Capítulo 32

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O dia no hospital na França foi um dos melhores dias da minha vida. Não sei ao menos descrever como eu me senti quando conhecemos as modelos que estavam internadas lá, muito menos colocar em palavras o sorriso delas nos primeiros shoots do dia. Eu acho que nunca conheci pessoas tão lindas e tão estranhamente cheias de vida como aquelas garotas. Esqueci-me do mundo e o nervosismo que eu senti antes passou como se fosse mágica. Até mesmo o que aconteceu depois do shoot, quando fomos embora e eu e Mands voltamos pra casa não doeu tanto... Ou não doeu como eu imaginava que ia doer.

Flashback

Cheguei em nosso quarto e joguei a bolsa na poltrona com força. Eu estava tão cheia daquilo!

- Gi? - Mands vinha atrás de mim. Na raiva, eu havia a deixado para trás meio sem querer... Eu só queria sair de perto de todo mundo logo.

Eu não queria que meu cérebro ficasse pensando naquilo, eu juro que não queria... Mas sempre surgia uma voz irritante perguntando "Por que é sempre mais difícil pra mim?" "Por que elas sempre pegam mais pesado comigo?" "É porque eu sou brasileira?" "É porque eu não sou tão bonita quanto a Mands?" Me deitei na cama de barriga pra cima e coloquei as mãos sobre os olhos.

- Gi? - Mands me chamou, receosa. - Você tá bem? - senti que ela se sentou na cama.
- Não aguento mais, Mands! Que merda! - desabafei, sendo um pouco mais agressiva do que pretendia e ela se encolheu.

Eu não podia descontar nela! Não na minha melhor amiga, a pessoa que tinha me ajudado tanto nos últimos meses e umas das participantes mais importantes dos momentos mais felizes da minha vida nesse tempo todo em Londres. Tirei a mão dos olhos e a olhei.

- Sabe, eu até tava começando a achar que aqui em Paris seria diferente, que as fãs não iam nem me reconhecer ou que iam pegar mais leve. Mas pelo visto eu estava enganada, DE NOVO! É sempre a mesma coisa, parece que elas possuem um prazer doentio em me xingar, me fazer sentir como se fosse merda!
- E você não percebe que é isso que elas querem? Que elas precisam te deixar mal, porque você "tem" uma coisa que elas querem muito? - Mands se deitou ao meu lado - Não fica assim... Você e o Gustavo estão tão bem... Não deixa essas meninas te botarem pra baixo!
- É o que eu to tentando fazer desde que esse tumulto todo começou! Não pensar nisso, não me importar...
- Sabe o que você precisa? Enfrentar essas meninas! - Mands se levantou e sorriu abertamente, como se tivesse acabado de ter a ideia mais brilhante de todas. Eu me sentia meio como o Cascão ao perceber que o Cebolinha bolava mais um plano (in)falível! - Depois do que passamos hoje no hospital, acho que mais do que nunca você precisa colocar um ponto final nesse bullying idiota.
- E como eu faço isso? Vou bater nelas? Bom, mesmo que eu pudesse bater em uma, ainda sobrariam milhões... E o Gustavo me mataria!
- Que bater nelas? Quem falou em bater? - Mands ria da minha cara. - Tava pensando em uma twitcam pra você...
- UMA O QUÊ? VOCÊ TÁ DOIDA, AMANDA? - acho que a ideia de bater nelas me parecia mais razoável.
- Mas pensa só, Gi! Me escuta: Essas meninas tem falado de você e te xingado por meses e o que elas realmente sabem de você? Elas sabem o que tá escrito na sua bio do twitter, que você é brasileira, que estuda em Londres e que namora o Gustavo... A maioria delas nunca ouviu sua voz, nunca viu você rindo, conversando, falando de fotografia... Como elas podem mudar de opinião sobre você assim?

Que raiva... Fazia todo o sentido! Odeio quando a Amanda tem razão, o que anda acontecendo na maior parte do tempo.

- Elas vão me massacrar, Mands! - falei, colocando em palavras o maior medo em me expor tanto.
- Só se você deixar... Por que você acha que sofre mais com isso, Gi? Porque você SE DEIXA atingir!

Fazia sentido... De novo. Meu estoque de desculpas estava se esgotando! Fiquei um tempo em silêncio digerindo a ideia de ficar falando sobre mim para um monte de fãs que provavelmente só assistiriam esperando um deslize mínimo pra me crucificar. Em compensação, eu teria tempo para provar a elas que eu era mais que simplesmente "a namorada de Gustavo Torres".

- Ok, vai... - me dei por vencida - Vamos fazer esse negócio então!
- Vamos? - Mands riu - Vamos nada, mocinha! VOCÊ vai.
- Você tá brincando, né, Amanda? Não vou fazer isso sozinha!
- Calma! Eu vou estar aqui com você... Mas acho que você devia ir sozinha primeiro. Enfrentar seus medos... Ser maior que eles!
- E desde quando você ficou filósofa desse jeito? - falei e ela me mostrou a língua.
- Vai se arrumando aí, vou buscar um chocolate pra mim. ALGUÉM saiu correndo e eu não pude comprar a sobremesa!

