Capítulo 9

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Adormeci assistindo Romeu e Julieta versão Leo DiCaprio e Claire Danes - na verdade é minha versão favorita e menos melo dramática, se é que isso é possível quando o assunto é Romeu e Julieta. A chuva caía de forma torrencial do lado de fora (óbvio, porque não podia ser DENTRO, odeio pensar pleonasmos) e eu me encontrava toda encolhida debaixo das cobertas e parecendo um pacotinho. Não sei onde Mands estava e, na verdade, mal me lembro da última vez que nos falamos. Parece que estou em um universo paralelo ou coisa do tipo, andava meio zonza nos últimos dias. Desde tudo o que aconteceu na SugarScape, minha conversa com Gustavo e especialmente minha conversa final com Miguel, eu andava meio tonta e pensando seriamente em voltar pro Brasil, na verdade não queria voltar pro Brasil, mas eu só queria não ter me esbarrado no Gustavo aquele dia perto do London Eye. Ou que ele fosse simplesmente um cara regular, que não fosse famoso e que gostasse de mim de boa, e que eu não tivesse que ficar me preocupando com fãs maníacas que por alguma razão obscura do universo me odeiam.

Passei a semana em casa, por recomendações de Olívia e da escola eu não participei das aulas, mas eu recebi o material todo via e-mail. Mands foi à escola, porém a situação estava ficando um pouco pesada pra ela também; as meninas agora sabiam que ela era amiga do One Direction tanto quanto eu, só não sabiam por enquanto do rolo dela com Matheus - mas isso não era algo que ela fazia muita questão de esconder. Todo dia ela voltava com a cara meio triste e era bem claro perceber que ela estava chorando, mas quando me via abria o maior sorriso e dizia que o dia tinha sido ótimo e que eu fiz muita falta na escola; sorria pra fingir que estava tudo bem, mas nós duas sabíamos muito bem que a escola poderia se tornar uma tortura. É lógico que foram tiradas fotos daquele dia fatídico do photoshoot, e as fotos caíram nas redes sociais. Teve fã que disse que preferia me ver morta, que deveria ter me deixado lá caída no chão, teve fã que ficou preocupada e teve fã que nem sabia direito o que estava acontecendo. Recebi uns tweets desejando melhoras, outros falando que eu deveria morrer e que não era boa o bastante pra Gustavo, outras me chamando de biscate e caça dotes, falando que eu estava de 'rolo' com Gustavo porque eu queria fama... E, sério, as fofocas só estavam aumentando. Não conversei com nenhum dos meninos desde que voltei pra casa e nem eles me procuravam, Mands também ficou afastada de Matheus e nós duas estávamos sentindo saudades daqueles cinco filhos da puta! Me pegava olhando pro celular pensando que podia receber uma mensagem de Gustavo a qualquer momento, mas mal recebia notícias de minha mãe então acabava desistindo. Acompanho a vida deles pela internet e pelos blogs, o sorriso no rosto dos cinco me mata porque eu sei que no fundo pelo menos dois deles estão preocupados. Vi uma fã um dia chamar Gustavo pra sair, filmar e colocar no Tumblr; a resposta dele foi um sem graça 'claro' e depois ele olhou pra Miguel e deu de ombros, a menina já postou o vídeo falando que tem um encontro com Gustavo e, querendo ou não, eu voltei a ser a atenção. Fãs diziam que Gustavo havia encontrado alguém melhor que eu, que tudo foi apenas um passatempo, que eu era a peguete da semana, e, PASMEM, tudo isso aconteceu em um espaço mínimo de cinco dias. Novamente devo falar, esse fandom me assusta em proporções ridículas!

Como eu dizia antes desse desabafo, eu estou parcialmente adormecida em minha cama ouvindo a chuva cair e quase destruindo o telhado enquanto eu me mantenho quentinha e aquecida aqui debaixo das minhas cobertas. Queria que meu cérebro parasse de funcionar por alguns minutos, eu realmente estou disposta a dormir! Tomei por dois dias um remédio chamado 'Rivotril', praticamente um 'boa noite Cinderella'. Eu APAGUEI por dois dias, acho que Mands estava querendo me poupar da minha realidade maldita. Pois bem, tomando esse remédio eu desapareci do mundo por dois dias e agora parece que eu só sei dormir, por mim eu tomava Rivotril hoje de novo, mas Mands escondeu de mim porque o treco pode ser viciante. Enquanto eu estava naquela luta interior de olhos fechados tentando apagar cem por cento e não apenas setenta por cento, escutei alguém cutucando a janela; por um instante achei que fosse a chuva e todo o vento, mas comecei a ouvir uma voz conhecida chamando meu nome. Abri meus olhos - já que estava mais ou menos acordada mesmo - e levantei, não estava com medo porque ladrões não avisam que vão entrar na casa das pessoas, podia ser Mands que esqueceu a chave em algum lugar e agora estava tentando entrar pela janela, ou podia ser o guarda vindo avisar que alguma coisa aconteceu com ela. Mas pela janela?

Fui andando meio tonta e, quando afastei a cortina da janela, tive que colocar uma das mãos em cima dos meus lábios para não gritar. Gustavo estava ali, totalmente ensopado e com os lábios num misto de roxo com vermelho, e tremendo muito. Sua roupa totalmente ensopada e seu cabelo caindo por sua testa, o que eu estava fazendo ali que ainda não tinha ido abrir a janela para o garoto entrar? Ele sorriu pra mim e vi seu queixo vacilar e tremer, suas mãos estavam brancas e não tinha como sua roupa estar mais colada ao seu corpo, a chuva era tanta que eu mal conseguia vê-lo.

- Gustavo! - Exclamei abrindo a janela. Senti aquele vento cortante entrar por meu quarto e quase tive que puxar o garoto pra dentro. - Puta que pariu, o que você tá fazendo?
- E-eu... - seu queixo tremeu. - Vi-vim t-te ve-ve-ver.
- Por Deus, seu maluco! - corri os olhos pelo quarto e peguei a manta de lã que estava em cima da cama e joguei-a por cima de Gustavo, abraçando-o quase de imediato. Nunca tinha visto uma pessoa tremer tanto. - Você poderia ter me ligado, sabia? Eu pelo menos teria deixado a janela aberta.
- Você não ia que-quer me ver - ele soltou um longo suspiro e senti os músculos de seu corpo relaxarem ao passo que ele ia se esquentando. - Obrigado.
- Nós teríamos uma pequena discussão pelo telefone, mas no fim você ganharia e eu ia deixar você vir aqui - respondi rindo enquanto me afastava. - Tá se sentindo melhor?
- Volta aqui - ele me chamou de volta para seus braços e eu recuei em pensamento.
- Gustavo, o que você quer?
- Eu quero você - ele me respondeu sério.

A manta que antes o mantinha quente estava no chão e seu corpo agora todo contra o meu. Nós estávamos na cama. Como que isso aconteceu?

Seu corpo era pesado, mas ao mesmo tempo confortável e se encaixava perfeitamente com o meu, nunca pensei que eu fosse ser tão pequena perto dele. Nossos rostos estavam quase na mesma altura e ele me encarava como se a vida dele dependesse daquele momento, mordi meus lábios e engoli a seco a vontade que eu estava de gritar ou de finalmente beijá-lo. Ergui minhas mãos para passar por seus cabelos molhados e vi Gustavo fechar os olhos e soltar um suspiro de aprovação, um sorriso delicioso apareceu no canto de seus lábios e era bom saber que ele sorria por mim. Ele abaixou um pouco mais o rosto para encostar sua testa na minha enquanto eu sentia suas mãos brincalhonas passearem pela lateral do meu corpo e levantarem a minha camiseta, de repente eu senti aquele velho formigamento na barriga e um pouco mais embaixo, devo acrescentar. Usando uma das mãos ele apertou a parte interna da minha coxa e eu deixei escapar um gemido alto, seu rosto estava ainda colado ao meu e eu pude sentir seus lábios finalmente tocarem os meus de forma macia a fim de calá-los. Não houve língua, apenas o toque, pude sentir Gustavo sorrir por cima e foi impossível não sorrir junto, ele apertou um pouco mais minha coxa ao passo que ia separando minhas pernas e se encaixava em mim, outro gemido escapou e tive que morder meu lábio inferior para eu não dar nenhum escândalo. Nunca senti nada parecido e ninguém nunca havia me tocado desse jeito! Pensei em falar alguma coisa, mas meus pensamentos e minha talvez voz foram calados quando, ainda com os lábios entre abertos, senti a língua de Gustavo pedir passagem e um beijo delicioso e molhado ser iniciado. Era melhor do que eu podia sonhar, do que eu podia imaginar, e melhor do qualquer outro beijo que eu já tivesse provado. A princípio nós abrimos nossas bocas de forma sincronizada e eu apenas apreciei o toque molhado e quente de sua língua, depois o beijo tomou forma e nós ficamos naquela briga de abre e fecha a boca enquanto brincávamos um com a língua do outro, puta merda, que beijo BOM! Inclinei meu corpo e deixei ele roçar em mim, aumentando a fricção lá embaixo, foi a vez dele soltar um grunhido e eu sorri durante o beijo. Me permiti emaranhar meus dedos por seus cabelos que eu tinha tanta fascinação e depois eu controlava o ritmo do nosso beijo e a posição de nossas cabeças, cada vez que eu recuava ele vinha sedento de volta procurando meus lábios. Nossas respirações se misturavam ao passo que a nossa temperatura corporal aumentava, por vezes ele me beijava e mordiscava meu lábio inferior, o prendia por seus dentes e depois soltava; eu fazia caretas de reprovação porque esse tipo de provocação me deixava cada vez mais e mais louca por ele, por seu corpo e por tudo o que podia acontecer. Finalmente Gustavo tirou sua camiseta e no segundo seguinte eu tirei a minha, nossos corpos agora quentes e suados podiam ter um contato digno, os arrepios por minha espinha eram constantes e cada vez mais o incômodo mais embaixo começava a ser desconfortável, eu precisava de Gustavo fazendo o que ele queria fazer logo, caso contrário eu ia ficar louca! Ele começou a beijar meu queixo e meu colo, os beijos foram descendo e minha pressão arterial foi caindo junto, sentia meu corpo gelado e meu coração batendo num ritmo acelerado demais e podia jurar que estava quase morrendo, mas a sensação de ter Gustavo beijando meu corpo e apertando minha coxa ao mesmo tempo me deixava acordada e dava uma adrenalina em minhas células me deixando ligada, ou era tesão, sei lá. Ele mordiscou a pele abaixo do meu umbigo e dessa vez eu soltei um grito, não foi nem um gemido, foi grito de insatisfação porque eu estava querendo mais, eu precisava de mais e ele estava sendo um garoto muito mau. Joguei minhas mãos pra cima e puxei com força meu cabelo pra trás, quase como que querendo ter um autocontrole dos meus sentimentos, ele olhou pra mim debaixo pra cima e eu pude ver o tão conhecido sorriso sacana em seus lábios; lábios estes que estavam vermelhos e inchados, provavelmente iguais aos meus. Aos poucos ele foi abaixando minha calça e ele não parava de me beijar, suas mãos me apertaram um pouco mais e foram subindo pela lateral do meu corpo, era como se ele quisesse segurar em alguma coisa quando fosse fazer o... quando fosse fazer o que todo mundo faz com a boca LÁ! Bom, nem todo mundo faz, mas quem faz adora. Eu já estava me sentindo tonta e aquele incômodo no meio das minhas pernas estava ficando cada vez pior, Gustavo não ajudava em nada apertando seu polegar na minha cintura e deixando marcas ali, seus outros dedos estavam massageando minhas costas e me arranhando de leve, cada vez mais eu me arqueava pra cima e fazia um enorme esforço de permanecer sã. Senti ele morder a renda da minha calcinha e brincar com os lábios ali, passando a língua suavemente na minha pele fina e arrepiada, senti ele fazer desenhos com os lábios e a língua enquanto eu não controlava mais os gemidos e gritos que escapavam de minha boca; não posso mais afirmar se era tesão ou se era desespero! Ele ia me matar, eu ia morrer! Foi então que pareci ouvir meu nome, mas estava um pouco longe e não conseguir distinguir. Balancei a cabeça e respirei fundo tentando me concentrar no que estava acontecendo, mas não deu certo; novamente ouvi meu nome ser chamado, olhei pra baixo e não era a voz de Gustavo. Na verdade, cadê o Gustavo? Hein?

- Giovanna? Tá aí?

Meu corpo estava completamente ensopado e o lençol nunca esteve tão molhado. Eu estava deitada na cama, sozinha! Levantei sentando-me no colchão e passei as mãos pelos meus cabelos e meu colo, eu estava suada, melequenta... Mexi minhas pernas e constatei que não era apenas a parte superior que estava molhada, eu também estava úmida mais pra baixo. Espera... PUTA MERDA, EU TIVE UM SONHO ERÓTICO! O desespero tomou conta de mim e minha respiração aumentou, mas dessa vez não foi de prazer, foi de vergonha! Eu nunca tive um sonho assim na minha vida, eu nunca nem se quer devo ter me masturbado da forma correta - nem sei se tem forma pra isso, minha mãe sempre me disse pra eu tomar cuidado com o chuveirinho do banheiro - e agora eu tô tendo sonho erótico com Gustavo Torres! E eu sou virgem, não sei como que funciona essas coisas, eu tive um orgasmo? Porra, eu tive um orgasmo enquanto eu dormia só de pensar no Gustavo, QUE VERGONHA! E eu estava com vontade de fazer xixi e com sede, era por isso que eu estava sonhando com chuva? Dizem que quando você sonha com chuva é porque você quer fazer xixi ou quer beber água, no meu caso eu quero os dois; e eu queria o Gustavo! Que caralho, que vergonha meu Deus, eu nunca NUNCA mais vou conseguir olhar pra cara dele, meu Deus, meu coração vai sair pela boca. Olhei pra televisão e vi Leonardo DiCaprio falando alguma frase do Romeu, pelo menos parte do sonho era realidade. Mas, meu Deus!

- Giovanna Donatelli, você tá me ouvindo?

Tinha realmente alguém me chamando do lado de fora do quarto, e não era da janela, o chamado estava vindo da porta mesmo. Forcei-me e levantar-me da cama e senti o quão chato era caminhar me sentindo meio suja, eu precisava de um banho e logo! Peguei o roupão de Mands que estava jogado em cima de uma das nossas poltronas e me enrolei, joguei meu cabelo pra trás na tentativa frustrada de melhorar minha cara, mas quando eu passei em frente ao nosso espelho eu vi que estava com uma cara péssima! Fui até a porta e a destranquei, quase caí pra trás no susto quando vi quem me chamava do lado de fora. Entre todas as pessoas no mundo, o que Dhiego Lizardo fazia ali?

- Dhiego? - Perguntei fazendo um esforço para não ver tudo embaçado, eu ainda estava vendo meio estranho e sentindo coisas estranhas. - Que faz aqui?
- Deixa eu entrar? Acabei de despistar três garotas e eu acho que elas vão voltar daqui a pouco - ele ria. - Dá espaço.
- Entra - eu ri e afastei meu corpo deixando Dhiego entrar. - Tudo bem?
- Aham.
- Giovanna? - Ele me chamou, tinha um sorriso engraçado no rosto. - Você tá ok?
- Eu... Estava dormindo - falei suspirando. - Tive um... Hm... Pesadelo.
- Pesadelo? - Ele ria. - Tá toda suada por culpa do pesadelo?
- Dhiego, chega...
- Não foi pesadelo, foi? - E agora ele ria. - Caralho, você teve sonho safado.
- Não quero falar disso com você, Dhiego - eu ri. - Fica à vontade, eu vou tomar um banho.
- Sei que vai...
- CALA A BOCA!
Deixei um Dhiego que estava morrendo de rir na sala e fui para o banheiro. Tirei aquela roupa suada e entrei debaixo do chuveiro gelado, assim que senti a água bater nas minhas costas senti uma sensação de alívio e pude relaxar por alguns minutos. Molhei meus cabelos e massageei minha nuca, meus ombros e o resto do meu corpo, nunca um banho foi tão prazeroso. Eu ainda sentia o toque imaginário de Gustavo em mim e isso me dava espasmos, eu precisava parar com isso! Molhei a esponja e coloquei o meu sabonete líquido, passei por todo meu corpo e em cada parte que eu massageava eu me arrepiava, tenho certeza de que esse sonho ainda vai me provocar por muito tempo, só de pensar eu já estou tendo dificuldades pra respirar de novo. Lavei os cabelos demorando bastante nesse processo, depois deixei a água escorrer por meu corpo, acalmando-me célula por célula; só quando percebi que estava mais calma e que conseguiria encarar Dhiego foi que desliguei o chuveiro.

Nós tínhamos alguma roupas no banheiro, então saí e me sequei. Procurei por roupas íntimas e depois que as tinha colocado em meu corpo coloquei um short jeans largo e uma camiseta velha dos Simpsons, não estava me importando muito em ficar bonita. Penteei meu cabelo e tirei o excesso da água com a toalha, me olhei no espelho e vi que estava um pouco melhor do que antes, pelo menos não estava mais com aquela cara de orgasmo imaginário. Suspirei três vezes e, pra garantir, joguei mais um pouco de água gelada no rosto e na nuca, se eu estava meio ansiosa pra ver o Dhiego imagina quando eu tiver que encarar o Gustavo de novo? Assim que saí do banheiro não vi Dhiego, pensei que ele tivesse ido embora, mas então ouvi o som de alguma coisa caindo no nosso improvisado estúdio de fotografia... Ah meu Deus!

- Dhiego? Dhiego Lizardo? - Perguntei abrindo a cortina e vendo o garoto no chão pegando minha câmera, MINHA câmera. - Não me mostra!
- Não quebrou, Gi - ele disse se levantando. - Mas pra que você precisa desse negócio redondo na frente da lente?
- Ai, puta merda - eu ri. - Só deixa ali em cima da bancada e depois eu vejo o que faço, e, pelo amor de Deus, vamos sair daqui.
- Espera um pouco - ele riu depois de deixar minha câmera onde eu pedi. - Todas essas fotos, você quem tirou?
- Eu mesma - sorri orgulhosa. - Gostou?
- São excelentes - ele sorria olhando foto por fofo.

Como eu já disse uma vez, eu e Mands montamos nosso próprio estúdio de revelação fotográfico, ele ficava na nossa pequena lavanderia e era até fofinho. Todas as fotos recém-reveladas estavam penduradas em algo que chamamos de 'varal', as tigelas com o líquido revelador embaixo e as luzes escuras localizadas em pontos estratégicos. De verdade, esse estúdio era meu orgulho particular. As fotos que tirei dos meninos no dia em que fui a casa deles estavam lá, e isso incluía as fotos que tirei com Gustavo. Dhiego parou de frente para a foto de nós dois e sorriu, cruzando os braços na frente do corpo e fazendo 'não' com a cabeça.

- Que foi? Não gostou da foto?
- Na verdade, tudo nessa foto é simplesmente perfeito - ele sorriu. - Vocês fazem um casal maravilhoso, já disse isso antes?
- Algumas vezes - respondi rindo. - Gustavo já disse isso também.
- Vamos lá pra fora, preciso falar com você - ele apontou pra cortina, eu apenas concordei e saí.
- Manda - disse pegando um copo de água e me sentando em cima do nosso balcão da cozinha.
- Gi, nós vamos para os Estados Unidos semana que vem - Dhiego disse olhando meio pra baixo, mas não pude deixar de notar um sorriso.
- Cara - sorri. - Cara, isso é ÓTIMO!
- Estamos muito empolgados. Na verdade soubemos da notícia ontem, tivemos uma reunião com o Simon e nossos outros produtores, eles acham legal talvez começar a expandir nosso trabalho, e quer lugar melhor que os States?
- Nossa, agora sim o mundo inteiro vai conhecer vocês - eu ri.
- Se nós já tivéssemos estourado lá antes, talvez você já nos conhecesse. Por exemplo, você deve conhecer Justin Bieber...?
- Ah sim - eu disse rindo. - Mas vocês são bem melhores que ele!
- Hey, eu gosto do Justin!
- Sem ofensas - eu ri. - Dhiego, eu espero de coração que vocês façam muito sucesso por lá, na verdade eu tenho certeza de que vocês vão ser adorados!
- Obrigada, Gi - ele sorriu.
- Ah caramba, me dá um abraço, pô!

Pulei da bancada e fui logo dar um belo abraço apertado em Dhiego. Foi um abraço tão apertado e tão gostoso, eu parecia que ia ser esmagada, senti ele sorrir atrás de mim e soltar uma doce risada, tive que fazer o mesmo. Ele me segurou pela cintura e me ergueu, rodando meu corpo pela cozinha, tive que alertá-lo que a cozinha era pequena e eu podia bater minha perna em qualquer lugar. Conquistar os EUA era um grande passo pra banda e eu tenho certeza de que eles iam brilhar, e brilhar demais! Iam ser estrelas mundiais, podia ver o futuro do One Direction estampado na minha frente, meu Deus, eles iam ser grandes!

- Você veio aqui me dar essa notícia maravilhosa?
- Na verdade, não - ele riu, bagunçando os cabelos. - Gustavo queria te dar essa notícia no dia do photoshoot, por isso ele te chamou pra jantar. Nós só confirmamos isso recentemente, mas ele já queria te avisar.
- Pena que deu tudo meio errado - falei dando de ombros. - Cadê ele?
- Essa é a segunda parte da minha visita - ele sorriu. - Vim aqui te buscar pra um esconderijo secreto, Gustavo te espera lá.
- Oh meu Deus, Dhiego...
- Qual é? Vocês dois tem muita coisa pra conversar, Gi, você tem que ver como que o cara está meio miserável.
- Mas eu não fiz nada!
- Vocês não estão juntos, isso está o matando!
- Dhiego, agora com vocês indo pros EUA vai ficar mais difícil ainda. Vamos passar tempo separados, e o tanto de menina maravilhosa que vocês ainda vão conhecer pela frente...
- Ele quer VOCÊ! - Dhiego pegou na minha mão e me olhou sério. - Acredite, Gi, não tem ninguém nesse mundo que ele queira mais que você.
- Dhiego...
- E vendo sua cara quando eu cheguei, você quer isso tanto quanto ele - Dhiego sorriu meio maroto. - Não mente pra mim, você estava sonhando com ele.
- Eu podia estar sonhando com outra pessoa - falei sem graça, ele riu. - Que seja, isso não significa nada.
- Significa que você gosta do meu amigo, e ele gosta muito de você também.
- Dhiego - suspirei, que se dane. - Me dá cinco minutos.
- É isso aí, garota! - Ele riu.

Só troquei o short por uma calça jeans e joguei meu moletom da GAP por cima da minha camiseta dos Simpsons. Meu cabelo ainda estava meio úmido, então só o joguei pra frente e depois pra trás e dei uma bagunçada, não ia melhorar muito mais. Peguei minha bolsa e saí do apartamento com Dhiego. Não fazia nem ideia do que me esperava e nem do que eu ia conversar com Gustavo, mas eu confiava nele e confiava também em Dhiego.

- Lizardo?
- Manda.
- Desculpa por brigar com você no dia do photoshoot.
- Esquece isso, Gi.
- Não, sério - funguei. - É que, depois do que aconteceu eu fiquei aborrecida e tive que descontar na primeira pessoa. Você foi muito fofo, não queria...
- Eu gosto de você e gosto do Gustavo. E gosto muito mais de vocês dois juntos, se eu falei que ele se deu bem é porque de verdade ele se deu bem.
- Obrigada.
- Quando vocês dois se tornarem um casal público eu vou poder ficar fazendo piadinhas de vocês dois? - Ele perguntou rindo.
- Claro que sim - respondi sorrindo. - Posso contar com você pra me defender se alguma fã falar mal de mim?
- Pode contar com todos nós - ele sorriu de forma meiga. - E isso vale pra Mands também.
- Acho que vamos matar o fandom inteiro - comecei a rir e Dhiego me acompanhou.

Dez minutos depois estávamos em um lugar que eu não fazia idéia de onde era. Dhiego parou em uma rua mais ou menos deserta em frente a um prédio com uns dez andares. O prédio era um pouco abandonado, mas eu podia ver que lá no terraço havia luzes e a sombra de uma pessoa.

- Você só tem que subir lá em cima e pronto - Dhiego disse. - Ele já está te esperando.
- Valeu, Dhiego - respondi dando um beijo em seu rosto e pulando pra fora do carro no minuto seguinte.

Todos os arrepios que eu senti durante o sonho não se comparavam a nada com o que eu sentia naquele momento, aquilo era real e me deixava apavorada. Entrei no prédio mais ou menos abandonado e frio e me deparei com velas colocadas nos degraus de uma escada. Caminhei até elas com um sorriso idiota no rosto e vi um bilhete que dizia 'siga as velas - Gustavo x'. Comecei a rir de forma descontrolada e senti um fogo tomar conta de mim, eu era tão babaca! Por mais que eu não gostasse de coisas fofas e românticas, devo dizer que Gustavo estava me pegando de surpresa a cada segundo, nada com ele era clichê e nada com ele era premeditado, era tudo uma confusão e tudo muito rápido. Subi cada lance de escada sentindo meu coração ir parar na boca, quando estava quase chegando ao topo pude ouvir a risada de Gustavo e então me apressei. Finalmente, depois de vários lances e estar um pouco mais cansada do que eu devia, eu cheguei! O terraço ainda não tinha nada, só conseguia ver concreto e tijolos para todos os lados, porém o que mais me interessava estava bem ali na minha frente. Sabe, eu só lembrava do Gustavo do meu sonho, ver ele assim era muito melhor. Ele estava de social, e eu de moletom e calça jeans, por que raios Dhiego não me disse pra vestir uma roupinha melhor?

- Cansada? - Ele me perguntou vindo até mim e me dando um abraço. - Desculpa, não consegui achar um lugar com elevador.
- Sem problemas - eu falei rindo pegando um pouco de fôlego. - Falando nisso, como você achou esse lugar?
- Contatos - ele piscou. - Senti sua falta, Gi.
- Eu também - sorri sentindo um peso que estava em meu coração ir embora. - Dhiego me contou as boas notícias, parabéns!
- Ah, obrigado - vi Gustavo sorrir de uma forma tão feliz que meu mundo se iluminou só com aquele sorriso. - Vai ser muito surreal, eu mal consigo imaginar isso.
- Vai ser incrível, eu tenho certeza de que vocês vão adorar - falei passando as mãos pelos seus braços e sorrindo. - Traz uma lembrança pra mim?
- Eu vou trazer muito mais que isso - ele sorriu. - Vamos ser número um, escreve o que eu tô falando.
- Tenho certeza de que vão, confio muito em vocês - respondi. - Bom, você deve ter marcado de me ver aqui por uma razão, eu suponho.
- É - ele mordeu os lábios. - Vem aqui - Gustavo me puxou pela mão e me levou até um banco feito de concreto .- Gi, nós vamos ficar fora por mais ou menos um mês e meio.
- Caralho, sério?
- Nós vamos primeiro pra LA fazer uma divulgação por lá, depois vamos rodar algumas cidades, vai ser quase uma cidade por dia - ele suspirou. - Vai ser bem puxado.
- Mas isso tudo é pra divulgação do CD e da banda?
- Aham - ele concordou. - O CD ainda nem foi lançado nos EUA, então vamos fazer alguns shows para promover nosso trabalho.
- Que massa, Gustavo, que demais!
- É, vai ser incrível - ele sorriu. - Então, como eu dizia, vamos ficar fora por quase dois meses e... Ai, caramba, como vou falar isso?
- Que foi? - Perguntei segurando em sua mão, vi meus dedos serem delicadamente entrelaçados aos dele. - Gustavo, pode falar qualquer coisa pra mim.
- Gi, eu gosto muito de você, eu gosto mais do que eu deveria gostar - ele riu. - E eu queria saber se... ai meu Deus - ele riu nervoso. - Eu quero você ao meu lado.
- Gustavo?
- Seja minha garota.

E agora senti meu mundo desabar por debaixo dos meus pés. Sabe quando você está esperando por algo, mas aí você escuta isso sair da boca do cara que você gosta e quando você ouve você não tem certeza se isso foi realmente direcionado para a sua pessoa? Eu não me via ao lado de Gustavo, eu não me via namorando o Gustavo e eu nunca imaginei ele falando isso pra mim! Mas tinha muita coisa pra ser levada em consideração, e não apenas a minha paranoia, tinha muito mais ALÉM de ser a namorada dele, e eu não tive tempo pra pensar no assunto. Tá, eu sou racional demais e isso só me fode, mas é minha vida, fazer o quê? Já tinha tido uma experiência mais ou menos desagradável naquela semana, agora pensa vivenciar isso todos os dias? E não era apenas, é... ele vai ficar longe por um, epa, por quase dois meses! Se eu aceitasse naquele momento, selaria um relacionamento que já iria começar com distância. Puta merda, por que eu não podia gostar de um cara que vai ficar pra sempre no mesmo fuso horário que eu? Na verdade eu até poderia viver com isso se Gustavo e eu estivéssemos namorando há mais tempo, mas agora?

- Você está quieta - ele soltou minha mão. - Não é isso o que você quer?
- Gustavo, pelo amor de Deus, não coloca dessa forma!
- Como dessa forma, Giovanna? - Ele riu sem humor. - Eu realmente estou te pedindo em namoro e o que eu consegui em resposta foi silêncio da sua parte!
- Ugh! - Gemi e me levantei, ele bufou. - Gustavo, você está me pedindo em namoro um dia antes da sua partida pros Estados Unidos! Olha que legal, eu vou ser sua namorada e logo de cara vou ficar quase dois meses sem você.
- Essa é a minha profissão, sabia? Não vai ser a primeira vez que você vai ficar longe de mim, infelizmente eu faço turnê! Mas eu queria muito levar você comigo.
- Eu não tô reclamando do seu trabalho, porra - agora quem bufou alto fui eu, que saco. - Nunca vou reclamar do seu trabalho, Gustavo, pelo amor de Deus!
- Então, o que tá sendo tudo isso?
- Isso - apontei pra nós dois. - Vai acontecer, mas quando você voltar.
- Por quê?
- Gustavo, você está indo pro país primeiro mundo! Tem noção de quantas pessoas você vai conhecer? Quantos lugares você vai visitar? Quantas fãs vão cair de amores por você?
- Giovanna...
- Eu quero que você VIVA tudo isso antes de se enroscar comigo - ri sem humor. - Eu sou apenas uma caipira do Brasil que deu a sorte grande.
- Eu sou um caipira que nem ganhei o Xfactor, e aí?
- Você não tá me entendendo...
- Quê? Você acha que, por eu conhecer outras pessoas eu vou me esquecer de você? Giovanna, se eu tô pedindo pra você ficar comigo é porque eu quero ficar com você, eu quero ir sabendo que quando eu voltar você é minha e que estamos juntos.
- Não quero perca oportunidades que ainda estão por vir porque estamos juntos, eu posso ser bem ciumenta quando eu quero - falei séria, Gustavo riu.
- Não me importo de você ser ciumenta, eu até prefiro assim - ele caminhou até mim e eu dei dois passos pra trás. - Giovanna Donatelli, quer parar de se afastar?
- Gustavo, eu não quero namorar você agora - falei e ele arregalou os olhos. Essa frase ficou muito mais assustadora quando saiu da minha boca.
- É o Sam? - E lá vem o semblante de ciúme de novo. - É o Sam, não é?
- Que caralho Sam! - falei alto. - Na boa, Gustavo, eu tenho quase certeza de que o Sam é gay, então para de ficar colocando ele no meio do assunto.
- Como assim gay?
- Gay, que gosta do mesmo sexo! - Falei explicando e ele fez cara de desdém.
- Eu sei o que é uma pessoa gay.
- Se sabe então por que me perguntou?

Silêncio.

Não é que eu não queria namorar o Gustavo, puta merda, é claro que eu queria, mas tem como me entender aqui? Eu sou mega insegura, mega ciumenta e mega chata! Amanhã aquela pessoa na minha frente estaria embarcando para o país das tentações, o país da Kim Kardashian! É onde a primeira Starbucks foi criada, é de onde saem os filmes, é cinema... é Stan Lee! Tá, na Inglaterra há muitas coisas boas, mas venhamos e convenhamos, EUA dá de mil em qualquer país, não importa o quão desenvolvido ele seja. FACEBOOK, isso lembrei de mais uma coisa - maldito seja Mark! Depois de longos minutos de silêncio, eu olhando pro meu pé e Gustavo bufando de frente pra mim, resolvi caminhar os poucos passos que nos distanciavam; parei de frente pra ele, peguei sua mão e comecei a passar meu polegar em sua palma e cantar baixinho pra mim a letra de New York. Ele ia pra LA primeiro, mas eu só consegui pensar na letra de NY cantada pelo pessoal de Glee, aprendi muitas músicas assistindo essa série. Gustavo riu baixinho, provavelmente por culpa da minha falta de afinação vocal, eu não tinha o mínimo dom pra música.

- Você sabe que eu gosto de você, não sabe? - Perguntei sem olhar pra ele.
- Sei.
- Você sabe que desde que eu te vi aquele dia perto do London Eye eu não parei de pensar em você, por mais que eu ficasse mentindo pra mim o tempo todo falando que eu não me importo com você?
- Isso eu não sabia - ele riu.
- E você sabe que eu vou estar aqui te esperando quando você voltar dessa divulgação?
- Você vai?
- Eu sempre vou - levantei meu rosto pra dar de cara com Gustavo a poucos centímetros de mim.

Um simples suspiro poderia ser considerado nosso primeiro beijo, era só eu me mover meio milímetro e nossos lábios se encostariam, nossos olhares se encontraram e ficou naquela coisa de eu acompanhando os movimentos de sua pupila e ele acompanhando os movimentos das minhas. Gustavo mordeu seu lábio inferior sem parar o contato visual comigo e percebi uma certa tensão em seus ombros. Eu queria mais do que tudo na vida beijá-lo, mas eu sabia que se sentisse o seu gosto ia ser tortura, porque eu ia ter que ficar um mês e meio sem senti-lo novamente. Gustavo moveu-se em minha direção, mas eu virei o rosto, o que deveria ser um beijo na boca foi um beijo no rosto. Eu ri baixinho porque senti Gustavo ficar com os lábios por mais tempo na minha bochecha enquanto soltava um suspiro de total reprovação. Olhei pra ele e vi que ele estava com aquela cara meio 'que porra foi essa?' e eu comecei a rir, deixando Gustavo mais puto ainda.

- Não, eu não estou me fazendo de difícil - falei parando de rir. - É que, hm... Bom...
- Desembucha!
- Eu gosto de beijo na boca, TÁ! - Falei sentindo minhas bochechas corarem e um calor tomar conta de mim, porra de hormônios. Gustavo abriu o maior sorriso e quem comeceu a gargalhar foi ele.
- E desde quando isso é algo ruim?
- Não tô falando que é ruim, mas é que... - coloquei quase todo meu cabelo pra trás, Gustavo se divertia vendo o quão envergonhada eu estava. - Bom, se eu te beijar agora vai ser bem difícil ficar sem te beijar por mais um mês, quase dois. Se eu já tivesse te beijado antes seria mais fácil, mas agora...
- Nunca me arrependi TANTO de não ter te beijado aquele dia na van!
- Você disse que não me chamou com segundas intenções - abri a boca em um 'O' e ele riu de forma histérica.
- Sério que você caiu naquele papinho de merda? Ah, você é mais inteligente que isso, Gi.
- Fui muito ingênua - eu ri. - Charlatão.
- Eu queria te beijar desde a primeira vez que te vi, Giovanna, só que eu já sabia que você ia ser difícil, então...
- A espera vai valer a pena - eu falei mordendo os lábios e ele encarou de forma nada discreta meu rosto e minha boca. - Eu prometo.
- Literalmente estou com água na boca, e isso não é bom - ele falou.
- Me leva pra casa? E você também tem que ir pra casa - ergui minha mão esperando que ele a segurasse, foi exatamente isso o que ele fez.
- Vamos sair nessa madrugada, o aeroporto está mais vazio, acho que as fãs não sabem o horário do nosso vôo - Gustavo me disse enquanto caminhávamos.
- E já sabem que horas vão chegar em LA?
- Sei não, nem sei quanto tempo é de vôo, não fico pesquisando essas coisas - ele riu.

Saímos do prédio abandonado de mãos dadas e, meu Deus, tudo parecia tão certo. Por algumas vezes eu olhava para nossas mãos juntas e não podia acreditar no que estava acontecendo, quem nos visse na rua ia achar piada. Gustavo Torres de roupa social com uma estudante mediana brasileira de calça jeans e moletom, o que há de errado no mundo?

O carro dele estava de frente pro prédio, como um bom cavalheiro ele abriu a porta pra mim - ele riu antes, já que eu fui pro lado do 'motorista', nunca vou me acostumar com a mão inglesa -, me esperou eu entrar e depois a fechou. No caminho para minha casa fomos conversando de tudo um pouco, de como ele estava ansioso para saber o que as fãs iam achar da banda, de como eles não iam poder beber porque nenhum deles tem mais de 21 anos (essa é a maioridade nos EUA), dos shows, da possibilidade de eles se apresentarem no Today Show e, quem sabe, Saturday Night Live. Claro, falamos de nós dois; de como iríamos fazer quando ele voltasse, de como talvez fôssemos abrir o jogo e essas coisas. Eu disse pra Gustavo que nunca tinha namorado sério na vida e ele sorriu de forma prepotente; 'então eu vou ser o seu primeiro?' e essa pergunta estava cheia de segundas intenções. É, Gustavo, você ia ser meu primeiro, e se fosse igual ao sonho de mais cedo... Puta que pariu!

- Que horas sai seu vôo? - Perguntei quando o carro parou em frente ao meu prédio.
- Se não me engano, perto das quatro da manhã - ele disse com uma voz mega preguiçosa, eu ri.
- Melhor você ir dormir então - falei passando minhas mãos por seus cabelos, abrindo e fechando meus dedos. Sensação maravilhosa; vi Gustavo sorrir com os olhos fechados enquanto eu fazia carinho em seus cabelos e depois desci para seu rosto. Ele deve ser a pessoa mais linda que eu já vi na vida.
- Vem comigo? - Ele disse manhoso ainda com os olhos fechados, - Vou sentir muito a sua falta.
- Não posso, nesse tempo que você vai ficar fora eu vou ter pelo menos três provas e uma aula prática - respondi parando os carinhos e vendo Gustavo abrir os olhos. - Você parece um bebê.
- Exato, eu preciso de cuidados constantes e regulares - ele disse ainda manhoso e todo sorridente, eu comecei a rir. - Não vou conseguir um beijo seu hoje, vou?
- Hm-hm - falei travando os lábios e fazendo 'não' com a cabeça. - Se quiser beijar alguma americana, tem carta branca.
- Pra passar o tempo? - Ele disse brincalhão. - Não, obrigado.
- Vou fingir que acredito - respondi. - Deixa eu ir, Gustavo. Obrigada pela noite mega surpresa, não vou me esquecer.
- Lembra o que você disse no dia do photoshoot? - Ele perguntou antes de eu abrir a porta do carro. - Que você queria um pedido de namoro oficial?
- Eu falei brincando, o Matheus tava zoando!
- Mas eu não estava - Gustavo tirou de dentro do bolso do paletó uma caixinha azul e a deu pra mim. - Eu ia te dar isso se você me dissesse sim, você me disse de um jeito estranho - ele riu. - Mas eu considerei como uma resposta afirmativa pra minha pergunta.
- Não precisava se preocupar, Gustavo, não faço a mínima questão dessas coisas - disse pegando a caixinha de forma trêmula. Quando olhei a label em cima eu quase chorei, aquilo era uma caixinha Tiffany! - Gustavo, isso foi uma NOTA!
- Só abre, por favor? - Ele mordia os lábios, acho que ele faz isso com frequência, especialmente quando está nervoso ou ansioso.

Abri a caixinha com as mãos trêmulas e, quando vi o que estava dentro, aí que eu quase morri. Era um pingente de uma bússola prata, bem pequena e bem delicada. Estava pendurada em um cordão fino e também prata; na mesma hora já peguei e coloquei no pescoço.

- Não sei o que o universo tinha planejado pra mim naquele dia, mas de um jeito ou de outro ele fez eu te encontrar - Gustavo falou passando a mão na bússola recém-colocada no meu pescoço e depois em meu rosto. - É engraçado o nome da banda ser 'One Direction', porque a bússola sempre marca apenas para uma direção.
- Norte - eu falei e ele concordou.
- Você é o meu Norte - ele sorriu e eu também. - Você é a minha única direção, Gi, não pode ser mais ninguém.
- Obrigada - respondi quase aos sussurros, minha voz insistia em não sair. - Eu amei.
- Se cuida, princesa - Gustavo falou todo galanteador e veio me dar um beijo no rosto.

O beijo como sempre demorou mais do que devia, enquanto ele depositava o beijo em minha bochecha, senti seu corpo relaxar e ele respirar em alívio. Fechei meus olhos guardando com carinho aquele mínimo toque tão simples, mas ao mesmo tempo tão intenso para nós dois. Dei um beijo em seu rosto também e logo em seguida saí do carro. Acompanhei Gustavo virar a esquina e sumir no meio da noite londrina, apertei meu presente junto ao meu corpo e fui quase saltitante pro quarto. Esse mês tinha que passar muito rápido, pelo amor de Deus! Vai ser clichê demais se eu falar que já estou com saudades dele?

500 Days in LondonWhere stories live. Discover now