Mercado de Bugigangas

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June estava em seu herbário, cortava raízes e amaçava ervas no pilão, etiquetava os frascos contendo as poções, estranhando aquele silêncio ensurdecedor.

Quando Eleanore passou os dias ali, ela costumava fazer várias perguntas, como eram feitas as poções e o que cada planta podia fazer. Dante, que insistira em ficar com ela no herbário um dia, falava demais, fizera mais perguntas do que ela achava possível, ao que parecia, ele gostava bastante da própria voz.

Ela não teve muito clientes nos últimos dias, as pessoas da vila estavam com medo dos lobos de sombras e até o mercado havia sido comprometido. A destruição da luta de Vincent e Bash contra os demônios havia causado bastante prejuízo.

Já era noite, o herbário já havia fechado, mas June estava ali trabalhando, pois queria ficar sozinha, e também ficar longe de Vincent e Eleanore.

– June – a cabeça de Sam atravessou a porta do herbário – Não vai jantar?

– Eu estou sem fome. – Ela se inclinou ainda mais sobre a mesa, ajeitando-se na cadeira.

Sam suspirou, apesar de não ter mais pulmões. Ele adentrou o herbário e cruzou os braços.

– Brigou com Vince?

Ela ergueu os olhos apenas minimamente e bufou.

– Olha só, June, você nunca foi uma das pessoas mais bem-humoradas do mundo, mas ultimamente você anda mais chateada. – Sam flutuou até a mesa e apoiou suas mãos no tampo, embora não precisasse e nem sentisse a madeira. – Eu sei que é por causa de Eleanore.

June quebrou uma raiz de salsa ao meio e a deixou de lado, descontando infimamente sua frustração momentânea.

Ela sabia que era errado sentir tanta raiva de Eleanore. A ruiva tinha sofrido bastante em sua vida, ao menos, o pouco que June sabia. Estava tão desesperada, que fugiu de casa, tinha medo do próprio pai e, pelo que Vincent tinha dado a entender em uma conversa, o pai de Eleanore batia nela. Além de tudo, o criminoso irmão de Vince a queria, não se sabia o porquê.

A menina estava desesperada, desamparada e sem ter onde ficar. Vincent só a estava ajudando, protegendo ela, assim como ele fizera com todos os habitantes daquela casa. Mas com Eleanore era diferente, ela sentia isso e era isso que a machucava mais.

Não estava sendo justa com Vincent, ela sabia disso. Mesmo sabendo que ela não tinha aptidão mágica, ele ainda assim a ensinou magia, o básico sobre poções e até mesmo tentou ir além, tentando ensina-la feitiços mais complexos. Quando ficou óbvio que June não conseguiria fazer feitiço algum, ela própria desistiu.

Algumas pessoas sem aptidão mágica, ainda assim, conseguiam fazer mágica, estes eram chamados de magos. Os que usavam estudos, escrituras, símbolos e artefatos para praticar magia, mesmo sem ter a tal aptidão. Era mais difícil e trabalhoso, demandava uma imensa inteligência, levava anos e anos a mais do que normalmente um feiticeiro levaria.

June acabou se satisfazendo com suas poções, até Eleanore chegar e praticamente esfregar sua excessiva aptidão mágica na curandeira. Pior, ela podia ser uma Fonte.

– E daí, Sam? – June ralhou.

– Deveria dar uma chance para Eleanore, June.

A curandeira soltou um som desdenhoso.

– Meu problema com ela não é a falta de chance, ou sua personalidade.

– Eu sei. – Sam afirmou – O problema é Vince.

– O que está dizendo? – June desviou o olhar e tocou instintivamente em sua pulseira, aquela com folhas de esmeralda e o pingente de girassol, que Vincent lhe dera.

O FeiticeiroWhere stories live. Discover now