Joguei uma almofada em sua direção e Mands saiu gargalhando pela porta. Respirei fundo e me levantei, pensando o que eu precisava fazer antes. Lavar o rosto, passar pelo menos um básico de maquiagem, trocar de roupa... Estava quase desistindo quando me lembrei que Amanda provavelmente me mataria se voltasse e eu estivesse do mesmo jeito. Peguei minha bolsa, puxei o notebook e o liguei. Deixei-o em cima da cama enquanto me arrumava e me peguei ensaiando o que ia dizer no começo. Nunca ficava tão bom quanto eu queria. Era uma merda ser perfeccionista, mas eu teria que me virar com o que saísse! Olhei-me no espelho e me achei... Ok. Porque eu não podia ser a Bünchen? Mas "ok" era bom, certo? De qualquer forma, ia ter que servir. Peter Jackson achou ao final das gravações de Senhor dos Anéis que o filme estava 'ok' e olha no que deu! Não que eu vá me comparar ao nível do Peter... Ok. Quando me senti pronta, respirei fundo mais uma vez e tweetei:

"Hey,, alguém aí? Estou pensando em fazer uma twitcam!"

Pensei se olhava ou não as mentions, mas eu me conhecia bem demais. Se tivesse UM tweet falando que eu só queria aparecer, eu iria desistir. Entrei no site da twitcam, ajustei a webcam e escrevi "Alguém mais entediado? Que tal um Q&A?" Com um "Vou te matar, Amanda!" na cabeça, apertei o "Broadcast and tweet". Agora já era!
Fiquei um tempo quieta e nervosa observando o número de viewers subir. Primeiro devagar e, depois, vertiginosamente. Na barra ao lado, onde ficava o chat, os muitos tweets de RT iam sendo rapidamente substituídos por perguntas, elogios e, lógico, xingamentos.

@1DGirlFriends Oi, Gi! Você é linda!
@_My_BooBear_ Era só o que faltava mesmo!
@Larry_X_Stylinson Nossa, você é mais feia do que eu imaginava!
@1DstalkerBulgaria Oi, Gi, me segue!
@NoJimmyProtested Quanto tempo você mora em Londres?
@LollaHoran Fala alguma coisa!

Ah, é... Eu precisava falar, né?

- Hmm... Oi, gente! Eu... Hmm... Resolvi fazer essa twitcam pra responder umas perguntas e interagir um pouco com vocês. Por isso, perguntem o que vocês têm curiosidade de saber sobre mim! Vou tentar responder o máximo de perguntas possíveis, mas não vou tolerar grosserias, ok? - não consegui me controlar ao ler uns comentários ridículos subindo no chat. - Quem não estiver interessado, pode fechar a página e voltar a fazer o que tava fazendo!

Aquilo soou MUITO como uma professora, me segurei para não rir! Voltei meus olhos para o chat a procura da primeira pergunta.

@BeMineHarry Perguntas? O Gustavo é bom de cama?
@LiamsLostKidney A única pergunta que me vem a cabeça é: COMO Gustavo Torres tá namorando com você?
@MaryMcFLYE1D Qual a melhor parte de namorar um integrante do 1D?

Passei por essa pergunta enquanto lia as outras, já me arrependendo de estar fazendo aquilo. Por que mesmo eu estava dando minha cara a tapa numa twitcam? Mands abriu a porta do quarto comendo um chocolate e se jogou na poltrona em frente à cama, onde eu e o notebook estávamos. Ah sim, era ela o motivo do meu suor frio e o sentimento estranho no estômago. E dessa vez não era fome! Eu tinha que estudar, revelar minhas fotos, ligar pra minha mãe no Brasil... Mas Amanda tinha tido aquela ideia genial de que eu deveria "enfrentar meus medos sendo maior que eles" e, para isso, interagir com as fãs de One Direction. Na minha concepção, isso significava ser jogada aos leões.

- Fala alguma coisa! - ela sussurou, fazendo sinal para que eu prosseguisse. Pisquei e percebi que estava há alguns minutos encarando a tela do notebook sem dizer nada. Aí sim as fãs iam achar que eu era retardada! Tossi e decidi responder aquela pergunta.
- Hum... qual a melhor parte de namorar um integrante do 1D? - repeti em voz alta a pergunta que tinha lido - Bom... Acho que é quando eu estou namorando o garoto por quem sou apaixonada e o trabalho dele não importa muito... - respondi dando de ombros, meio tímida.

Mands abriu um sorrisão e fez um sinal de positivo e eu sorri também. Mas falar do "garoto por quem eu sou apaixonada" me deixou um pouco preocupada sobre o que Gustavo ia achar disso tudo. Se ele ia pensar que eu estava nos expondo ou algo assim. Por isso resolvi que ia evitar o máximo possível as perguntas relacionadas a ele e ao 1D, se é que isso seria possível. Passei os olhos mais uma vez a procura de uma pergunta que eu ficasse a vontade para responder e senti um sorriso se formar em meu rosto.

@Lary_Cohen E aí, garota? Twitcam? Hahahaha... Deve estar sendo um martírio pra você. Gostei da camiseta ;)

- Oi, Lary! - falei e evitei olhar para onde Amanda estava, mas conseguia imaginar sua expressão de raiva. Olhei então para minha camiseta. - Minha camiseta é linda mesmo! É da minha banda preferida, o Pearl Jam...

