais clara que o branco, então certamente era essa a cor que o feiticeiro exibia naquele exato momento. Havia uma fina camada de suor cobrindo o corpo de Vincent, suas veias pareciam tingidas de tinta preta, serpenteando obscuramente por sua pele quase transparente, subindo pelo braço ferido, até o pescoço, feito garras de sombras.

Vincent estava deitado em sua cama, havia uma compressa fria em sua testa, June trabalhava incansavelmente na ferida horrenda no braço do feiticeiro. Ela havia limpado o sangue seco, fez Vincent tomar uma poção, agora estava passando um emplasto nos buracos provocados por cães demoníacos, de acordo com o relato apressado de Bash.

– Ele vai ficar bem? – Sam perguntou depois de uma hora de silêncio pesado.

– É claro que vai – June falou dura e friamente. Embora parecesse calma e concentrada, Sam sabia que ela estava muito preocupada, porque suas mãos tremiam levemente.

Sebastian estava sentado em um dos cantos do quarto com os braços apoiados em seus joelhos. Estava com os braços, o tronco e o pescoço enfaixados, além de ter um curativo no rosto. Como não era humano, o veneno demoníaco agia de forma diferente em seu organismo e ele era menos atingido por isso, por ter mais resistência.

O fantasma se aproximou do familiar e se agachou à frente dele. Sam sempre foi mais próximo de Bash e de Amber, do que de June, sempre achou que era porque eles não eram humanos, assim como agora ele não era mais.

– Você está bem, Bash? – ele quis saber, apesar de ter certeza da resposta.

O familiar suspirou e tocou levemente no curativo preso em sua bochecha.

– Às vezes, é muito difícil ser familiar de Vincent. Eu não sei se aguento perder outro laço.

– Vincent não vai morrer – Sam garantiu.

– Não agora, mas do jeito que ele é suicida, mais rápido do que eu esperaria.

Sam não sabia o que pensar sobre isso. Já conhecia Vincent há anos, as únicas pessoas que conheciam o feiticeiro há mais tempo do que ele era Amber e Bash. Ele não sabia bem como lidar com a morte dos outros, já que era suficientemente difícil para Sam lidar com a própria morte. Era estranho conviver com os vivos estando morto.

– Acho melhor deixarmos June sozinha trabalhando – sugeriu Sam.

– Tem razão. – Mesmo ferido como estava, Sebastian ainda foi capaz de ficar em pé sem grande esforço, ainda que tivesse exibido uma careta de dor. – Vamos sair daqui, se não a rabugenta já vai começar com seus resmungos.

– Vá pro inferno, Sebastian! – June, de fato, resmungou.

June trocou a compressa que estava na testa de Vincent, ele estava febril e rapidamente os panos embebidos em água gelada ficavam quentes.

A poção dela estava fazendo efeito, as negras veias, que antes percorriam a pele dele feito rios de petróleo, estavam ficando novamente em um tom azulado mais normal. A febre estava baixando e o sangramento já havia cessado completamente.

Ela passou uma camada de unguento sobre o ferimento, antes de cobri-lo com um curativo feito de gaze. Quando terminou de amarrar, foi lavar sua mão no lavatório do quarto e viu a água tingir-se de vermelho.

Assim que estava limpa, June voltou para a beira da cama e segurou a mão do braço integro de Vincent, sentindo a textura macia que a pele dele possuía.

O FeiticeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora