Capítulo 1

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- Mamãe, eu tô bem! - Falei mais uma vez sendo esmagada por uma mãe completamente chorosa.
- Você verificou se lá tem internet e sinal pro celular? Eu preciso saber se vou conseguir falar com a minha bebê a qualquer hora do dia!
- Primeiro de tudo, não me chame de 'bebê' em públco - eu ri. - Segundo, eu não estou indo pro fim do mundo, eu estou indo pra LONDRES! É óbvio que tem internet, mãe!
- Não sei, Giovanna, não sei... - ela começou a chorar, e eu acho que ia começar a chorar também... - Filha, você tem certeza de que quer ir?
- Mãe, não começa - mordi os lábios. - Por favor...
- Ai, Gi... - e mais um abraço, cacete! - Liga assim que você chegar, se não gostar deles pega o primeiro avião de volta pro Brasil, o primeiro!
- Prometo - respondi meio abafada.

Já havia me despedido do meu pai de manhã, ele não era fã de despedidas longas nos aeroportos com todo mundo olhando, minha mãe em contrapartida se pudesse iria pra Londres comigo - coisa que graças a Deus foi proibida pelo meu pai. Não é que eu não estava triste, é óbvio que eu estava! Meu quarto, meus pais e minha cachorra estavam sendo deixados no Brasil, porém eu estava indo viver um sonho que eu tenho desde menina e eu não deixaria ninguém se colocar no meu caminho. O número do meu vôo foi chamado e o frio na barriga apareceu, eu nunca tinha andado de avião e agora eu ia passar catorze horas com a bunda colada numa cadeira a trocentos mil pés de altitude!

- Me liga?
- Ligo, mãe, por favor, não fica paranóica! - Eu sorri e dei um beijo em sua bochecha.
- Te amo, minha menina, estamos muito orgulhosos de você!
- Eu também amo vocês - sorri.

Passei pelo portão de embarque, entrei no avião (segunda classe, é óbvio) coloquei meus fones, fechei meus olhos e fingi que aquela lágrima não estava caindo do meu olho. Eu fiz a escolha certa, não fiz? Bom, eu ia descobrir quando dali a catorze horas eu acordasse em Londres. LONDRES!

Catorze horas depois

Peguei minhas malas e quase corri para a saída do aeroporto já procurando por um táxi. A viagem tinha sido absurdamente longa e agora eu sei bem o que dizem sobre 'fadiga de viagem'. O fato de eu tomado um Vallium quando saí do Brasil contribuiu para eu dormir o tempo todo, mas agora eu me sinto cansada, enjoada e morrendo de vontade de me jogar na cama que eu nem sei como que é. Os britânicos falam rápido demais, enrolados demais e correm demais! Acho que já fui quase atropleada umas cinco vezes, e quando falo palavrões em português ficam me olhando com cara feia, QUAL O PROBLEMA? Meio emburrada consegui chegar até o táxi; um cara meio gordo, careca, branco demais abriu a porta pra mim (lado OPOSTO do qual estou acostumada no Brasil) e educadamente com um sotaque absurdo perguntou qual o endereço. As horas que gastava diariamente vendo Harry Potter, Nárnia e ouvindo The Police me ajudaram bastante a entender o sotaque britânico - ninguém nesse mundo fala mais enrolado do que Rupert Grint! Dei pra ele um papel com o endereço e ele sorriu dizendo que o local era bem próximo. Houve aquela conversa de 'você é de onde?' e mais os detalhes pessoais de sempre, e, quando de por mim, já estava de frente com um prédio absurdamente enorme lotado de adolescentes na frente.

- Albergue Stanton? - Ele sorriu pra mim apontando para meu lado esquerdo.
- Acho que é esse mesmo - suspirei. - Quanto fica?
- Nada não, criança, não vou ser o primeiro a extorquir seu dinheiro - ele riu. - Só tome cuidado com os taxistas, tudo bem?
- Desculpe senhor - eu disse. - Tem como me dar então o seu telefone? Caso eu precise de alguma coisa...
- Pensei que nunca ia perguntar - ele sorriu e me entregou seu cartão. - Me chamo Jeff. Esse é o telefone de minha casa, às vezes estou no serviço e não posso usar celular enquanto dirijo, pode falar com minha esposa caso precise de algo. Ela se chama Meg.
- Obrigada, Jeff - sorri absurdamente aliviada, primeira amizade, yay! - Tenha um bom dia.
- Bom dia, criança, boa sorte.

500 Days in LondonWhere stories live. Discover now