Se tem uma coisa que eu aprendi é que ninguém pode me parar quando eu estou falando de um assunto que domino. Já que estava nervosa, me segurei no "Pearl Jam" por um tempo, contando como eu havia conhecido a banda, minha música favorita e coisas desse tipo. Logo comecei a ler perguntas relacionadas a música e passei a me sentir mais a vontade. Já nem parava pra ler os comentários ruins, porque estava focada em achar perguntas que dessem continuidade ao assunto.

@1Love1Direction E o que você faz em Londres? Faculdade?

Sorri de novo ao encontrar a oportunidade para falar da minha paixão. E aí eu tive certeza de que estaria bem. De algum modo eu entendia como aquelas garotas conseguiam se sentir tão superiores quando iam falar mal de mim. Sentada ali sozinha, na frente do meu note e falando sobre o que eu amava, eu me sentia invencível. A diferença é que eu usava essa minha coragem para algo bom... Mands ria às vezes das coisas que eu respondia ou contava e me olhava com certo orgulho. Eu tinha conseguido, certo?

- Oi, Michelle! Oi, Suria! - me peguei falando, mandando "shout outs" individuais para algumas garotas. Não queria confessar, mas estava me divertindo - Eu já estou na França, não sei se andaram lendo meus últimos tweets. Fico aqui mais uma semana, o que vocês me recomendam, além de visitar a Torre Eiffel?

@xXLouisCarrotsXx Fala alguma coisa em português!

- Eu sinto saudades do Brasil! - falei em português e Mands me olhou estranho. Ela só me via falando português com meus pais, então não era como se ela pudesse entender o que eu estava falando. Traduzi para ela que sorriu mais uma vez.

@IsaLovers1D A TA AÍÍÍÍÍ?? CHAMA ELA!!

Mands Lovers! A Mands já tinha até Fan Clube!

- Mands, tão te chamando aqui! - Falei e ela pulou do sofá como se só estivesse esperando pra ser chamada.
- Oi, galera! E aí? - ela disse animada, se sentando na cama atrás de mim e colocando a cabeça por cima do meu pescoço.

Enquanto ela tagarelava, não pude deixar de notar alguns xingamentos para ela também "Feia", "Gorda", "Vaca", "Tira as mãos do Mathew!"... Nada muito original. Nada que eu já não tivesse lido uma porção de vezes... Peguei-me pensando que todo aquele dilúvio de nomes feios e xingamentos não eram pessoais. Não era eu, Giovanna Donatelli, que elas odiavam. Elas odiavam a namorada do Gustavo, a namorada do Matheus, e olha que a Mands nem estava mais com ele. Olhei para Mands se divertindo ao tentar falar o que quer que fosse em francês e não pude deixar de me sentir grata por ela ter me obrigado a fazer aquilo. Não tinha sido em vão, afinal. Não sei quanto às fãs de 1D, mas eu tinha aprendido muito naquela tarde. Pra finalizar com chave de ouro, meu celular vibrou e eu vi a carinha sorridente de Gustavo.

"E quando é que você quer encontrar seu namorado, por quem você é apaixonada, pra gente NÃO falar do meu trabalho?" - Gustavo x

"O mais rápido possível!" Gi x

Flashback off

Como era de se esperar, o fato de ter me exposto desse jeito me fez muito bem, Gustavo também sentiu um grande orgulho de mim, ficou falando dessa twitcam por algum tempo com as fãs no twitter e isso tirou aquele peso de 'sou apenas sua namorada'. Estávamos agindo como um casal que está junto há anos, e eu nem tinha parado para pensar que, de verdade, fazia muito tempo mesmo que esse relacionamento estava durando. Era uma coisa especial, só nossa. E fico muito feliz em saber que ninguém entende e que na verdade muita gente se incomoda com isso. Lembro uma vez que eu li alguém falando que eu e Gustavo não passamos mais que 48 horas brigados. Pergunto-me como que essa pessoa sabe disso, mas enfim, é a mais pura verdade. Brigamos feio apenas uma vez e no dia seguinte já ficou tudo resolvido. Qual o problema? Tenho mais é que agradecer por não sermos o casal problema, com clichês namorísticos onde ele ia sair pra turnê e me trair ou eu fosse ficar me achando a última garota do mundo por ter sido a escolhida dele, ou ficarmos na melequinha de amor que todo mundo acha bonito. Somos um CASAL que se ama, gostaria que as pessoas entendessem isso e nos deixassem em paz.

Diferente de qualquer outra fã francesa que eu possa ter conhecido, as meninas do hospital eram adoráveis e nos trataram como popstars, sendo que as divas do dia eram elas.

Tudo começou cedo. Às seis horas já estávamos de pé esperando por Bellatrix, Aidan, Tyra e Olivia no saguão do hotel onde estávamos. Sam estava sentado em cima da nossa mala com equipamentos, dormindo parecendo um suricate, mas dormia. Lucas encostado no ombro de Mands e ela o abraçando, ambos também dormindo em pé, e eu com o celular na mão agoniada porque não conseguia falar nem com Gustavo nem com minha mãe desde ontem. Eu precisava de uma palavra de conforto, só uma! Mas ele estava viajando por algum lugar - a agenda dele estava uma loucura, uma hora era Suécia, depois Alemanha, aí já foi parar na Nova Zelândia em questão de dois dias. Próxima parada seria o Japão - e eu não ia conseguir falar com ele pelos próximos dias, o que me deixava pior. Quando eu quase estava ficando mais desesperada, vi os quatro aparecendo. Bells parecia uma modelo da revista Vogue, como que essa criatura ficava linda desse jeito as seis horas da manhã? SÃO SEIS HORAS DA MANHÃ! Não posso falar muito porque, Aidan também não está de todo ruim. Barba por fazer, cabelo todo bagunçado e cheirando a colônia pós-banho, tava bonito.

- Bom dia, equipe - Tyra nos cumprimentou - Como estão?
- Com muito sono - Lucas sonolento respondeu, arrancando risadas matinais e roucas de todos nós - Preciso de cafeína.
- Passaremos pelas melhores cafeteiras parisienses no caminho, Lucas - Olivia falou indo até nós - Fique tranquilo.
- Bom, antes de irmos preciso dar as coordenadas para vocês - Tyra falou - Bells, tome a dianteira.
- Merci - ah, ótimo! Mais francês! - Bonjour.
- Bonjour - respondemos em uníssono, eu com toda má vontade do mundo.
- Bom, até chegarmos ao hospital demora mais ou menos uma hora e meia, depende do trânsito. Por esta razão resolvemos sair bem mais cedo do que o horário comercial parisiense, a possibilidade de chegarmos em uma hora é bem grande - eu podia claramente sentir Lucas babar ao meu lado. A bicha tá virando hétero - Vamos tratar das pacientes de forma normal, a única coisa que vamos usar é a máscara no rosto. Elas não estão com a imunidade muito boa, então todo cuidado ainda é pouco.
- Vamos precisar de luvas ou essas coisas? - perguntei.
- Conversamos com os médicos responsáveis - Aidan começou - Explicamos que nosso trabalho é praticamente todo manual, o uso de luvas pode tirar nossa sensibilidade com as câmeras.
- Entendi - falei. Senti alívio, não gosto de trabalhar com luvas.
- É como se fosse um trabalho normal como outro, a diferença é que as meninas estão carecas vamos fazer os shoots no hospital - ele sorriu.
- Elas podem passar mal durante o ensaio? - ouvi Sam perguntar - Eu já, bom, na minha família eu passei por alguma situações envolvendo câncer, sei que a pessoa fica bem frágil.
- Pode acontecer, Sam - Tyra falou - Mas todo trabalho de vocês será acompanhado por enfermeiras e paramédicos, então qualquer coisa vocês podem e devem pedir a ajuda deles.
- Vocês vão? - perguntei.
- Infelizmente não, mas sei que Aidan e Bells vão ser ótimos professores pra vocês.
- Olivia! - eu pestanejei - Fomos escolhidos por vocês para esse ensaio. Na verdade era pra ser a Semana de Moda, mas enfim... É um trabalho que vai exigir observação de vocês, pelo menos de você que é nossa professora.
- Giovanna? - Amanda me cutucou - Quer parar?
- Não entendo porque vamos confiar em duas pessoas que não conhecemos quando você e a Tyra estão na mesma cidade que nós - bufei.

Eu não ia querer MESMO que essa tal de Bells começasse a me ensinar como fotografar, tá doida? E mesmo o Aidan sendo um lindo cavalheiro irlandês, se ele começasse a dirigir minhas fotos ia ter briga. Olivia e Tyra conhecem o meu trabalho e o do pessoal, por que elas não vão com a gente? Tem como alguém concordar comigo, por favor?

- Giovanna? - Olivia me chamou - Posso conversar com você a sós?
- Se ferrou, tagarela! - Mands disse - Se você sair da equipe, eu te mato por falar demais.
- Cala a boca, Amanda - respirei fundo e fui com Olivia pro lado de fora do hotel, sentindo meus amigos e os dois que não fazem parte da equipe me encararem.
- Ok, eu acho que posso falar que te conheço muito bem pra saber que você não está bem - Olivia começou a falar, cruzando os braços e me encarando - Que foi?
- Como assim? - eu to meio cansada de todo mundo falar que eu sou estranha ou que eu ando estranha, e eu JURO que to me alimentando bem.
- Você anda nervosa, ansiosa, sendo um pouco rude comigo e com os nossos convidados...
- Que eu não entendo o motivo de eles terem sido convidados.
- Giovanna!
- Olivia, é sério! Você nos prometeu uma coisa e quando chegamos aqui nos deparamos com outra, tem noção de como anda meu psicológico? Eu to num país que eu não conheço ninguém, vou fazer um trabalho que eu to cagando de medo com duas pessoas que eu não conheço e uma delas adora se exibir.
- Tá com ciúme?
- Eu não gosto de concorrência.
- Você namora o Gustavo Torres! - ela riu de forma sarcástica - Concorrência é algo que você deveria estar familiar.
- No meu campo de trabalho, eu quis dizer - supirei fundo - Eu não gosto de concorrência, ainda mais uma garota que você coloca na dianteira como...
- Como o que? - ela desafiou - Giovanna, eu te coloco na dianteira de praticamente tudo em sala de aula. Você é nossa melhor aluna e já fui questionada muitas vezes sobre os outros alunos. Existem alunos excelentes, mas eu não vi neles a mesma paixão que eu vi em você a partir do primeiro dia. Todos estão lá porque assumem que fotografia é uma diversão, e não uma arte. Eles não possuem o mesmo brilho que você, e eu generalizo incluindo os seus amigos - engoli a seco - Confio cem por cento em você, quase de forma cega, porque eu vejo muito de mim na sua pessoa. E você deveria confiar mais em mim e nas minhas escolhas, acima de tudo baixar esse seu ego.
- Mas eu...
- Ainda estou falando.

Era a primeira vez que eu recebia uma bronca de Olivia. Tive uma conversa séria com ela e a Tyra uma vez apenas na sala, mas nada se comparava a isso. Eu queria chorar. A única certeza que eu tenho é que sou uma boa profissional, essa conversa com a Olivia está acabando com ela.

- Você é uma excelente profissional - tá, mudei de ideia - Mas você está entrando na fase onde nada pode te derrubar, onde o seu trabalho é sua zona de conforto, como se você não pudesse aprender mais nada de novo.
- Eu nunca pensei isso!
- Claro que já pensou, Giovanna. Não mente pra mim, eu tenho anos de fotografia na sua frente.
- Não é bem isso - eu já estava chorando - Eu...

Eu nem conseguia colocar em palavras o que eu de verdade tava pensando. Se eu assumir pra mim mesma que essa Bellatrix não é concorrência apenas em fotografia, mas em beleza vai soar estranho? Essa menina é maravilhosa, e pelo que eu vi excelente no que faz, como não me sentir ameaçada? Mas... Ameaçada em que?

- Tudo bem - Olivia parecia se dar por vencida - Se você não quer conversar comigo não tem problema, eu só estou fazendo aqui o meu papel de professora e sua orientadora. Mas eu vou te pedir uma coisa - ela se aproximou e encostou o dedo indicador no meu peitoral - Confia em você e no seu trabalho, mas diminui seu ego, se não o tombo vai ser grande. Você ainda tem uma vida pela frente, Giovanna, mas ainda tem muito pra aprender. E pode se aprender com qualquer pessoa, seja ela uma professora como eu, ou uma aluna muito parecida com você, porém francesa - ela suspirou - Não me decepcione.

Assim que me sentei na van fiquei na mesma posição até chegarmos ao hospital. Eu não respirava e muito menos conseguia falar com alguém. Amanda estava bufando ao meu lado, mas eu passei a ignorá-la, colocando meus fones e fingindo que ouvia alguma música, quando na verdade eu só queria abafar o barulho exterior. Encostei minha cabeça na janela e fiquei ali pensando em tudo o que Olivi havia me falado. Então é essa imagem que as pessoas têm de mim? Que sou metida? Suspirei e peguei o celular, mandando a terceira mensagem pro Gustavo nesse dia. Ele não me respondeu... Nenhuma.

"O que você pensou de mim quando me viu aquele dia no London Eye? E na verdade, o que você estava fazendo lá?" - Gi x

Só torci pro celular vibrar.
E ele não vibrou.

- Chegamos - Sam me cutucou na perna, percebendo que minha mente estava bem longe dali - Vai conseguir fazer as fotos?
- Claro que sim, Sam - respondi, tirando os fones - Vamos logo com isso.
- Gi - ele parou na minha frente quando eu me pus de pé e ia sair da van - Eu amo você, e confio que essa equipe não seria nada sem seu talento.
- Sam...
- Eu não sei o que a Olivia te falou, e na verdade não sei quero saber. E sei que você tá meio magoado com o Lucas e comigo porque estamos pagando pau pra Bells, mas você continua sendo nossa número um - ele me deu um selinho rápido - Melhora essa carinha, por nós.
- Sinto saudades do Gustavo - soltei sem querer - Mandei três mensagens pra ele e até agora nada.
- E desde quando você é tão dependente do seu namorado assim? - ele me respondeu daquela forma afetada - Relaxa, mulher. Gustavo tá com a banda e você tá aqui com a "sua banda". Ele vai fazer o trabalho dele e você o seu.
- Prontos, pessoal? - Aidan apareceu na porta da van - Só falta vocês dois.
- Sério? - olhei ao meu redor, como que todo mundo saiu sem eu ver? - Caraca.
- Vamos - Sam de uma de borboleta e pulou pra fora da van, fazendo eu e Aidan rirmos de sua homossexualidade tão aparente.
- Ajuda pra descer? - Aidan estendeu a mão pra mim, sorri e aceitei - Se eu perguntar se está tudo bem você vai ficar brava comigo?
- Vamos combinar que essa pergunta não pode ser feita pra mim nos próximos três dias, tudo bem?
- Combinado - fizemos um high five e rimos - Se prepara pra ter o melhor dia da sua vida.
- Promete?
- Claro - Aidan sorriu.

Os médicos, paramédicos e enfermeiros do Hospital Association Gombault Darnaud já nos esperavam na porta, com toda a educação possível. Olivia e Tyra se despediram do grupo naquele momento e voltaram para a van. Aidan, Sam e Lucas levavam os equipamentos, Bells, eu e Amanda ficávamos na dianteira.

Caminhamos pelo hospital, passando por salas, pegando elevadores e vendo todo tipo de pessoa do mundo. Meu coração só doía e eu apertava o celular dentro do meu casaco, torcendo pra vibrar e receber uma mensagem do Gustavo. Aposto que ele estava de ressaca - de novo - e devia estar dormindo. Mas ele não deveria estar trabalhando? Droga de namorado. Mands ao meu lado parecia ler meus pensamentos, percebi isso quando ela me abraçou pelos ombros e sorriu, dando um beijo de leve em meu rosto. Se fosse outra ocasião eu acho que ia brincar de como ela estava ficando gay, mas nesse momento eu senti como se fosse a prova de carinho que eu precisava. A olhei e sorri de volta, em sinal de agradecimento. Murmurei um 'obrigada, amiga' e foi o que nós duas precisávamos. Vi Bells nos encarar pela tangente e sorrir, talvez ela não fosse tão ruim assim.

- Essa é a lista de pacientes - Aidan nos entregou uma lista com cinco nomes - Cada uma possui um tipo de câncer diferente. Deem uma lida antes de entrarmos, fica mais fácil se familiarizar.
- Ok - respondemos.

E agora vem a pior parte. Pelo menos pra mim.

Nome: Angelique Petit
Idade: 19 anos
Tipo: Linfoma

Nome: Marié Dubblet
Idade: 21 anos
Tipo: Leucemia

Nome: Clair Laboité
Idade: 16 anos
Tipo: Astrocitoma

Nome: Danielle Kebec
Idade: 18 anos
Tipo: Sarcoma

Nome: Hellen George
Idade: 17 anos
Tipo: Carcinoma

- Não conheço nenhum desses, a não ser leucemia - falei com a voz embargada - Meu Deus, elas são muito novas.
- São, sim - Bells respondeu - Não é necessário saber que tipo de câncer que é ou qual a diferença entre um e outro.
- Eu sei que isso vai parecer uma pergunta horrorosa - Mands começou - Me desculpem desde agora, mas alguma delas está em estado terminal?
- Quase todas - Aidan respondeu sério. Sam e Lucas engoliram o choro atrás de mim, fiz o mesmo - É por isso que nosso trabalho hoje é muito importante.
- Elas sabem que estamos aqui ou será uma surpresa?
- Sabem, sim, Lucas - Aidan deu um tapinha em seu ombro - E então, preparados?
- Sim - respiramos fundo.

Colocamos as máscaras e engolimos o choro. Pra mim elas ainda eram cinco garotas que estavam com seus nomes em prontuários médicos, cada uma diagnosticada com um tipo de doença, a mais maldita de todas. Eu só conseguia culpar o universo por estar fazendo isso com meninas que nem chegaram aos vinte e um anos. Não fazia ideia de como elas seriam, se estariam nos esperando de braços abertos ou como se fosse mais uma obrigação da parte delas. Fossem modelos ou não, sei que é complicado, ainda mais em suas condições.

Mas novamente, eu estava completamente errada.
Abrimos a porta e vimos as cinco já vestidas com as melhores roupas que elas tinham. Rindo, os sorrisos mais lindos e as risadas mais gostosas. Brincavam consigo mesmas de quem ia ficar com a peruca de quem, ou quem ia ficar com o cabelo 'Katy Perry'. Estavam maquiadas, eu ainda não sabiam quem era quem, mas qualquer pessoa que entrasse naquele quarto ia ter certeza que ali estavam cinco garotas saudáveis. Elas não aparentavam ter a doença que tinham, confesso que eu me achei mais doente ainda.

Bells passou por nós e foi a cada uma dar um abraço e um beijo, e em uma delas demorou um tempo a mais. Quando se soltaram do abraço percebi que Bells chorava, mas a menina que a abraçava sorria e murmurava alguma coisa que eu não sei o que era, parecia ser francês e soava como se fosse um conforto. Bells sorriu e depois foi falar com as outras. Aidan fez o mesmo, e também parou um tempo a mais com essa menina, supôs que ela devia ser conhecida há mais tempo. Lembrei-me que Aidan tinha uma irmã que estava internada aqui, essa menina deve ser da mesma época. Eu ACHO. Enquanto eles terminavam de falar com as meninas, fomos arrumando os nossos equipamentos, colocando as lentes certas, as câmeras que iríamos usar. Tinha certa dificuldade em respirar com aquela máscara, tinha certa fobia e passava a impressão que as pessoas não fossem ouvir minha voz. Prendi meu cabelo em um coque alto e torci pra ele que não soltasse, nunca fui boa em prender meu cabelo sozinha, sem o auxílio de alguma coisa.

Não demorou muito para que o equipamento estivesse perfeito, com as luzes nos lugares certos e nossas câmeras preparadas. Finalmente, Aidan e Bells chegaram até nós - tudo bem que por dentro eu tava querendo mandar os dois se FODEREM porque não ajudaram em NADA e nós montamos TUDO, espero que eles não queiram se dar ao luxo de usar o que montamos e ainda sairem no lucro - trazendo com eles a menina que eles passaram mais tempo conversando. A menina era branquinha e miúda; usava uma peruca vermelha e amarela que me lembrava do cabelo da Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo (e eu nem posso fazer esse comentário porque eu tenho certeza que eles não conhecem Monteiro Lobato). Na verdade, a menina por si só parecia uma boneca, até vestido amarelo ela usava, igual à Emília.

- Essa é a Clair - Bells disse com a voz embargada - Minha irmã.

Agora tudo fazia sentido. Paulada no meu cérebro por ter julgado a Bells antes de saber do assunto. Idiota, idiota!

- Prazer - foi a única coisa que eu consegui responder. Aidan me encarou sorriu com os olhos, como que dizendo "Viu? Ela tem razões pra ser do jeito que é."
- Prazer é todo e absolutamente meu - Clair respondeu - Você é a namorada do Gustavo Torres, não é? Cara, eu amo One Direction.
- Jura?
- Sim, eu estava ansiosa pra te conhecer, a Amanda também - ela apontou pra Mands, que parecia imóvel - Namorada do Matheus, estou certa?
- A-ham - acho que ela nem ia ter coragem de falar pra Clair que os dois estavam separados.
- Eu fiz uma coisa pra eles, será que vocês podiam entregar?
- Clair, o que nós conversamos sobre isso? - Bells a repreendeu.
- Não, tudo bem - eu falei - O que você fez pra eles?
- Bom - ela parecia animada - Não tem como sairmos do hospital, então eu tive que me virar por aqui mesmo. É bem simples, eu que fiz - ela saltitou pelo quarto, indo até uma gaveta e tirando uma pasta marrom - São desenhos.
- Desenhos? - nosso quarteto falou junto.
- Não ficaram bons como eu queria, eu só... Sei lá, fiz meu melhor - ela entregou a pasta pra mim.
- Vou entregar, pode ficar tranquila - sorri enquanto abria a pasta. Eram os meninos e ela, e os desenhos perfeitos - Meu Deus, Clair!
- Gostou? Acha que eles vão gostar também? - ela parecia apreensiva.
- Eles vão adorar - sorri sentindo meus olhos se encherem de lágrimas - Essa é você com o Dhiego?
- Sim, ele é meu favorito - ela parecia envergonhada. Era um desenho dela sentada no colo de Dhiego com a letra de 'I wish' escrita ao lado - Sei que isso nunca vai acontecer, então achei a música apropriada.
- Dhiego vai surtar quando ver esse desenho - Mands falou - Capaz de pegar o primeiro voo e vir pra cá.
- Você acha que ele faria isso mesmo?
- Estamos falando de Dhiego Lizardo, tudo é possível - Mands respondeu.

Conversamos com as outras meninas, que também eram fãs de One Direction. Todas lindas, atenciosas e cada uma com uma experiência de vida diferente. Nós as ajudamos a se arrumar, colocar as perucas - o que eu pensei que fosse ser algo traumático e se transformou em uma situação cômica - passar maquiagem e escolher as roupas. As fotos seriam depois colocadas em uma exposição no hospital, então teríamos que fazer nosso melhor. Mas com elas, não era nada difícil.

- Podemos colocar uma música do One Direction pra tocar? - Angelique perguntou com uma certa dificuldade em falar inglês - Ficamos mais soltas com música.
- Mas é claro que sim - Aidan respondeu por nós - Meninas, o que sugerem?
- ANOTHER WORLD!
- Hm, posso dar uma outra opção? - me arrisquei a dizer.

Eu tinha em meu celular a versão demo de Live While We're Young, música que nem tinha sido lançada ainda, mas Gustavo me passou no meu primeiro dia aqui na França. Não sei, mas essa música parecia combinar mais com o momento.

- Gustavo me passou a demo de uma música que nem foi lançada ainda.
- O QUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE? - Aidan fez careta quando as meninas gritaram, eu ri porque de certa forma já estava acostumada.
- Não sei se vocês vão querer ouvir, já que é só a demo...
- CLARO QUE SIM!
- ÓBVIO!
- COLOCA LOOOOGO! - Clair estava quase chorando.
- Por que com o fandom de One Direction tem que ser TUDO ao extremo? - Sam disse atrás de mim rindo - Meu Deus, é uma demo.
- Nem queira imaginar se eles, de verdade estivessem aqui - eu sorri - Tem alguma caixa de som para eu ligar meu celular?
- Tem sim, tem sim, tem sim.
- TEM QUE TER!
- Clair, respira - Bells parecia preocupada - Se controla, pelo amor de Deus.
- Bells...
- Aidan, você sabe que ela não pode ficar desse jeito - ela suspirou - Clair, eu to falando com você!
- E eu to falando que tô bem - Clair retrucou - Ne vous inquiétez pas, je ne vais pas mourir maintenant - ela deu um sorriso maroto e Bellatrix ficou pálida. O que foi que ela falou?
- Ni joue avec ce genre de chose, Claire!
- O que elas estão falando? - cutuquei Aidan.
- Clair disse que não ia morrer hoje e Bells falou pra ela nem brincar com isso - ele disse meio rindo - Clair gosta de ameaçar a irmã falando que vai morrer, e Bells retruca dizendo que com essas coisas não se brinca.
- Acho que ela já se acostumou com essa situação, embora eu ache que não há jeito de se acostumar.
- Você aprende a lidar, o que é diferente.
- Achamos a caixa - Danielle apareceu - Cadê o celular?
- Aqui - o tirei de dentro do meu casaco.

No meio da muvuca eu nem percebi que ele tinha vibrado e ali piscava duas mensagens novas. E no visor aparecia uma foto minha e de Gustavo. Danielle ficou mais branca do que ela já é e começou a tremer e chorar. Ótimo, vou causar um piripaque nessas meninas!

- É o Gustavo, é o Gustavo! Giovanna, é o Gustavo!
- Pode ler a mensagem, se você quiser - me arrisquei a dizer, sabia que não ia ter nada de comprometedor.
- QUOI?
- Inglês, Dani, inglês - eu ri.
- Ela perguntou "O QUE?" - Sam traduziu, e eu queria saber desde quando essa biba sabia falar francês.
- Ah sim, é... Pode ler a mensagem.
- E se for pra você? - Clair apareceu abraçando Dani.
- Clair, se está no celular da Giovanna, é porque a mensagem é pra ela - Bells a corrigiu rolando os olhos. Coisa de irmã mais velha.
- Cala a boca, Bellatrix! - Clair disse brava - Pode mesmo, Gi?
- Sim, por favor! Eu to curiosa pra ler a mensagem - sorri.
- Então... - Dani apertou visualizar - "Amor"... AI MEU DEUS ELE TE CHAMA DE AMOR!!!!!
- E eu odeio isso - respondi rindo.
- COMO ASSIM?
- É coisa nossa - dei de ombros.
- CONTINUA COM ESSA MENSAGEM, DANIELLE! - Clair berrou, as outras meninas também se aproximaram.
- Tá, tá... - Dani limpou a garganta - "Amor" ah gente, que fofinho - ela riu - "Me desculpe por não ter respondido antes, as coisas aqui na Alemanhã andam meio loucas". ELES ESTÃO NA ALEMANHÃ?
- Danielle... - agora foi a vez de Aidan falar alguma coisa, eu achei engraçado.
- Je suis désolé - supus que era "me desculpe" - "Tá tudo bem com você? Suas mensagens andam me assustando. Enfim, me liguei quando o shoot acabar no hospital, prefiro falar com você pelo telefone do que por mensagem. Te amo, gênio."

Um coro de 'AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH' da parte das meninas encheu o quarto. Novamente, Aidan fez careta, nós começamos a rir.

- Eles sabem que vocês estão aqui?
- Sabem, sim - foi a vez de Mands responder - Falamos com os meninos sempre que podemos, não é tão fácil como vocês puderam ver pela mensagem, mas fazemos um esforço - Mands suspirou. Ela sentia falta de falar com Matheus.
- Tem mais uma mensagem, não tem? - perguntei.
- Que vocês não vão ler porque isso é uma tremenda falta de educação - Bells falou e as meninas fizeram aquele famoso "bico" quando está manhosa.
- BELLLLSSS!
- Giovanna, a mensagem é sua.
- Podem ler, eu de verdade não me importo - sorri. Nem eu sei o que estava acontecendo comigo.

"Quando voltar, vai pra minha casa. Parece que nossas agendas bateram e eu vou voltar quase junto com você. Conversamos por lá. Me deixe orgulhoso. - Gustavo x"

- Je vais mourir!
- Laissez-moi mourir en paix, s'il vous plaît.
- Où me trouver un Gustavo Torres?
- Pensez-vous retourner à Londres et Gustavo attendre?
- Emmenez-moi!
- Je ne peux pas m'arrêter de pleurer tellement d'amour pour toi.

Uma explosão de comentários em francês e eu perdida no meio dando risada. Sam, Lucas e Aidan traduziam, as meninas falavam que queriam um Gustavo, que iam morrer de amor, essas coisas de fãs. Senti que minha parte com elas estava paga, e olha que elas nem falaram diretamente com ele. Teria que dar um jeito nisso mais tarde.

- Bom, vamos pras fotos? - Aidan falou, pegando a câmera e tirando uma de Clair, que sorria e chorava ao mesmo tempo.
- Aidaaaaan!
- Ficou linda, princesse - ele sorriu.
- Merci.
- Gi, pode colocar a música? - Bells me perguntou.
- Ah, claro - eu sorri pegando minha câmera também. Hora do show.

Hey, girl I'm waiting on you
I'm waiting on you
C'mon and let me sneak you out

And have a celebration, a celebration
The music up the windows down

As meninas fizeram uma fila, como se fossem desfilar em uma passarela. Assim que a música começou, de um jeito cru porque não estava finalizada, elas tremeram e controlaram a emoção. A primeira foi Clair, que pelo que percebi, gostava de se exibir do jeitinho dela. Aidan pediu para fotografá-la, já que ele tinha mais intimidade com ela. Ficamos do lado esquerdo da "passarela imaginária" enquanto Clair desfilava como uma gatinha e Aidan pegava seus melhores ângulos. Bells, pelo que eu podia perceber, não ia participar de nada. Ficou ali na espreita, vendo a irmã e controlando-se para não chorar, mas eu pude ver as lágrimas caindo. Sem ela perceber, bati uma foto sua de um momento vulnerável, que por sinal, ficou linda.

500 Days in LondonWhere stories live. Discover now